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FUTEBOL
Os técnicos: Descartes
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Renevaldo foi um técnico
memorável que atuou no interior do Paraná na década de 70.
Por conta de sua habilidade nos
jogos de carteado, Renevaldo
ficou conhecido pela alcunha
de Renê Das Cartas, ou Renê Descartes, conforme sua curiosa pronúncia.
Sua recusa em aceitar as verdades preestabelecidas e a maneira
racional com que encarava os desafios da profissão ficaram quase
tão marcadas quanto a frase que
o notabilizou:
- Venço, logo existo.
Seu melhor momento como
treinador foi o vivido à frente do
Grêmio Cambé, onde ele teve liberdade para aplicar seus métodos inovadores.
Logo no primeiro treino, Descartes disse a seus comandados:
- Minha única certeza é que
devemos duvidar de tudo.
Como os jogadores coçassem as
cabeças e esticassem seus beiços
inferiores, ele resolveu parar a
preleção e começar logo o treinamento com bola.
Quando, por exemplo, um meia
fazia um passe, ele parava o treino e perguntava:
- Isso era o melhor que você tinha a fazer?
- Acho que sim, professor...
- Lembre-se de que devemos
duvidar de tudo.
E obrigava o pobre atleta a fazer novos passes e lançamentos
até que, finalmente, encontrasse a
melhor solução para o lance.
Os mais antigos riram do sistema, mas o fato é que o Grêmio
Cambé começou a se impor e, da
décima colocação, chegou à primeira.
O Grêmio Cambé chegou à última rodada do campeonato precisando apenas de um empate para
ser campeão. E, melhor que isso,
seu adversário seria o desprezível
Desportivo Jacarezinho, o saco de
pancadas do torneio. O jogo, porém, trouxe surpresas.
Os atletas do Jacarezinho davam chutões para o alto e não se
distribuíam ordenadamente em
campo. Enfim, jogavam sem disciplina. Isso atrapalhou o racional time de Descartes, e o primeiro tempo terminou com o placar
em branco. E em branco continuou por boa parte do segundo.
Porém, quando faltavam poucos instantes para o apito final,
uma bola espirrou perto da linha
de fundo, e Mula, o ponta inimigo, correu em direção a ela. Nesse
instante, o goleiro do Grêmio pensou:
- Ele é um ponta, logo deve
cruzar. Além disso, não há ângulo
possível para outra jogada, por isso correrei até o meio da área, interceptarei o cruzamento e ligarei
rapidamente o contra-ataque.
Talvez ele devesse duvidar de
um pensamento tão... cartesiano.
Sim, porque Mula não era um jogador muito inteligente. Em vez
de cruzar, o que seria a coisa mais
lógica a fazer, ele preferiu chutar
a gol. Diante do olhar incrédulo
de todos, a bola fez uma curva,
bateu na trave e foi balançar as
redes.
O Grêmio perdeu o campeonato, e Descartes, a credibilidade.
Antes que o presidente do clube o
descartasse, ele pegou seu boné e
disse:
- Perco, logo desisto.
Km 28
Os cinco primeiros colocados
do Campeonato Brasileiro conseguiram se afastar do resto do
pelotão. Agora eles parecem fazer uma corrida de fundo, uma
maratona, onde a qualquer instante um dos cinco pode fugir
ou ficar para trás. A diferença é
que, em vez de 42 quilômetros,
farão 46 partidas. Neste fim de
semana teremos uma rodada
equilibrada. Todos os líderes
enfrentarão times em posições
intermediárias. O Cruzeiro terá
pela frente o Goiás (31 pontos,
mas subindo), São Paulo pega o
fraco Vasco (33, mas caindo), o
Coritiba luta contra o chato Figueirense (37), e o Internacional encara o imprevisível Corinthians (38). A vantagem é do
Santos, o único a jogar em casa.
E contra o Flamengo (38), que
derrotou em pleno Maracanã
no primeiro turno.
E-mail torero@uol.com.br
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