São Paulo, terça, 22 de setembro de 1998

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JUCA KFOURI
Orgia de gols

Se é verdade que o gol está para o futebol assim como o orgasmo está para o sexo, eis que tivemos uma orgia no fim-de-semana.
Dezoito gols em dois jogos numa mesma rodada é algo inédito e irresistível.
E note que foram dezoito gols marcados por 16 jogadores diferentes. Só mesmo Sandro Gaúcho repetiu a façanha -e por três vezes!
De resto, cinco corintianos fizeram os cinco gols do líder, outro ponte-pretano fez o quarto gol campineiro, sete lusos marcaram os sete gols que fizeram a vergonha do São Paulo, e dois tricolores trataram de mitigá-la.
E tome mais cinco do Sport no Grêmio, mais quatro do Cruzeiro nos Coxas, outros tantos do Santos no Mengo -Violada na Vila!
Consta que Zagallo tenha sido visto andando desnorteado pela Barra da Tijuca, ruminando velhos argumentos em defesa dos bons costumes futebolísticos, em nome do tradicional espírito de competição. "Arrombaram tudo. Isso não é futebol", teria reclamado o antigo treinador.
Já os velhinhos da International Board, que só souberam do escândalo na manhã da segunda-feira, trataram de convocar uma reunião extraordinária com um só tema na pauta: estudar a possibilidade de diminuir o tamanho das metas ou permitir a escalação de dois goleiros.
Mas preocupados mesmo estão os dirigentes da NBA, que já querem aumentar a circunferência dos aros para que Michael Jordan e companhia não sofram com a concorrência de Viola e seus parceiros ensandecidos.
Até o sisudo "Financial Times" deu manchete e pôs a crise financeira mundial para escanteio. Considerou que 51 gols em 11 jogos é mais do que uma boa idéia, é uma tendência perigosa que pode inflacionar o esporte pelos quatro cantos do planeta. "E Marcelinho nem jogou!", estampou em primeira página o jornal da Inglaterra, berço do esporte bretão.
Nesses tempos de alta permissividade, parece que o único jeito de impedir que a volúpia brasileira contamine toda a Terra é promover uma campanha mundial, que dissemine a idéia de que é preciso honrar a camisinha, vesti-la com garra para impedir tal banalização.
Que venham os carrinhos!
Porque, a continuar assim, é capaz que o povo volte aos estádios e engravide o mundo, tranformando-o num imenso grito de gol.
Que delícia!



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