São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Saindo dos eixos

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vai ser a menor participação da Europa em Copas, proporcionalmente, desde 1930.
Vai ser a menor participação da América do Sul em Mundiais, proporcionalmente, desde 1938.
Em 2006, a Copa do Mundo será na Alemanha, e o Brasil defenderá seu título de campeão, mas os dois continentes que dão mesmo as cartas no futebol terão que abaixar um pouco mais a cabeça.
Na primeira Copa da história, no Uruguai, apenas 13 seleções jogaram. Naquele Mundial meio esvaziado, só 30,76% dos países participantes eram europeus. Em 2006, 43,75% das seleções serão européias. As 14 vagas dadas pela Fifa ao velho continente são as mesmas 14 vagas que a Europa tinha em 1982, quando o Mundial passou a contar com 24 equipes.
Os sul-americanos representarão na próxima Copa 12,5% dos participantes. Só no terceiro Mundial da história nossa região teve menos "espaço" na disputa (como daqui apenas o Brasil viajou para a França em 1938, algo incomum, o continente ficou com 6,66% dos times do torneio). As quatro vagas destinadas à América do Sul são as mesmas que a região tinha em 1982 (24 times).
Todo mundo ganhou na recente distribuição de vagas da Fifa na Copa de 2006, menos o Eixo.
O Comitê Executivo da entidade agora é igualmente dividido. São 12 dirigentes do bloco Europa-América do Sul e 12 do resto do mundo (até antes da Copa era 13 a 11 para o lado mais forte).
A Fifa obrigará, agora, as federações a gastarem com o futebol feminino (onde hoje há um eixo EUA-China) no mínimo 4% do que recebem dela. A entidade máxima do futebol já criou a Copa das Confederações e o Mundial de Clubes pensando nas regiões periféricas da bola.
O avanço de africanos, que ganharão com justiça a Copa de 2010, de asiáticos, que já ganharam o seu Mundial neste ano, dos times da Concacaf, que apresenta bom crescimento técnico, e da Oceania, que, enfim, ganha uma vaga fixa em Copa do Mundo, é mais incontestável do que nunca.
O resto do mundo (países fora do Eixo), por exemplo, apontou Ronaldo como o melhor jogador do planeta. Na votação feita com técnicos de seleções de todo o mundo, o atacante brasileiro recebeu 60% de seus votos de fora de Europa e América do Sul.
O centroavante do Real Madrid não recebeu votos de técnicos de seleções que foram campeãs mundiais. Dos 20 países mais bem colocados no ranking da Fifa, só cinco dirigiram votos a Ronaldo.
Austrália, China, EUA e Canadá são alguns dos países que ameaçam grande briga pela Copa de 2014 (tanto o Brasil quanto a Europa estão certos de que irão ser apontados a sede desse ano).
Se as seleções africanas roubaram a cena no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos em 1996 e em 2000, em 2004 a cena já se repete nos bastidores (o camaronês Issa Hayatou, que concorreu à presidência da Fifa, é o homem-forte do evento que será na Grécia).
A distribuição de vagas entre os continentes para a Olimpíada, aliás, é bem mais "globalizada" que a apresentada para a Copa do Mundo. Os talentosos meninos da Vila e do Morumbi terão que suar mesmo para ganhar uma vaga no Pré-Olímpico do Chile (são duas vagas para a América do Sul, sendo que a Argentina é campeã mundial júnior, e o Chile conquistou o bronze em Sydney).
É o futebol saindo dos eixos.

Europa
A vitória da candidatura Áustria-Suíça para a Euro-2008 foi meio geográfica (centro do continente), mas será mais um torneio em região periférica da bola (não será em país de primeira linha no esporte). As demais candidaturas também eram "fora do eixo".

América do Sul
A Recopa Sul-Americana voltará no ano que vem. Olimpia, campeão da Libertadores, e San Lorenzo, campeão da Copa Sul-Americana, deverão jogar em julho de 2003 em Los Angeles. Assim como essa disputa, o Mundial interclubes pode ir para os EUA.

Mundo
Não gosto de prometer nada, mas, inspirado no Ranking Folha publicado hoje (e anualmente), tenho rabiscado um ranking de clubes do futebol mundial. A idéia é mostrá-lo na última coluna do ano (próximo domingo). Será que emplaca? Aceito sugestões.

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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