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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Os técnicos: Descartes

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Renevaldo foi um técnico memorável que atuou no interior do Paraná na década de 70.
Por conta de sua habilidade nos jogos de carteado, Renevaldo ficou conhecido pela alcunha de Renê Das Cartas, ou Renê Descartes, conforme sua curiosa pronúncia.
Sua recusa em aceitar as verdades preestabelecidas e a maneira racional com que encarava os desafios da profissão ficaram quase tão marcadas quanto a frase que o notabilizou:
- Venço, logo existo.
Seu melhor momento como treinador foi o vivido à frente do Grêmio Cambé, onde ele teve liberdade para aplicar seus métodos inovadores.
Logo no primeiro treino, Descartes disse a seus comandados:
- Minha única certeza é que devemos duvidar de tudo.
Como os jogadores coçassem as cabeças e esticassem seus beiços inferiores, ele resolveu parar a preleção e começar logo o treinamento com bola.
Quando, por exemplo, um meia fazia um passe, ele parava o treino e perguntava:
- Isso era o melhor que você tinha a fazer?
- Acho que sim, professor...
- Lembre-se de que devemos duvidar de tudo.
E obrigava o pobre atleta a fazer novos passes e lançamentos até que, finalmente, encontrasse a melhor solução para o lance.
Os mais antigos riram do sistema, mas o fato é que o Grêmio Cambé começou a se impor e, da décima colocação, chegou à primeira.
O Grêmio Cambé chegou à última rodada do campeonato precisando apenas de um empate para ser campeão. E, melhor que isso, seu adversário seria o desprezível Desportivo Jacarezinho, o saco de pancadas do torneio. O jogo, porém, trouxe surpresas.
Os atletas do Jacarezinho davam chutões para o alto e não se distribuíam ordenadamente em campo. Enfim, jogavam sem disciplina. Isso atrapalhou o racional time de Descartes, e o primeiro tempo terminou com o placar em branco. E em branco continuou por boa parte do segundo.
Porém, quando faltavam poucos instantes para o apito final, uma bola espirrou perto da linha de fundo, e Mula, o ponta inimigo, correu em direção a ela. Nesse instante, o goleiro do Grêmio pensou:
- Ele é um ponta, logo deve cruzar. Além disso, não há ângulo possível para outra jogada, por isso correrei até o meio da área, interceptarei o cruzamento e ligarei rapidamente o contra-ataque.
Talvez ele devesse duvidar de um pensamento tão... cartesiano. Sim, porque Mula não era um jogador muito inteligente. Em vez de cruzar, o que seria a coisa mais lógica a fazer, ele preferiu chutar a gol. Diante do olhar incrédulo de todos, a bola fez uma curva, bateu na trave e foi balançar as redes.
O Grêmio perdeu o campeonato, e Descartes, a credibilidade. Antes que o presidente do clube o descartasse, ele pegou seu boné e disse:
- Perco, logo desisto.

Km 28
Os cinco primeiros colocados do Campeonato Brasileiro conseguiram se afastar do resto do pelotão. Agora eles parecem fazer uma corrida de fundo, uma maratona, onde a qualquer instante um dos cinco pode fugir ou ficar para trás. A diferença é que, em vez de 42 quilômetros, farão 46 partidas. Neste fim de semana teremos uma rodada equilibrada. Todos os líderes enfrentarão times em posições intermediárias. O Cruzeiro terá pela frente o Goiás (31 pontos, mas subindo), São Paulo pega o fraco Vasco (33, mas caindo), o Coritiba luta contra o chato Figueirense (37), e o Internacional encara o imprevisível Corinthians (38). A vantagem é do Santos, o único a jogar em casa. E contra o Flamengo (38), que derrotou em pleno Maracanã no primeiro turno.

E-mail torero@uol.com.br


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