São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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Tem boi na linha

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Evanílson dançou depois de ter cumprido seu papel, a exemplo do que já ocorrera com César Prates ainda nos tempos de Zagallo: a presença do ex-cruzeirense na seleção rendeu US$ 7 milhões!
Em seu lugar, entrou agora Mancini, do Galo, sobre quem, honestamente, não posso falar nada, a não ser que espero que não venha a ter o mesmo destino dos citados acima.
Silvinho está de volta, um lateral-esquerdo que anda fazendo muita falta ao Corinthians e que peca na hora de finalizar. Sua obediência tática falou mais alto que a categoria de Serginho.
Na zaga dançaram Odvan e César. Odvan, com total justiça. César, sem ser devidamente testado. Marinho, do Guarani, no deserto de zagueiros brasileiros, é alguém para ser observado.
Flávio Conceição permanece, no que parece ser um caso de amor eterno (no bom sentido, é claro). Marcos Paulo, pouco testado também, deu lugar a Assunção, o que foi bom. E felizmente Beto deu lugar a Juninho, que retorna pelos próprios pés.
Na frente, Roni permanece. Não é um atacante dos sonhos, mas, sem dúvida, não decepcionou quando entrou. Edílson é incomparavelmente superior, só que, ao que tudo indica, pagará perpetuamente pelas famosas e imprudentes embaixadas, embora Marcos, o ótimo goleiro que saiu de seu gol para ir brigar na meta contrária, tenha sido absolvido. Estranhos critérios.
E Christian, é claro, foi convenientemente substituído por Élber, que tem faro de gol.
Dia 4, em Buenos Aires, e dia 7, em Porto Alegre, diante dos titulares da Argentina, veremos, de fato, o que temos. Desde logo é um bom time, mas com muitos, muitos pontos de interrogação.

O Brasileiro é o mais violento do mundo, e o motivo não é muito difícil de explicar. Além da covardia da arbitragem, há a inconsciência de classe dos atletas.
A mesma desunião que impede atitudes coletivas contra o calendário insano, os gramados assassinos etc., faz com que companheiros de trabalho não respeitem companheiros de trabalho.
O fato de não se reunirem em seus sindicatos exacerba as individualidades e o espírito do cada um por si e o diabo por todos. Dá no que dá.

A tal ponto, aliás, que o jogador Araújo, do Goiás, foi vítima de um acordo entre as agremiações do Clube dos 13 e jogador algum chiou solidariamente.
Ao ganhar seu passe na Justiça, Araújo soube que nenhum clube o contrataria por ele ter cometido o pecado de buscar seus direitos na Justiça do Trabalho.
Por muito menos, na Argentina, num episódio que envolveu jogadores da segunda divisão, os da primeira fizeram greve e pararam o campeonato.
A verdade é que o jogadores brasileiros são como gado. Alguns, vacas premiadas, é incontestável, mas gado. De corte.

O ""Diário do Grande ABC" fez o que fazem os bons jornais: alertado para o fato de que o contrato CBF-Nike já havia sido publicado em janeiro por esta Folha, corrigiu-se perante seus leitores.

Você seria contra a construção de um grande complexo hospitalar em Maceió para atender todo o Norte-Nordeste? Não, né? Mas e se fosse o PC Farias o responsável por angariar os recursos?
É mais ou menos disso que se trata quando se fala da Copa-2006 no Brasil.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

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