São Paulo, terça, 22 de setembro de 1998

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Imprevistos ajudam recordista da maratona

Associated Press
O brasileiro Ronaldo da Costa, recordista mundial da maratona, posa ao lado de corredora queniana


RODRIGO BERTOLOTTO
da Reportagem Local

O atleta mineiro Ronaldo da Costa não queria correr a Maratona de Berlim, não ia usar o dilatador nasal, planejava uma prova com ritmo constante e viajaria ontem para Zurique, Suíça, para o Mundial de Meia-Maratona do próximo domingo.
Tudo, porém, foi diferente. Ontem, o novo recordista da maratona (cumpriu os 42,195 km da prova em 2h06min05s) permaneceu em Berlim para atender os compromissos de vencedor.
Para relaxar, ainda correu duas vezes, "meia horinha só para manter a forma". Na noite anterior, comemorou seu feito em uma boate da capital alemã.
"Não consegui dormir até agora. Não sou tão doido de pensar em maratona até o ano que vem", disse ontem à noite.
Segundo Ronaldo, ele queria disputar a Maratona de Chicago (EUA), e seu técnico, Carlos Alberto Cavalheiro, teve de convencê-lo a correr na Alemanha.
"Em Berlim, a temperatura, a falta de vento e o percurso plano ajudam. E ainda não há a pressão psicológica de correr ao lado de grandes nomes do esporte", afirmou Cavalheiro.
Mas o desempenho de seu pupilo acabou surpreendendo. "Ele foi mais rápido na segunda metade da prova, quando muitos cansam, que na primeira parte. É fenomenal", disse.
Isso aconteceu porque os "coelhos" (atletas contratados para ditar o ritmo até o meio da competição) correram abaixo do ritmo previsto pelo brasileiro, que teve de se manter atrás deles.
Na sequência, o corredor teve de acelerar. Quando seu empresário, o colombiano Luis Posso, o avisou que poderia quebrar o recorde, Ronaldo acelerou mais ainda -saindo da previsão de manter um ritmo durante toda a prova.
Ronaldo ainda contou com outra ajuda imprevista: um dilatador nasal, adesivo colocado no nariz que aumenta a aspiração.
"Um colega belga tinha um sobrando e me convidou. Eu gostei", disse o brasileiro, que em sua preparação incluiu uma nutricionista, uma psicóloga e vários testes físicos feitos no Rio.
A Confederação Brasileira de Atletismo pretende fazer uma homenagem para o atleta quando ele chegar ao Rio, no próximo dia 29.
Segundo seu presidente, Roberto Gesta, o recorde mundial vai ajudar no contrato com o patrocinador, a empresa de telecomunicações Telenorte-Leste, que desembolsará R$ 3 milhões.
"O acerto vai até dezembro de 1999, mas vamos precisar do apoio para o ano da Olimpíada de Sydney", afirmou Gesta.
Para Ronaldo, o recorde também veio "na hora certa". "Precisava um resultado expressivo, afinal, estou negociando contratos". A empresa Nike, sua antiga patrocinadora, disputa o atleta com a Fila e a Adidas.
Ronaldo começou a se destacar no cenário depois de sua vitória na São Silvestre de 1994.
Ontem, ele ligou para a família em Descoberto (MG). "Eles estão soltando foguete até agora." Ele afirmou ainda que pretende gastar o dinheiro do prêmio (US$ 83 mil) para construir um casa.


Colaborou Silvia Bittencourt, de Berlim



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