São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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BOXE

Taysinho

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

No último domingo, depois de nove anos sem vê-lo, reencontrei no metrô Taysinho, meu primeiro rival no ringue.
Como ele acenava agitado dentro do vagão, custei a reconhecer os traços que lembravam seu ídolo, Mike Tyson, o verdadeiro.
A conversa, breve, foi mais rápida do que um assalto, terminando na estação Sé, onde desci.
Ao chegar na redação e relatar o encontro, alguns colegas ficaram curiosos: "Afinal, quem é mesmo esse tal de Taysinho?"
Bom, Marcos Porto (seu nome real) cortou meu lábio inferior e acertou golpes tão duros em minhas têmporas que meu senso de equilíbrio ficou prejudicado por dias. Foi em minha primeira luta amadora e era válida como eliminatória que definiria o time de São Caetano que iria para os Jogos Abertos do Interior de 1992.
À época, tentei intimidá-lo. Taysinho era pequeno para um mosca, embora bastante forte. Fiquei ao lado dele para mostrar minha vantagem em altura e envergadura e, ao cumprimentá-lo, coloquei a mão em seu ombro.
Calado, olhou para minha mão e em seguida para meu rosto.
Apesar de fisicamente ser semelhante a Tyson, seu rosto parecia o de James Toney, ex-campeão dos médios e supermédios.
Na pesagem, uma surpresa: o cara tinha compleição de fisiculturista (como comparou um amigo que o conheceu, "puxa, mas o braço dele parece a minha coxa").
Isso não tem importância no ringue, mas me deixou inseguro.
Eu sabia o que teria de fazer para vencê-lo, ou, no caso, aumentar minhas chances: aproveitar minha envergadura e usar meu jab para mantê-lo à distância.
Mas, no ringue, esqueci tal estratégia e alternei duas ações: evitava a todo custo o contato com ele e, em uma estratégia suicida, encurtava a distância e aceitava a briga franca, tipo de luta que favorecia totalmente seu físico. Para piorar, ele "pegava" como alguém de três categorias acima.
Não, não puro medo, senão nem teria subido ao ringue com ele para começar, mas falta de auto-confiança. Achava impossível vencê-lo com meus recursos normais, então apelei para fórmulas mágicas às quais nunca havia recorrido. "Quem sabe acerto uma bomba e ele cai?"
O combate foi paralisado antes do início do terceiro assalto por nocaute técnico. Em retrospecto, não fui tão mal, considerando o resultado de uma das lutas seguintes de Taysinho: ele pulverizou o adversário em 18 segundos no torneio Forja de Campeões.
Qual seria o sentimento que eu sentiria dez anos depois da luta ao reencontrar meu carrasco?
Ao contrário do que possam imaginar, depois daquela luta, passei a torcer por ele. Afinal, seria um privilégio dizer que encarei um futuro campeão mundial.
Ele faz parte das boas lembranças de meus anos como pugilista, em uma galeria de personagens que incluem os Edsons (um deles tinha uma tatuagem na cabeça raspada), Claudemir, Zé Luiz (o homem que tinha mel, segundo as mulheres), Alexandre, Dunstan, Jacó, Gabriel e Canhoteiro.
Mas Taysinho, que foi campeão em três torneios amadores, como profissional tem cartel modesto: três vitórias, uma derrota e um empate. Hoje dá aulas nas academias. Mas dá ainda seus socos: na última luta, fez voar a ponte dentária do rival. "Bato forte... Bom, isso você já sabe...", ele disse.
Só me restou concordar.

Contrato 1
A BandSports anuncia a aquisição dos direitos de exibição de edições passadas do Abu Dhabi, mais tradicional competição de luta no solo (jiu jitsu, judô e luta greco-romana). A emissora negocia ainda a transmissão, ao vivo, dos próximos eventos do Abu Dhabi.

Contrato 2
A empresa promotora de lutas SportsNetwork, de Frank Warren, após consulta com seu advogado, Stephen Health, informou esta coluna que Edson do Nascimento, o Xuxa, e Antonio Mesquita assinaram contratos de exclusividade com a SportsNetwork. Na sequência, afirma-se que nenhum outro promotor questionou tal afirmação e que Mesquita assinou um contrato para enfrentar o meio-médio-ligeiro Ricky Hatton no próximo mês e afirma que não há problemas em vista para a realização de tal combate. Xuxa, no entanto, resume a situação em apenas uma frase: "Nem sei qual é a cara desse Frank Warren, como posso ter assinado com ele?"

E-mail eohata@folhasp.com.br


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