São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Clube do bolinha

Interesse das mulheres pela arbitragem cresce, mas 63% desistem da carreira antes mesmo do início

RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

O interesse feminino pela arbitragem tem crescido nos últimos anos, mas não o suficiente para superar as dificuldades do início de carreira dos profissionais do apito.
Na década passada, 70 mulheres entraram na escola de formação de árbitros e assistentes da FPF (Federação Paulista de Futebol), mas só 38 conseguiram concluí-la.
O índice feminino de desistência tem crescido junto com o aumento da procura.
Entre 2005 e 2009, nas quatro últimas edições já encerradas do curso, houve a inscrição de 49 mulheres. Deixaram a escola antes de receber o diploma 31 delas.
Ou seja, 63,26% das aspirantes a juízas e bandeirinhas acabaram desistindo da carreira antes mesmo de iniciá-la. No mesmo período, o índice masculino de desistência parou nos 37,8%.
"A arbitragem é uma atividade nova para a mulher, que a deixa curiosa", afirma o presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol de São Paulo, Dárcio Pereira.
"Mas muitas não sabem como o processo funciona, que vão passar por testes, apitar jogos menores. E tem as que começam a namorar, que se casam...", diz ele.
"Você precisa gostar demais para continuar", adiciona a auxiliar Maria Eliza Barbosa, do quadro da Fifa.
A bandeirinha lembra que outras duas mulheres se formaram com ela na turma de 2001 -ambas já desistiram.
Formada em 2006, a também auxiliar Graciana Paganin ainda não abandonou os planos de trabalhar com o apito, mas admite que essa não é sua prioridade.
Ela ficou grávida no ano passado, enquanto treinava para os testes físicos necessários para ingressar na FPF.
"A mulher tem que tomar conta de casa, trabalhar, dar atenção aos filhos. Ela precisa abrir mão de muita coisa para ser árbitra. Eu não consegui isso", disse Graciana.
Ela busca agora conciliar os treinos e os cuidados com um bebê de dois meses.
O alto número de desistências se reflete no pequeno quadro feminino da FPF. A federação paulista conta hoje com 18 auxiliares mulheres e três árbitras. Entre as juízas, apenas uma está apta a trabalhar na Série A-1.
Regildênia de Holanda Moura, a única juíza credenciada, participou das duas primeiras rodadas do Paulista como árbitra assistente adicional, que se posiciona atrás da linha de fundo, novidade do Estadual-2011.
Outras três mulheres trabalharam nas rodadas inaugurais, como bandeirinhas.
Apesar da adoção dos dois juízes extras por jogo, não há perspectiva de aumento no aproveitamento feminino.
"A curto prazo, não dá para aumentar. Ainda temos que prepará-las para isso. Duas das nossas árbitras ainda têm que comprovar capacidade", afirmou o chefe da comissão de arbitragem da FPF, Marcos Marinho.
"A exposição na Série A-1 é maior que na A-2. Elas precisam estar no ápice técnico."


Texto Anterior: Esporte sofre com corrupção e pouca verba
Próximo Texto: CBF nega pedido pró-mulheres da Anaf
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.