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TOSTÃO
Mudança de vida
Nada é mais difícil do que
mudar de residência e de vida.
Estou saindo de um apartamento seguro, cercado de todas
as necessidades imediatas, para morar em uma casa distante, sem esses recursos.
É evidente que existem vantagens nessa troca. Não sou
masoquista, e ainda não apagou em mim a busca de novos
prazeres, mesmo que sejam
uma ilusão e eu me arrependa
mais tarde. Vou morar fora da
cidade, junto de uma
imensa e bela mata,
de um riacho, com
seu leve som musical,
e de pequenos animais. Tudo que sonhei um dia: casa,
natureza, silêncio, livros e companhia de
poucas pessoas queridas. Espero que elas não achem o local
tão longe e que apareçam com
bastante frequência.
Pretendo me ausentar do trabalho na televisão por uns tempos. Há cinco anos, viajo quase
todas as semanas e estou cansado. Talvez, esteja ficando velho. Ao mesmo tempo que o
trabalho na TV me alegra, envaidece e me remunera muito
bem, sinto-me ansioso e tímido
diante das câmeras.
Vou tirar férias dos aeroportos. Estou enjoado da comida
de avião. Nunca consigo abrir
aquelas "marmitinhas" sem
derrubar na roupa. Andei sonhando com as belas aeromoças e com suas instruções de segurança. Se houver qualquer
problema no avião, quem vai
abrir a porta de emergência, já
que ninguém presta atenção
nas instruções?
Não aguento mais dormir em
hotéis, mesmo confortáveis e
sendo bem recebido. Sinto falta
de meu quarto, meus fantasmas e meu travesseiro. Por que
os hotéis não têm travesseiros
mais anatômicos? Já pensei em
viajar com o meu, mas, como
ele é grande, suspeitarão que
tive um trauma de infância.
Quando viajo, não consigo
dispensar bons restaurantes.
São uma tentação, mas preciso
cuidar de minha saúde, tomar
regularmente meu remédio,
emagrecer e andar diariamente pelos verdes caminhos perto
de minha nova casa.
Quero também escrever mais, refletir,
estudar novamente filosofia e psicanálise e
namorar com mais
frequência. Tenho
muitos planos para
pouco tempo e uma
preguiça intermitente,
que não me deixa correr mais
rápido atrás de meus desejos.
Pretendo ainda reler meus
autores preferidos, Rubem
Braga, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Carlos Drummond Andrade, Manoel de
Barros, Adélia Prado e outros,
aproveitando o silêncio e a natureza. Meus filhos me deram
um livro de crônicas do João
Ubaldo Ribeiro, que há muito
tempo não lia, e estou adorando. Eles disseram que é para eu
esquecer minha obsessão pela
Clarice Lispector.
Como é difícil decidir quais
objetos vou levar na mudança!
Quero ser prático, carregar somente aquilo que vou usar,
mas não consigo abandonar
velhos objetos. Todos têm uma
história afetiva.
Tenho medo de gostar da nova vida e não sair de casa. Sou
pouco sociável. Ao contrário do
que falam os jogadores, não estou preparado para essa mudança, mas vou tentar. "Quem
não arrisca, não petisca".
Diferenças
Ronaldinho, do Grêmio, precisa ter muito cuidado, ser bem
orientado, para não cometer os
mesmos erros de seu xará mais
velho.
Ao contrário do outro, ele
precisa conciliar melhor sua vida de atleta profissional com a
de uma estrela. Isso é mais difícil do que dar um passe, um
drible desconcertante, um chute em curva e bater uma falta
com precisão.
Ao contrário do outro, ele
precisa saber que no momento
em que se desconcentrar nos
treinos e jogos e reduzir o tempo de treinamento, seu rendimento vai piorar.
Ao contrário do outro, ele
precisa aprender a dizer não
para inúmeros convites, pessoais e comerciais, não ser tão
dependente dos empresários se
quiser ter vida longa e de qualidade nos gramados.
Ao contrário do outro, não
precisa chamar a imprensa
quando for ajudar os pobres,
comprar uma Ferrari, satisfazer seus sonhos de consumo
-os quais tem todo direito.
Ao contrário do outro, ele
precisa ser um cidadão, preservar sua intimidade, seus namoros, e não ser apenas um
ídolo, uma mercadoria e uma
curiosidade pública. Depois,
não poderá reclamar da falta
de paz.
Ao contrário do outro, não
precisa dar preferência a nenhum órgão de imprensa.
Assim como o outro, ele precisa mostrar que é um excepcional jogador.
Em Ponte Preta 0 x 0 Guarani, os times cometeram 105 faltas, conforme informou o Datafolha. Uma calamidade. A média atual, de 58,4 faltas por partida, é o recorde dos últimos 14 Campeonatos Brasileiros. Grêmio 0 x 0 Vasco -um jogo tão esperado- foi uma triste partida, pobre de futebol, com excessos de faltas e de dura marcação.
Dentro dos critérios de privilegiar jogadores pré-olímpicos para a reserva, gostei da convocação da seleção para os amistosos contra a Argentina. Ficaram algumas dúvidas: Serginho foi punido? Por que Silvinho, e não Athirson, já que o jogador do Flamengo tem idade olímpica? Depois de tantos elogios do treinador, por que Evanílson não foi chamado?
Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras
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