|
Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Brasil também escalou jogador irregular em Mundial juvenil
Niels Andreas/Folha Imagem
|
Além de Sandro Hiroshi (foto), o Brasil utilizou outro jogador com idade irregular em torneio internacional |
Fraude em campeonato de 1995 prova que o caso de Sandro Hiroshi não é isolado nos registros da CBF
|
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
PAULO COBOS
da Reportagem Local
O atacante Sandro Hiroshi não
foi o único jogador brasileiro a
disputar de forma fraudulenta
uma competição oficial pela seleção nacional de futebol.
Em 1995, a equipe juvenil participou de um Campeonato Mundial também com um atleta em situação irregular: o zagueiro Bell,
quase dois anos mais velho do
que a idade permitida (17 anos).
Por envolver diretamente a Fifa,
entidade que controla o futebol
internacional, este caso é ainda
mais grave do que o do são-paulino Hiroshi, que jogou o Sul-Americano sub-17 em 1997 com 18
anos, conforme a Folha revelou
na edição de terça-feira.
A aparição de uma segunda
fraude indica que a prática de falsificação de documentos para
adulterar a idade de jogadores (os
chamados "gatos", na gíria do futebol) pode estar disseminada pelo Brasil e influenciando as campanhas das seleções amadoras.
O caso Bell aconteceu em 1995,
no Equador. Naquele Mundial, a
equipe nacional chegou à final,
em que foi derrotada por Gana.
O zagueiro, que atualmente joga
pelo Botafogo de Ribeirão Preto,
foi um dos destaques do time. Ele
participou de cinco das seis partidas da campanha. Contra o Canadá, marcou um dos gols da vitória
por 2 a 0.
Aquela edição do Mundial aceitava somente jogadores nascidos
a partir de 1º de janeiro de 1978.
Bell foi inscrito com documentos
que atestavam seu nascimento
em 28 de novembro de 1979.
Mas o zagueiro, cujo nome é
Leonardo Roza Ribeiro, nasceu
exatamente três anos antes.
A Folha conseguiu uma via da
certidão de nascimento do jogador no Cartório de Registro Civil
do bairro da Aclimação, em São
Paulo. O documento data de 28 de
novembro de 1976.
A nova revelação complica a situação da CBF (Confederação
Brasileira de Futebol), responsável pela seleção.
Ao contrário da primeira fraude, em que a Fifa espera apuração
da Confederação Sul-Americana
ou da CBF, o caso Bell deve ir diretamente à comissão de assuntos
legais da entidade mundial, que
possui fama de ser mais rigorosa.
Por usar quatro "gatos" nas eliminatórias do Mundial sub-19,
em 1988, o México foi suspenso
por dois anos das competições da
Fifa. O país não pôde disputar
nem a Olimpíada de Seul (1988),
nem a Copa da Itália (1990).
Pelo paralelismo, o Brasil está
ameaçado de ficar de fora da
Olimpíada de Sydney (2000) e da
Copa do Japão/Coréia (2002).
Se a situação de Hiroshi já mostrava indícios de negligência, pois
a entidade sabia do problema de
idade há pelo menos quatro meses, o caso de Bell é ainda pior para a imagem da CBF.
Depois de disputar o Mundial
equatoriano com idade adulterada, Bell voltou a atuar por times
brasileiros, em competições nacionais e estaduais, com sua idade
verdadeira, sem que a entidade
que comanda o futebol brasileiro
tenha tomado providências.
Esse fato evidencia que a CBF,
no mínimo, não tem controle sobre a questão da idade dos jogadores. O aparecimento de documentos com idade adulterada
mostra que a CBF, ou não verifica
a validade dos documentos dos
jogadores que jogam por suas seleções de base, ou é incompetente
nessa ação.
A carreira
Bell começou sua carreira no
Guarani. Era nesse clube que
atuava quando foi convocado para o Mundial de 1995. Ele se profissionalizou ali e até disputou o
Campeonato Brasileiro de 1996.
Procurado pela Folha, dirigentes do time de Campinas disseram
que receberam de Bell a certidão
com data de nascimento de 1979.
Mas o clube se recusou ontem a
fornecer uma cópia do documento que tem em seu poder.
De acordo com o Departamento de Futebol Amador do Guarani, a correção da data de nascimento teria sido feita pela Internacional de Limeira, também do
interior de São Paulo. Mas um diretor da equipe de Limeira afirma
que o zagueiro nunca esteve registrado em seu quadro profissional.
Em 1997, já atuando pelo Atlético-PR, Bell foi inscrito no Campeonato Brasileiro daquele ano
com a papelada regularizada.
Como Bell mudou de Estado, as
alterações na documentação do
atleta tiveram que passar pelo Departamento de Registros da CBF,
mas a entidade nunca se manifestou publicamente sobre o caso.
O Botafogo-SP confirmou ontem que o atleta está inscrito no
Campeonato Brasileiro deste ano
como tendo nascido em 1976.
Indisciplina
A Folha tentou falar com o zagueiro Bell, por telefone, no clube
e na casa dele, em Ribeirão Preto,
mas ele não havia sido localizado
até o fechamento desta edição.
Segundo funcionários do clube,
Bell estava treinando separado
dos demais profissionais em uma
cidade próxima a Ribeirão Preto.
O motivo: ele é o jogador mais
indisciplinado do Brasileiro-99
-foi expulso três vezes em apenas dez jogos- e, suspenso pela
CBF, acabou desentendendo-se
com a diretoria do time.
Próximo Texto: FPF procura apressar o caso Hiroshi Índice
|