São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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NATAÇÃO

Trinta anos após conquistar sete ouros em Munique, americano não vê outro atleta capaz de igualar seu feito

"Ninguém alcança meu recorde", diz Spitz

Associated Press - 3.set.72
Mark Spitz


EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pretensioso norte-americano de 18 anos chegou aos Jogos da Cidade do México, em 1968, proclamando-se candidato a seis medalhas de ouro. Voltou para casa com apenas duas, ambas obtidas em provas de revezamento.
Mas não desanimou. Manteve o nariz empinado e, quatro anos mais tarde, em Munique, na Alemanha, prometeu que subiria sete vezes ao lugar mais alto do pódio.
Dessa vez, contudo, Mark Spitz cumpriu sua profecia. Pulverizou sete recordes mundiais, na mais avassaladora performance de um atleta em toda a história olímpica.
De lá para cá, 30 anos se passaram, e o esporte evoluiu. Mesmo assim, ninguém chegou sequer a igualar o seu recorde. "E, francamente, ainda não vejo nenhum competidor capaz de atingir a minha marca", contou Spitz à Folha.
A justificativa para sua tese vem de um exemplo pessoal. "Vejo alguns atletas dizendo que podem ganhar sete ouros em Atenas-2004 e me lembro de 1968. No México, eu queria ganhar seis ouros, mas nunca havia treinado para isso", diz o ex-atleta de 52 anos.
Spitz aprendeu a lição. No ano seguinte aos Jogos, em 1969, tentou vencer duas provas individuais em cada torneio que disputou. Em 1970 e 1971, passou a buscar três medalhas douradas por evento. Assim, chegou ao ano olímpico pronto para garimpar quatro ouros individuais.
"Esse é o segredo. Me preparei durante muito tempo para ganhar quatro eventos individuais em 1972 [os outros três ouros vieram de revezamentos". Ninguém faz isso nos dias de hoje", explica.
Após os Jogos de Munique, apenas dois atletas conseguiram resvalar na performance de Spitz.
Na Olimpíada de 1992, em Barcelona, o ginasta Vitaly Sherbo (BLR) amealhou seis ouros. A mesma marca foi registrada pela nadadora Kristin Otto, da Alemanha Oriental, em Seul-1988.
É das piscinas, aliás, que surge o principal candidato ao posto de "novo Mark Spitz": Ian Thorpe, 20, dono de 18 marcas mundiais.
"Mesmo que Thorpe consiga obter quatro medalhas de ouro individualmente, vai depender de seus companheiros nos revezamentos. Acho que a Austrália não vence os EUA nas três provas coletivas", pondera o ex-nadador.

Ganhar ou ganhar
A dedicação aos treinamentos pode ter ajudado, mas era na hora de competir que Spitz conseguia se distinguir dos demais atletas. "Eu adorava uma boa disputa. Sabia que era um vencedor", conta.
A obsessão pela vitória é uma influência do pai, Arnold. Foi ele quem ensinou Mark a dar as primeiras braçadas em Honolulu, no Havaí, onde o nadador morou com a família até a adolescência.
"No dia das competições, ele me acordava e dizia: "Filho, você treinou muito para chegar até aqui. Ninguém foi derrotado ainda. Faça o possível para não ser você"."
Spitz fazia. E, na maioria das vezes, conseguia. Com dez anos, já era dono de 17 recordes nacionais americanos em sua faixa etária.
"Foi assim a vida toda. Se eu continuasse nadando após Munique, poderia chegar à Olimpíada de Montréal [1976] em condições de ganhar sete ouros novamente."
Mas Spitz preferiu aproveitar a fama conquistada com a performance na Alemanha. "Precisava abandonar os treinamentos e ganhar dinheiro", recorda ele.
A aposentadoria, porém, foi interrompida após 18 anos. Em 1990, ele retornou às piscinas - pleiteava uma vaga no time dos EUA que disputaria os Jogos-92.
"Fiquei muito tempo afastado. Já tinha esquecido como competir. Acabei fracassando", lembra.
Spitz não se classificou para a Olimpíada, mas percebeu que não precisava provar mais nada a ninguém. Deixou as piscinas com nove ouros olímpicos e 24 recordes mundiais no currículo.
Hoje, além de cuidar de sua empresa de investimentos, viaja o mundo ministrando palestras de motivação. "E, de vez em quando, participo de alguns pequenos torneios. Ainda gosto de desafios."


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