São Paulo, terça, 22 de setembro de 1998

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FUTEBOL
Técnico admite cansaço por duplo emprego, lamenta pouco tempo para treinar e, resignado, deixa tática de lado
Era Luxemburgo começa com desculpas

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial a São Luís

Quem admira o estilo de trabalho de Luxemburgo pode começar a comemorar. Quem o reprova, no entanto, tem motivos de sobra para entrar em desespero. Afinal o treinador, que estréia amanhã na seleção em amistoso contra a Iugoslávia, em São Luís (MA), pretende se tornar ainda mais radical em sua maneira de agir.
"Se jogador de clube não é igual a jogador de seleção, com o técnico é a mesma coisa. Na seleção a cobrança e a responsabilidade são bem maiores. Se no clube você tem que ser 100% profissional, na seleção tem que ser 110%", afirmou, assim que chegou ao hotel Vila Rica, no centro da cidade, onde a equipe está concentrada.
E, de fato, Luxemburgo diz que já sente a diferença entre dirigir um clube e a seleção. Na primeira entrevista coletiva que deu em São Luís, reconheceu estar cansado e temer que o início de seu trabalho seja considerado ruim. "Quase não temos tempo para treinar, mas sei que é complicado pedir paciência à torcida", afirmou.
Ciente de que uma derrota logo na estréia poderia ser desastrosa, Luxemburgo afirmou que irá apostar na parte técnica, deixando a tática "um pouco de lado".
"Vou apostar na qualidade individual dos jogadores, principalmente nos que já conhecem minha maneira de trabalhar, porque a Iugoslávia é um time de habilidade. Será um jogo aberto, uma tarefa dura logo na estréia."
Devido às dificuldades encontradas, o trabalho de Luxemburgo no Corinthians não passa de 98.
"A pressão é muito grande. No ano que vem, saio do Corinthians de qualquer jeito e me dedico só à seleção. Até dezembro eu aguento os dois, depois não dá."
O treinador preferiu não estipular um tempo para que a seleção desenvolva um bom futebol.
"Não vou dar prazo para vocês, nem para a torcida. Se eu falar que em três ou quatro meses, a seleção vai estar como eu quero, estarei chutando. Meu objetivo é a Copa de 2002 e, antes, a Olimpíada."
Biquíni proibido
Se a chegada da seleção a São Luís não provocou maiores tumultos -cerca de 250 pessoas esperaram-na no aeroporto, a maioria gritando o nome de Marcelinho-, o mesmo não se pode dizer do hotel em que está concentrada.
Por ordens da segurança, mulheres hospedadas no Vila Rica não puderam ficar circulando de biquíni no quarto andar, onde está a seleção -para não distrair os jogadores, segundo a direção do hotel. Nos outros andares não há problemas.
Hoje, porém, o tumulto deve aumentar, pois, pela manhã, são esperadas as delegações da Iugoslávia e do Santos, que fizeram reserva no mesmo hotel do Brasil.
E, para piorar, logo depois chegam também os atletas do Sampaio Corrêa, que na quinta pegam o Santos pela Conmebol.
Pressão por Jackson
Último convocado por Luxemburgo, no lugar de Pedrinho (Vasco), que se contundiu, Jackson viveu momentos de tiete ao viajar para São Luís. O meia do Sport nasceu no Maranhão e pegou um vôo de Recife junto com Rivaldo, que não o conhecia. No avião, Jackson se apresentou ao meia do Barcelona. "Foi uma surpresa e uma honra viajar ao lado dele."
Na saída do aeroporto, torcedores locais pediam sua escalação. A pergunta que Luxemburgo mais escutou foi sobre a entrada de Jackson, nem que seja nos minutos finais. "Não tem sentido", reclamava o treinador. "Eu o convoquei não por ser maranhense, mas por estar jogando bem. Média não sou de fazer."



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