São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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No ápice da tensão, astros e técnico assumem o risco

Com seleção na lanterna, Gomes, Diego e Robinho tomam para si missão de evitar queda no Chile

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A VIÑA DEL MAR

O técnico Ricardo Gomes e as estrelas santistas Diego e Robinho assumiram a responsabilidade pela classificação ou pela eliminação da seleção brasileira sub-23 no Pré-Olímpico do Chile.
Após a derrota de anteontem por 1 a 0 para a rival Argentina, o Brasil é o lanterninha do quadrangular final do torneio, que rende duas vagas nos Jogos de Atenas. Hoje, o Brasil enfrenta o anfitrião Chile em Viña del Mar podendo até ser eliminado.
"Eu assumo toda a responsabilidade [por ume eventual eliminação]. Quando vim para o Pré-Olímpico, sabia exatamente o que ia encontrar. A responsabilidade é toda minha", disse Ricardo Gomes, que mudou o seu discurso sobre o que significa uma derrota na estréia do quadrangular final ao longo do torneio.
Primeiro, ele dizia informalmente que uma derrota no primeiro jogo da fase final eliminaria o time. Depois, disse que essa era apenas uma eliminação moral. Agora, diz que tudo ainda está sob controle porque com duas vitórias o time está garantido.
Mas a verdade não é essa. Pode haver um tríplice empate, e o Brasil ficar fora, mesmo com seis pontos, pelo saldo de gols, número de gols marcados ou até por sorteio, segundo as regras.
Diego e Robinho repetem o discurso de que "só dependemos da gente" e puxaram também a responsabilidade. "Nessas horas que o craque tem que aparecer. Estou disposto a dar tudo, de técnica e de garra, para ajudar o Brasil. Vou chamar a responsabilidade. Posso errar, mas não vou me omitir", disse Diego, que não atuou bem contra os argentinos.
Robinho seguiu a mesma linha. "É no momento mais difícil que aparece o grande jogador. É hora de chamar a responsabilidade e ajudar o time a vencer. Rumo à Olimpíada", disse o atacante.
Apesar das frases otimistas, o clima na delegação brasileira nunca ficou tão pesado. Desde o final do jogo de ontem, vários acontecimentos mostram um ambiente bastante carregado.
Torcedores brasileiros entraram em atrito com a família de Fábio Rochemback ainda no estádio. "Acho que ele não joga nada e falei isso. Vivemos em um país democrático", disse o torcedor Marco Aurélio Moraes.
Outro torcedor que criticou a equipe diz ter sido ameaçado por Elano. "Ele falou para eu ir ao hotel que ele iria quebrar a gente", disse Fabiano Rampazzo. Elano afirmou ontem que só falaria sobre o jogo. Depois, negou ter ameaçado o torcedor.
Pela manhã, não se via no hotel qualquer membro da delegação. Os jogadores almoçaram com cara fechada e saíram apenas à tarde para fazer o tradicional trabalho de recuperação física na piscina, quase todos cabisbaixos.
"Os jogadores estão tristes pela derrota para a Argentina, mas também estão supermotivados", disse Ricardo Gomes, que mostra mais irritação com perguntas da imprensa, tanto nacional quanto internacional -alguns argentinos lembraram a derrota do Brasil na Copa de 1990 por 1 a 0, quando Ricardo Gomes era um dos zagueiros da equipe.
Outros jogadores também deixaram transparecer a crise do time. "Não adianta todo mundo querer resolver sozinho. Temos que ser um conjunto, pois quando perdemos todos perdem", disse o volante Dudu Cearense.


NA TV - Chile x Brasil, Globo, ao vivo, às 23h10


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