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JUCA KFOURI
Orgia de gols
Se é verdade que o gol está
para o futebol assim como o
orgasmo está para o sexo, eis
que tivemos uma orgia no
fim-de-semana.
Dezoito gols em dois jogos
numa mesma rodada é algo
inédito e irresistível.
E note que foram dezoito
gols marcados por 16 jogadores diferentes. Só mesmo Sandro Gaúcho repetiu a façanha
-e por três vezes!
De resto, cinco corintianos
fizeram os cinco gols do líder,
outro ponte-pretano fez o
quarto gol campineiro, sete
lusos marcaram os sete gols
que fizeram a vergonha do
São Paulo, e dois tricolores
trataram de mitigá-la.
E tome mais cinco do Sport
no Grêmio, mais quatro do
Cruzeiro nos Coxas, outros
tantos do Santos no Mengo
-Violada na Vila!
Consta que Zagallo tenha sido visto andando desnorteado pela Barra da Tijuca, ruminando velhos argumentos
em defesa dos bons costumes
futebolísticos, em nome do
tradicional espírito de competição. "Arrombaram tudo. Isso não é futebol", teria reclamado o antigo treinador.
Já os velhinhos da International Board, que só souberam do escândalo na manhã
da segunda-feira, trataram de
convocar uma reunião extraordinária com um só tema
na pauta: estudar a possibilidade de diminuir o tamanho
das metas ou permitir a escalação de dois goleiros.
Mas preocupados mesmo estão os dirigentes da NBA, que
já querem aumentar a circunferência dos aros para que
Michael Jordan e companhia
não sofram com a concorrência de Viola e seus parceiros
ensandecidos.
Até o sisudo "Financial Times" deu manchete e pôs a
crise financeira mundial para
escanteio. Considerou que 51
gols em 11 jogos é mais do que
uma boa idéia, é uma tendência perigosa que pode inflacionar o esporte pelos quatro
cantos do planeta. "E Marcelinho nem jogou!", estampou
em primeira página o jornal
da Inglaterra, berço do esporte bretão.
Nesses tempos de alta permissividade, parece que o único jeito de impedir que a volúpia brasileira contamine toda
a Terra é promover uma campanha mundial, que dissemine a idéia de que é preciso
honrar a camisinha, vesti-la
com garra para impedir tal
banalização.
Que venham os carrinhos!
Porque, a continuar assim, é
capaz que o povo volte aos
estádios e engravide o mundo,
tranformando-o num imenso
grito de gol.
Que delícia!
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