São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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FUTEBOL
Presidente afastado é absolvido após enfraquecimento da situação, abalada por trama de suborno
Escândalo novo abafa anterior na Lusa

MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

O ex-presidente da Lusa Manoel Gonçalves Pacheco, afastado do cargo no início de 1998 por irregularidades nas vendas dos meias Zé Roberto e Rodrigo Fabbri para o Real Madrid, da Espanha, escapou de ser punido pelo Conselho Deliberativo do clube paulistano.
Afastado pelo mesmo Conselho há cerca de um ano e meio, Pacheco teve como forte aliado na sua volta o enfraquecimento do grupo político do presidente Amilcar Casado.
Ex-vice de Pacheco e seu atual desafeto, Casado viu sua força política se estilhaçar em virtude do escândalo de suborno no Campeonato Paulista de 1998, que veio à tona em março deste ano.
As irregularidades em ambos os casos foram comprovadas por documentos publicados com exclusividade pela Folha (leia textos nesta página).
No início da reunião do Conselho, na noite da última terça-feira, foi aprovado o relatório da comissão de ética do clube apontando diversas irregularidades nas vendas de Zé Roberto e Rodrigo à equipe espanhola.
Mas a punição proposta pela comissão, uma suspensão de dez anos, foi rejeitada.
Antes da votação que na prática o absolveu -foi considerado que o afastamento do cargo em janeiro de 1998 fora uma pena suficiente-, Pacheco ainda enfrentou duas votações com penas intermediárias.
O vice-presidente Manuel ""da Lupa" Ferreira propôs cinco anos de pena.
E o atual presidente, Amilcar Casado, propôs dois anos de punição para Pacheco.
A rejeição de todas as propostas significou uma derrota pessoal de Casado e seus auxiliares mais próximos, como Manoel da Lupa e Carlos Alberto da Conceição Lima, presidente do Conselho Deliberativo do clube.
Uma das causas da derrota da Casado na decisão do futuro de Pacheco foi a mudança de lado de boa parte da diretoria.
Entre eles, estão Jerônimo Gomes, vice-presidente de Conselho de Orientação e Fiscalização da Lusa, e principalmente o vice de futebol, Ilídio Lico, primo de Casado e envolvido junto com ele no caso de suborno do Paulista do ano passado.
Segundo testemunhas, Lico fez um forte pronunciamento a favor de Pacheco.
Discurso esse que foi finalizado com a seguinte frase: ""E posso dizer que tive até mais liberdade de ação com o Pacheco do que tenho com o parente", em referência a Casado.
Lico guarda mágoas até hoje por ter sido convencido por Casado e por alguns auxiliares a assumir a culpa da tentativa de suborno do Paulista-98.
Mas quem guarda mágoa de Casado mesmo é Pacheco, que agora está por cima.
""A minha condenação foi política. Quando saí do clube deixei R$ 14 milhões. Se não houvesse esse dinheiro, nada teria acontecido", afirma.
Pacheco não perdeu a chance de alfinetar Casado.
"Em quatro anos, nunca estive nas notícias criminais", alusão ao processo contra Casado e Lico referente ao sumiço dos R$ 130 mil ligados à trama do suborno em um jogo contra a Portuguesa Santista, em março do ano passado.
Pacheco diz que, após 18 meses de afastamento, voltará a frequentar o clube.
""A partir de setembro volto às reuniões. Neste ano, não quero saber de eleição. Mas, no ano que vem, pode ser", declarou o ex-presidente da Lusa.
Mas, se tiver ambições políticas, Pacheco terá que enfrentar não só Casado como a oposição a ele.
""Ele está querendo provocar uma confusão. Ele não foi absolvido. A comissão não provou que ele desviou dinheiro porque só investigou infrações ao estatuto, e houve várias. E o relatório foi aprovado. A não-punição do Pacheco só mostra que a maioria dos conselheiros é despreparada para o cargo", rebateu o ex-presidente Raul Rodrigues, desafeto de Pacheco, rival de Casado e líder do principal bloco de oposição.


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