São Paulo, quinta, 22 de outubro de 1998

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FUTEBOL
Time conquista primeiro título internacional após a "era Pelé"; polícia chegou a dar tiros para conter torcida
Santos é campeão sob clima de guerra

da Reportagem Local

Em partida marcada por tiros da polícia argentina, ameaças de Leão de não entrar em campo, brigas entre os jogadores e muitos objetos atirados contra os brasileiros, o Santos conquistou a Copa Conmebol empatando por 0 a 0 com o Rosario Central, fora de casa.
Com o resultado, o time da Vila Belmiro ganhou seu primeiro título internacional oficial desde a "era Pelé". O último havia sido em 1969, quando o Santos conquistara a Recopa mundial, vencendo a Inter, por 1 a 0, na Itália.
Foi também o 13º título de um clube brasileiro nas três principais competições sul-americanas de futebol na década de 90 -Libertadores, Supercopa e Conmebol.
A partida começou com 40 minutos de atraso, porque os brasileiros temiam por sua segurança, depois de quase terem sido agredidos por torcedores argentinos ao chegarem ao estádio.
Para conter a fúria da torcida do Rosario, policiais tiveram de dar pelo menos 12 tiros, o que também serviu para assustar os santistas.
O técnico Emerson Leão, irritado, achava que o time não deveria entrar em campo, mas alegou que eles foram obrigados a jogar "para não morrer".
"Meus jogadores não tinham condições psicológicas para entrar em campo. Não tinham condição nenhuma, nenhuma, são jovens, todos com 20, 20 e poucos anos... Só entramos mesmo porque, se não tivéssemos entrado, poderíamos ter morrido."
Mesmo com toda a pressão psicológica a que esteve submetido antes do jogo, o Santos surpreendeu no início.
Quem esperava que o time de Leão entraria recuado, tentando segurar o empate, resultado que lhe garantiria o título da Conmebol, acabou vendo uma equipe brigando no meio-campo, com a marcação mais adiantada e tentando criar alternativas de ataque.
Mesmo assim, no primeiro tempo as três melhores chances foram do Rosario, duas com o atacante Flores, uma com o meia Rivarola. Nas três ocasiões, quem salvou o Santos foi o goleiro Zetti.
No segundo tempo, o Santos voltou um pouco mais recuado, mas o Rosario, aparentando nervosismo, diminuiu o ritmo, nem sequer conseguindo construir alternativas de gol.
²A partir dos 20min da etapa final, com a necessidade de o time da casa marcar pelo menos um gol, levando a decisão para os pênaltis, o jogo ficou ainda mais tenso.
Em pelo menos quatro ocasiões, brasileiros e argentinos trocaram empurrões, causando a interferência do juiz, que acabou expulsando, em primeiro lugar, o santista Eduardo Marques, e depois, o argentino Daniele.
Terminada a partida, os jogadores do Santos nem conseguiram comemorar direito a conquista, com medo de que os torcedores argentinos invadissem o campo.
Os policiais e os seguranças contratados pelo Santos pediram para que o time tentasse deixar logo o campo, evitando problemas.
No final, o goleiro Zetti, emocionado, conclamou a torcida santista a comparecer à praça Independência, em Santos, para comemorar o título obtido na Argentina.
"Estou muito contente, envaidecido até. O coração está muito satisfeito e o título é para todo mundo, para os jogadores que estão machucados, suspensos, que não estiveram aqui", comentou Leão.
"E estou muito mais contente ainda porque fui bicampeão em cima dos argentinos", completou o treinador, referindo-se ao título que havia conseguido no ano passado diante do Lanús, quando dirigia o Atlético-MG.
²


Colaborou Gilberto Camargo, do Notícias Populares, enviado especial a Rosario



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