São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2001

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FUTEBOL

Talento e organização

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Para sustentar uma boa campanha num campeonato de longa duração, como o Brasileiro, um time precisa contar com talento e organização.
Apesar dos tropeços nas duas rodadas anteriores, o Atlético-MG tem sido o clube mais constante nesses dois quesitos.
Ontem, o time, embora se ressentindo da saída precoce de Marques (por contusão), foi mais organizado e objetivo que o Flamengo e mostrou, outra vez, um poder de recuperação fantástico. Sofreu o empate aos 44min e ainda teve cabeça fria para voltar a marcar, três minutos depois.
O Flamengo, que volta a se aproximar da zona de rebaixamento, esboçou uma recuperação tardia no torneio.
O time tem talento em profusão: Edílson, Petkovic, Reinaldo, Beto (que ontem também saiu machucado), Vampeta, Roma, Juan. Falta-lhe organização.
Por quê? Talvez porque a saída de Leandro Ávila e Gamarra tenha desarticulado o sistema defensivo rubro-negro.
Talvez porque Vampeta e Beto sejam demasiado voluntariosos e "peladeiros". Talvez porque a coesão da equipe esteja minada pelas rixas internas.
Provavelmente, por todas essas coisas juntas.
Já o Atlético-MG possui um meio-campo ao mesmo tempo talentoso e entrosado, o que permite ao time adaptar-se às circunstâncias da partida e manter o volume de jogo.
Os articuladores da ligação com o ataque são Ramon e Valdo. Contando com a segurança de Gilberto Silva -um cabeça-de-área que não é cabeça-de-bagre-, eles ditam o ritmo e o desenho do jogo atleticano. Tanto faz que o quarto vértice seja Alexandre, Cleisson ou Djair.
Com essa armação, o Atlético-MG pode ocasionalmente até suportar a ausência de seu grande astro, Marques (como na partida de ontem), assim como vinha suportando a fase de vacas magras do artilheiro Guilherme, que ontem voltou a marcar depois de nove jogos de jejum.
Por tudo isso, o Atlético, salvo algum acidente de percurso, é um dos mais sérios candidatos ao título do Brasileiro.
Entre os "grandes" paulistas (São Caetano à parte), neste momento o que me parece mais bem servido de talento e organização é o Santos, a despeito de ter caído fora da zona de classificação. Não por acaso, seu técnico, Cabralzinho, é o único que não está sendo questionado pela torcida.
O Palmeiras, apesar de bem colocado, depende demais que Pedrinho e Lopes estejam bem. Se um dos dois falha -o que acontece com frequência, sobretudo com Lopes-, o time fica embotado e previsível.
O São Paulo dispõe de talento, sem dúvida. França, Kaká, Leonardo, Luís Fabiano e, agora, Dill, são jogadores versáteis e de qualidade, mas Nelsinho não consegue dar consistência defensiva à equipe.
Além disso, os jogadores são-paulinos, por conta das dissensões internas e das mudanças frequentes de escalação, parecem se ressentir da falta de um leme seguro.
Deixei de propósito o Corinthians para o fim.
Desfigurado por uma desastrosa política de contratações e por um técnico que não sabe se é "manager" ou estrategista, o alvinegro padece hoje de falta de talento (as exceções são Ricardinho, Kléber e Luizão) e de organização. É uma triste sombra do esquadrão de dois anos atrás.


O "profeta" Eurico
Quando o Vasco bateu o São Caetano na controvertida final da Copa JH, há dez meses, Eurico Miranda menosprezou o time do ABC: "Nunca mais eles vão ter a oportunidade de jogar contra nós". Anteontem o Azulão voltou a São Januário, ganhou de virada e disparou na liderança no Brasileiro. A velha cartolagem perdeu o bonde da história e ainda não percebeu.

Lances para gravar
Entre os gols do fim de semana que eu vi, os mais bonitos foram o do São Paulo (passe de calcanhar de Kaká para a conclusão de França) e o segundo do Grêmio, de Cláudio Pitbull, que meteu de virada no ângulo. No Atlético 2 x 1 Flamengo, a jogada mais bonita não resultou em gol: Edílson deu duas meias-luas seguidas nos adversários e cruzou. Petkovic pegou de voleio, mas a bola bateu num zagueiro e saiu.
E-mail jgcouto@uol.com.br



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