São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

O melhor do mundo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ronaldo ganhou 11 prêmios no ano. Só não levou o que mais merecia, o de melhor jogador da Copa do Mundo. Algumas pessoas ainda insistem em dizer que ele não é tão bom assim e que seria mais um produto de marketing. Ronaldo é um fenômeno nos campos, o melhor jogador do mundo quando está em forma. O marketing corre atrás e paralelo ao craque.
Se não fossem os graves problemas e as cirurgias no joelho, Ronaldo seria hoje ainda melhor. Ele e Romário são os dois melhores centroavantes do mundo que vi atuar. Romário foi mais genial, e Ronaldo reúne um número maior de qualidades técnicas e atléticas. Não sei quem foi o melhor. Os dois estão na pequena lista dos maiores atletas da história do futebol brasileiro e mundial.
Além das qualidades técnicas, Ronaldo mostrou na sua recuperação muita garra, disciplina, coragem e obstinação. Havia entre torcedores, jornalistas e especialistas médicos uma grande dúvida se ele se recuperaria totalmente. Medicina não é ciência exata. Ninguém poderia garantir uma coisa ou outra. Felizmente, ele se recuperou no momento certo.
Ronaldo tem jogado pouco nos últimos anos, como está acontecendo no Real Madrid. Imagino que ele continuará sendo poupado de muitos jogos. Como disse José Geraldo Couto, Ronaldo está se tornando um fenômeno somente dos acontecimentos mais importantes do futebol.
Escrevi várias vezes antes do Mundial que a seleção só ganharia o título se Roberto Carlos, Ronaldo e Rivaldo estivessem em boas condições durante a Copa. Rivaldo e Roberto Carlos ainda poderiam ser bem substituídos. Se o Luizão tivesse atuado no lugar do Ronaldo, o Brasil teria enormes dificuldades de ganhar, mesmo de seleções medianas como Turquia, Bélgica e Alemanha.
Antes do jogo final da Copa, escrevi que sonhara que o Ronaldo brilharia, faria um belíssimo gol e que o Brasil seria campeão. Quando voltei da Coréia do Sul, um leitor me perguntou se tinha sonhado acordado ou dormindo. Sonhei acordado.
O título e uma grande atuação seriam a desforra definitiva do Ronaldo após os acontecimentos da final de 98. Nos treinos e na concentração durante a Copa-2002, percebia nele um jogador iluminado, predestinado e consciente da grande oportunidade. Ele não falharia duas vezes.
Escrevi que sonhara porque não tive coragem de garantir que o Ronaldo seria o herói do título. Como o futebol é imprevisível, se desse errado, me tornaria um vidente fracassado.

Melhor do ano
Quando escrevi há mais ou menos um mês que o Roberto Carlos deveria ser escolhido o melhor do ano pela Fifa, recebi muitas críticas. Um leitor disse que eu estava ficando louco. Em alguns momentos tenho vontade de cometer uma loucura, mas ainda não tive coragem. Somos escravos da consciência.
Houve também alguns poucos que concordaram comigo, como Galvão Bueno e Falcão durante a transmissão do jogo do Brasil contra a Coréia do Sul. São duas opiniões respeitadas. Galvão Bueno e Milton Leite, da ESPN Brasil, são dos raros locutores que conseguem narrar um jogo em alta velocidade e ainda perceber todos os detalhes técnicos e táticos.
Evidentemente que Roberto Carlos não é o melhor jogador do mundo, como Figo não é e foi merecidamente escolhido o melhor em 2001. O melhor jogador do mundo é o Ronaldo, seguido do Zidane. Mas, neste ano, os dois e o Rivaldo brilharam pouco tempo. Ronaldo e Rivaldo no Mundial, e Zidane na Copa dos Campeões da Europa. No momento da escolha, Ronaldo ainda não jogava no Real Madrid.
Apesar de o Mundial ser disparado o campeonato mais importante do mundo, acho que o melhor jogador do ano deveria ser um que foi excelente ou excepcional durante toda a temporada. Cruyff acha que foi o Thierry Henry, o que não concordo porque ele jogou muito mal no Mundial realizado na Ásia.
Roberto Carlos é o único lateral do mundo que consegue numa única partida ser ótimo na defesa e no ataque. Gosto mais dele jogando de lateral do que de ala. Nesta posição, como jogou na Copa-2002, Roberto Carlos atua da mesma maneira que na lateral, o que dispensaria a presença de um terceiro zagueiro.
Alguém disse que a regularidade é qualidade dos medíocres. Essas palavras têm algo de verdade e de exagero. Roberto Carlos é regular e um excepcional jogador.

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