São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PARAOLIMPÍADA

Tenório repete Atlanta-96 em Sydney e iguala-se a Adhemar Ferreira da Silva com dois ouros seguidos

Judoca ganha bi e traz 1º ouro para o Brasil na Austrália

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Ele fez Sydney conhecer o hino nacional brasileiro.
Foi com esse espírito que o Comitê Paraolímpico Brasileiro comemorou a medalha de ouro conquistada pelo judoca cego Antônio Tenório da Silva, 31, que já havia sido campeão na Paraolimpíada de Atlanta-96.
Tenório chegou ao topo do pódio após vencer suas três lutas na categoria médio (até 90 kg) por ippon (o golpe perfeito). O bi de Tenório foi comparado ao feito de Adhemar Ferreira da Silva pelo chefe da delegação brasileira, Alberto Martins da Costa.
Adhemar foi medalha de ouro no salto triplo nos Jogos de Helsinque-52 e Melbourne-56.
Tenório afirma que, da mesma maneira que Adhemar, ele também espera servir de referência no esporte brasileiro: "Tanto nós como os olímpicos derramamos o mesmo suor para chegar à medalha. O hino que ouvimos e a bandeira que sobe são os mesmos."
A primeira luta de Tenório foi com o francês Guillaume David.
O adversário começou vencendo. Conseguiu um yuko (segunda graduação na escala de pontos) com 1min15s de luta. Tenório empatou faltando 2min58s e, 48s depois, conseguiu um ippon.
"A primeira luta foi a mais difícil. Não existe atleta que não sinta frio na barriga antes da estréia."
O segundo confronto do brasileiro foi contra o sul-coreano Yu-Sung An. Mais uma vez Tenório iniciou em desvantagem.
Foi penalizado pelo árbitro com um shidô (a advertência mais leve) por falta de combatividade, mas menos de 20 segundos depois, definiu a luta.
A decisão do ouro aconteceu contra o norte-americano Brett Lewis. Em seu primeiro golpe, Tenório conseguiu um yuko.
Com menos de um minuto de luta, Tenório conseguiu, com teguruma (golpe em que pega o adversário pela perna e o arremessa), um ippon. Dentro do tatame, a comemoração foi discreta. Mas logo que deixou a área de luta, Tenório deu um longo abraço no técnico Fernando Cruz.
"A alegria foi imensa, mas é preciso manter a hierarquia dentro do ambiente e cumprimentar o adversário", disse o judoca.
Na cerimônia de premiação, Tenório foi anunciado, mas ficou parado atrás do lugar reservado para o campeão. Foi necessário que um membro da organização o conduzisse para o pódio.
Após a execução do hino nacional, vários torcedores brasileiros carregaram Tenório nos ombros para uma volta olímpica improvisada. No meio do caminho, porém, a comitiva parou para que Tenório pudesse cumprimentar seus colegas da seleção de judô.
Tenório, que começou a praticar aos 8 anos, em São Bernardo do Campo, perdeu a visão do olho esquerdo em uma brincadeira com estilingue, aos 9 anos.
Dez anos depois, uma infecção alérgica provocou o deslocamento da retina e Tenório perdeu a visão do olho direito.
Pelo ouro, Tenório vai receber US$ 500 do CPB, valor que o judoca considerou "irrisório".

O jornalista Fernando Itokazu viaja a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro

Texto Anterior: Futebol - Rodrigo Bueno: Player manager
Próximo Texto: Silva, reclassificado, fica com a prata
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.