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Nosso amigo Vandeco (mas nunca da Silva)
Colegas desvendam cotidiano e revelam quem é, o que pensa e como vive o treinador que reina soberano no futebol do Brasil
EDUARDO ARRUDA
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há truque. As fotos aí de cima retratam a mesma pessoa.
É o Wanderley Luxemburgo da
Silva que usava penteado black
power, guiava um carcomido fusca e comandava o modesto Campo Grande, equipe do Rio, no
Campeonato Brasileiro de 1983.
É também o Vanderlei Luxemburgo da Silva que alterou letras
no nome por decisão judicial, domou os cabelos, comprou carro
importado e estendeu, no último
domingo, sua hegemonia como
treinador mais vitorioso no principal torneio de futebol do país.
O hiato entre as duas figuras
tem mais de 20 anos. Época em
que teve a honestidade posta em
dúvida pela opinião pública e a vida devassada por CPIs no Congresso. Ao mesmo tempo, encheu
a prateleira de troféus.
Em todo este período, contudo,
manteve inalteradas velhas idiossincrasias, que a Folha procurou
mapear escutando não o técnico,
mas seus amigos, e vasculhando
seus ambientes favoritos.
A própria forma de tratamento
revela parte de sua personalidade.
Ele acolhe bem alguns apelidos
(sua mulher, Josefa, o chama de
"Preto"; alguns amigos preferem
"Vandeco"). Basta, porém, citar o
sobrenome para tirá-lo do sério.
"Eu brincava: "Você é da família
de esportistas ilustres, os Silva. Só
que um virou Luxemburgo e o
outro, Ayrton Senna". Ele ficava
doido", conta Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol
do São Paulo, que trabalhou com
o técnico em 1997, no Santos.
Se rejeita o "da Silva", jamais
negou um rótulo sempre associado à sua imagem: a vaidade. No
começo da profissão, mesmo sem
dinheiro, "já tinha pose de Mauricinho", relatou Humberto Costa,
ex-gandula do Campo Grande.
O armário ficou bem mais atulhado após os cinco títulos do Nacional. Hoje, abriga dezenas de
ternos -de preferência Ricardo
Almeida, Armani ou Versace-,
muitos deles envergados em pleno campo, durante os jogos.
Os relógios, os sapatos e até a armação dos óculos são sempre escolhidas a dedo. "É um cara que
gosta de ver vitrine. Se despertar
seu interesse, ele compra", relatou
seu amigo Marcoletti Siqueira.
O requinte contaminou outros
hábitos. Em São Paulo, visita a cada 15 dias o salão de Edson Nunes.
Desde 1996, é lá que ele trata do
cabelo -o corte sai por R$ 95.
Para conservar um "estilo clássico", o técnico de 52 anos recebe
aplicação de um creme inglês na
carapinha. "Para não ficar duro e
manter hidratado", conta Nunes.
Na capital, também gosta de se
divertir com jogos de azar. Freqüenta, quase que semanalmente,
o Bingo Imperador, em Perdizes.
Funcionários da casa relatam
que Luxemburgo perde repetidamente. Só triunfou em duas apostas até hoje, uma de R$ 1.000 e outra de R$ 4.000. Fica no local entre
uma hora e 1h30min e aposta uma
cartela, de R$ 0,50, ou no computador, com seis cartelas (R$ 3).
Sempre capricha nas gorjetas,
mesma mania que segue no seu
lugar favorito em Santos, o Armazém 29, misto de bar e restaurante
onde encontra seus convivas.
Ele não tem mesa própria. Filé
de badejo é o prato predileto (sai
por R$ 29), acompanhado de cerveja. Gratifica os empregados da
casa com uma caixinha de R$ 100.
Outra característica que atravessou os anos é a superstição. Pedir conselhos à espiritualistas
sempre foi uma constante.
Tudo começou em casa. "Já fiz
muito trabalho para ele", contou
em 1998 a irmã e mãe-de-santo
Leocádia, que o auxiliou no início
dos anos 80. Depois, de 1988 a
1998, Luxemburgo mudou de
parceiro e passou a conviver com
Robério de Ogum. "Ele só entrava
em campo com o mesmo tipo de
camisa, só sentava ao meu lado
nas viagens. Formamos um time
vitorioso", disse o espiritualista.
Apesar de não trabalharem
mais juntos, Robério ainda mantém vínculos com o treinador.
Um deles está em Itupeva, no
interior de São Paulo. No final da
década de 80, Luxemburgo adquiriu uma égua manga-larga
branca. Batizou-a com um diminutivo do próprio nome -chama-a de "Luxa". "É do Vanderlei,
mas eu cuido. Dou ração, faço tudo. Às vezes, ele aparece e pergunta: "E aí, como está a Luxa?'"
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