São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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FUTEBOL
Brasil também escalou jogador irregular em Mundial juvenil

Niels Andreas/Folha Imagem
Além de Sandro Hiroshi (foto), o Brasil utilizou outro jogador com idade irregular em torneio internacional



Fraude em campeonato de 1995 prova que o caso de Sandro Hiroshi não é isolado nos registros da CBF


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
PAULO COBOS
da Reportagem Local

O atacante Sandro Hiroshi não foi o único jogador brasileiro a disputar de forma fraudulenta uma competição oficial pela seleção nacional de futebol.
Em 1995, a equipe juvenil participou de um Campeonato Mundial também com um atleta em situação irregular: o zagueiro Bell, quase dois anos mais velho do que a idade permitida (17 anos).
Por envolver diretamente a Fifa, entidade que controla o futebol internacional, este caso é ainda mais grave do que o do são-paulino Hiroshi, que jogou o Sul-Americano sub-17 em 1997 com 18 anos, conforme a Folha revelou na edição de terça-feira.
A aparição de uma segunda fraude indica que a prática de falsificação de documentos para adulterar a idade de jogadores (os chamados "gatos", na gíria do futebol) pode estar disseminada pelo Brasil e influenciando as campanhas das seleções amadoras.
O caso Bell aconteceu em 1995, no Equador. Naquele Mundial, a equipe nacional chegou à final, em que foi derrotada por Gana.
O zagueiro, que atualmente joga pelo Botafogo de Ribeirão Preto, foi um dos destaques do time. Ele participou de cinco das seis partidas da campanha. Contra o Canadá, marcou um dos gols da vitória por 2 a 0.
Aquela edição do Mundial aceitava somente jogadores nascidos a partir de 1º de janeiro de 1978. Bell foi inscrito com documentos que atestavam seu nascimento em 28 de novembro de 1979.
Mas o zagueiro, cujo nome é Leonardo Roza Ribeiro, nasceu exatamente três anos antes.
A Folha conseguiu uma via da certidão de nascimento do jogador no Cartório de Registro Civil do bairro da Aclimação, em São Paulo. O documento data de 28 de novembro de 1976.
A nova revelação complica a situação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), responsável pela seleção.
Ao contrário da primeira fraude, em que a Fifa espera apuração da Confederação Sul-Americana ou da CBF, o caso Bell deve ir diretamente à comissão de assuntos legais da entidade mundial, que possui fama de ser mais rigorosa.
Por usar quatro "gatos" nas eliminatórias do Mundial sub-19, em 1988, o México foi suspenso por dois anos das competições da Fifa. O país não pôde disputar nem a Olimpíada de Seul (1988), nem a Copa da Itália (1990).
Pelo paralelismo, o Brasil está ameaçado de ficar de fora da Olimpíada de Sydney (2000) e da Copa do Japão/Coréia (2002).
Se a situação de Hiroshi já mostrava indícios de negligência, pois a entidade sabia do problema de idade há pelo menos quatro meses, o caso de Bell é ainda pior para a imagem da CBF.
Depois de disputar o Mundial equatoriano com idade adulterada, Bell voltou a atuar por times brasileiros, em competições nacionais e estaduais, com sua idade verdadeira, sem que a entidade que comanda o futebol brasileiro tenha tomado providências.
Esse fato evidencia que a CBF, no mínimo, não tem controle sobre a questão da idade dos jogadores. O aparecimento de documentos com idade adulterada mostra que a CBF, ou não verifica a validade dos documentos dos jogadores que jogam por suas seleções de base, ou é incompetente nessa ação.

A carreira
Bell começou sua carreira no Guarani. Era nesse clube que atuava quando foi convocado para o Mundial de 1995. Ele se profissionalizou ali e até disputou o Campeonato Brasileiro de 1996.
Procurado pela Folha, dirigentes do time de Campinas disseram que receberam de Bell a certidão com data de nascimento de 1979. Mas o clube se recusou ontem a fornecer uma cópia do documento que tem em seu poder.
De acordo com o Departamento de Futebol Amador do Guarani, a correção da data de nascimento teria sido feita pela Internacional de Limeira, também do interior de São Paulo. Mas um diretor da equipe de Limeira afirma que o zagueiro nunca esteve registrado em seu quadro profissional.
Em 1997, já atuando pelo Atlético-PR, Bell foi inscrito no Campeonato Brasileiro daquele ano com a papelada regularizada.
Como Bell mudou de Estado, as alterações na documentação do atleta tiveram que passar pelo Departamento de Registros da CBF, mas a entidade nunca se manifestou publicamente sobre o caso.
O Botafogo-SP confirmou ontem que o atleta está inscrito no Campeonato Brasileiro deste ano como tendo nascido em 1976.

Indisciplina
A Folha tentou falar com o zagueiro Bell, por telefone, no clube e na casa dele, em Ribeirão Preto, mas ele não havia sido localizado até o fechamento desta edição.
Segundo funcionários do clube, Bell estava treinando separado dos demais profissionais em uma cidade próxima a Ribeirão Preto.
O motivo: ele é o jogador mais indisciplinado do Brasileiro-99 -foi expulso três vezes em apenas dez jogos- e, suspenso pela CBF, acabou desentendendo-se com a diretoria do time.


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