São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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FUTEBOL

Player manager

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Wanderley Luxemburgo assumiu a seleção brasileira, escrevi logo na primeira coluna seu pobre currículo internacional, sendo crítico único em meio aos tantos elogios que ele recebeu no início de sua gestão.
Na coluna de hoje, também farei questionamento negativo sobre Leão, o novo técnico do Brasil, mas estou certo de que a crítica ao ex-goleiro não é algo pioneiro.
Após tantas renúncias ao cargo de treinador da seleção, algo que os estrangeiros até agora não entendem, a CBF içou Leão. Não era a primeira nem a segunda nem a terceira e nem sei qual opção ele era. Está claro apenas que a escolha foi fruto de um momento conturbado. Até aí nada de novo.
O currículo de jogador de Leão é muito mais qualificado que o seu currículo de técnico. Não que isso o descredencie, mas, ao analisarmos o que tem acontecido com os profissionais do tipo pelo mundo, o futuro do novo treinador da seleção é, no mínimo, problemático.
Dino Zoff na Itália, Kevin Keegan na Inglaterra, Frank Rijkaard na Holanda, Daniel Passarella na Argentina, Rudi Völler na Alemanha. Esses são alguns exemplos de grandes jogadores, muitos inclusive da mesma geração de Leão, que foram guindados ao comando de suas seleções nacionais e, por uma razão ou por outra, não lhes foi permitido ter boa sequência de trabalho.
Assim como Leão, todos assumiram (sem querer) com a marca de jogador, que nunca conseguiram perder. Alguns não incorporam bem a face de treinador e outros simplesmente não conseguem fazer o grande público desassociar suas imagens daquela construída na época de atleta.
A ligação forte e próxima com os jogadores, vista sempre como uma vantagem para esses profissionais, nem sempre evita problemas. Se sobra tato em campo, às vezes falta com os dirigentes, com os jornalistas ou mesmo com os torcedores (o lado jogador do técnico acaba falando mais alto).
Beckenbauer e Cruyff foram os que mais furaram o ditado de que grandes jogadores não dão grandes técnicos. Os dois, porém, figuram entre os mais inteligentes e diplomáticos jogadores de todos os tempos, muito habituados com os holofotes, a exposição máxima.
Nas Copas do Mundo contemporâneas, exceção feita a Beckenbauer-1990, os técnicos consagrados estão mais para a teoria do que para a prática. Isso vai desde o filósofo Rinus Michels, passa pelo falastrão Menotti, o realista Bearzot e o pouco compreensível Bilardo, indo até o estudioso Parreira e o pensador Jacquet.
No Brasil, os técnicos que mais têm obtido sucesso são ex-jogadores medianos ou mesmo "grossos". Luxemburgo, Scolari, Culpi e tantos outros quase nada significam para as pessoas como atletas hoje. São mais técnicos de futebol que qualquer outra coisa.
Leão está bem longe de ser um "player manager" no estilo inglês, como foram com relativo sucesso Gullit e Vialli -os dois craques de fato eram grandes jogadores e técnicos simultaneamente.
Mas o ex-goleiro, engravatado ou não, é muito mais personagem do "Gol - o Grande Momento" do que do "Super Técnico".
Na prática, Leão é expert quando o assunto é Copa do Mundo. Na teoria, vamos ver agora.

Racismo?
O zagueiro Roque Júnior recebeu nota 6 do jornal ""Corriere della Sera" pela sua atuação na derrota do Milan por 2 a 1 para o Bologna. Para o jornal, ele jogou com dignidade numa confusa defesa. Já para a "Gazzetta dello Sport", ele mereceu nota 4. Foi ridicularizado, visto como "terrível", como se não soubesse tocar na bola. Depois, é comparado a N'Gotty, outro negro estrangeiro que passou pelo time. João Bittar, editor de fotografia da Folha e seguidor do futebol europeu, me alertou para a cobertura da imprensa italiana, que apóia a iniciativa do treinador Tardelli de dispensar outro selecionável, o volante Vampeta, da Internazionale.

Racismo!
Mihajlovic chamou Vieira de "negro de merda" em meio ao Lazio x Arsenal. Até agora, ficou por isso mesmo.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata


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