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FUTEBOL
Talento e organização
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Para sustentar uma boa
campanha num campeonato
de longa duração, como o Brasileiro, um time precisa contar com
talento e organização.
Apesar dos tropeços nas duas
rodadas anteriores, o Atlético-MG tem sido o clube mais constante nesses dois quesitos.
Ontem, o time, embora se ressentindo da saída precoce de
Marques (por contusão), foi mais
organizado e objetivo que o Flamengo e mostrou, outra vez, um
poder de recuperação fantástico.
Sofreu o empate aos 44min e ainda teve cabeça fria para voltar a
marcar, três minutos depois.
O Flamengo, que volta a se
aproximar da zona de rebaixamento, esboçou uma recuperação
tardia no torneio.
O time tem talento em profusão:
Edílson, Petkovic, Reinaldo, Beto
(que ontem também saiu machucado), Vampeta, Roma, Juan.
Falta-lhe organização.
Por quê? Talvez porque a saída
de Leandro Ávila e Gamarra tenha desarticulado o sistema defensivo rubro-negro.
Talvez porque Vampeta e Beto
sejam demasiado voluntariosos e
"peladeiros". Talvez porque a
coesão da equipe esteja minada
pelas rixas internas.
Provavelmente, por todas essas
coisas juntas.
Já o Atlético-MG possui um
meio-campo ao mesmo tempo talentoso e entrosado, o que permite
ao time adaptar-se às circunstâncias da partida e manter o volume de jogo.
Os articuladores da ligação com
o ataque são Ramon e Valdo.
Contando com a segurança de
Gilberto Silva -um cabeça-de-área que não é cabeça-de-bagre-, eles ditam o ritmo e o desenho do jogo atleticano. Tanto faz
que o quarto vértice seja Alexandre, Cleisson ou Djair.
Com essa armação, o Atlético-MG pode ocasionalmente até suportar a ausência de seu grande
astro, Marques (como na partida
de ontem), assim como vinha suportando a fase de vacas magras
do artilheiro Guilherme, que ontem voltou a marcar depois de
nove jogos de jejum.
Por tudo isso, o Atlético, salvo
algum acidente de percurso, é um
dos mais sérios candidatos ao título do Brasileiro.
Entre os "grandes" paulistas
(São Caetano à parte), neste momento o que me parece mais bem
servido de talento e organização é
o Santos, a despeito de ter caído
fora da zona de classificação. Não
por acaso, seu técnico, Cabralzinho, é o único que não está sendo
questionado pela torcida.
O Palmeiras, apesar de bem colocado, depende demais que Pedrinho e Lopes estejam bem. Se
um dos dois falha -o que acontece com frequência, sobretudo
com Lopes-, o time fica embotado e previsível.
O São Paulo dispõe de talento,
sem dúvida. França, Kaká, Leonardo, Luís Fabiano e, agora,
Dill, são jogadores versáteis e de
qualidade, mas Nelsinho não
consegue dar consistência defensiva à equipe.
Além disso, os jogadores são-paulinos, por conta das dissensões
internas e das mudanças frequentes de escalação, parecem se ressentir da falta de um leme seguro.
Deixei de propósito o Corinthians para o fim.
Desfigurado por uma desastrosa política de contratações e por
um técnico que não sabe se é
"manager" ou estrategista, o alvinegro padece hoje de falta de talento (as exceções são Ricardinho,
Kléber e Luizão) e de organização. É uma triste sombra do esquadrão de dois anos atrás.
O "profeta" Eurico
Quando o Vasco bateu o São
Caetano na controvertida final da Copa JH, há dez meses,
Eurico Miranda menosprezou o time do ABC: "Nunca
mais eles vão ter a oportunidade de jogar contra nós".
Anteontem o Azulão voltou a
São Januário, ganhou de virada e disparou na liderança no
Brasileiro. A velha cartolagem perdeu o bonde da história e ainda não percebeu.
Lances para gravar
Entre os gols do fim de semana que eu vi, os mais bonitos
foram o do São Paulo (passe
de calcanhar de Kaká para a
conclusão de França) e o segundo do Grêmio, de Cláudio Pitbull, que meteu de virada no ângulo. No Atlético 2
x 1 Flamengo, a jogada mais
bonita não resultou em gol:
Edílson deu duas meias-luas
seguidas nos adversários e
cruzou. Petkovic pegou de
voleio, mas a bola bateu num
zagueiro e saiu.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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