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Dom Pedro 1º e o Rio-São Paulo
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
O Rio-São Paulo que começa
hoje é uma das mais velhas
guerras do futebol nacional. Pode-se dizer que ele é o avô do
Campeonato Brasileiro. Quando foi disputado pela primeira
vez, em 1933, os jogadores usavam touquinhas na cabeça, e o
goleiro tirava a foto deitado na
frente dos companheiros segurando uma bola de capotão.
Naquele longínquo campeonato, o vencedor foi o Palestra Itália. Mas o Santos é o maior detentor de troféus: cinco. Até hoje, na contagem geral de títulos,
os paulistas têm 15, e os cariocas, nove.
Depois daquele primeiro torneio em 33, o campeonato só
voltou a ser disputado em 1950,
seguindo firme até 66. Ele acabaria no ano seguinte, quando
passou a contar com times mineiros, paranaenses e gaúchos e
virou o Torneio Roberto Gomes
Pedrosa, que, por sua vez, em
71, transformar-se-ia no Campeonato Brasileiro.
Hoje, esse ilustre vovô é apenas um aquecimento para a
temporada, uma oportunidade
para os times testarem reservas,
repatriados, recém-saídos do
departamento médico, juniores
e novas aquisições.
A rivalidade é a alma dessa
competição, e para usar um lugar comum direi que sua origem se perde na noite dos tempos. Até Dom Pedro 1º fez parte
dela.
Francisco Gomes da Silva, o
Chalaça, seu famoso secretário,
conta que, quando conheceu o
futuro imperador, ele estava
vestido à moda dos paulistas,
"com um capotão axadrezado e
gola alta", escondendo o rosto.
O Chalaça era então um violeiro que fazia glosas ao lado de
um negro chamado José Januário. Este último se aproximou de
Dom Pedro e, sem saber de
quem se tratava, cantou:
"Paulista é pássaro bisnau,
sem fé, sem coração;
é gente que se leva a pau,
a sopapo ou pescoção".
Diz a lenda que o príncipe, um
carioca por adoção, ficou tão
ofendido em ser chamado de
paulista que deixou o bar em
pedaços.
De lá para cá, a rivalidade só
se acentuou, principalmente depois que a industrialização
paulista ensombreceu o brilho
que o Rio de Janeiro gozava desde que se tornou capital da colônia, em 1763.
Hoje, o Rio já não é exatamente uma cidade maravilhosa
nem São Paulo amanhece trabalhando. A especulação imobiliária tirou um bom tanto do
charme carioca, e os paulistanos estão desempregados.
A guerra de orgulhos já não
tem mais tantos motivos. Mas
hábitos centenários são difíceis
de perder, e a rixa persiste. É ela
que dá sabor a qualquer jogo de
um time paulista contra um carioca. Como santista, posso dar
fé que ganhar de um Flamengo
ou de um Botafogo chega a ser
quase tão bom quanto derrotar
um Palmeiras ou um São Paulo.
Nessa guerra da cigarra contra a formiga, da praia contra o
restaurante, do açaí contra a
pizza, do erre aspirado contra o
ôrra meu, aposto em Santos e
Corinthians, entre os paulistas,
e no Vasco da Gama, há algum
tempo o único apostável entre
os cariocas.
E por fim, em resposta à quadrilha de José Januário, ofereço
a seguinte:
"Futebol no Rio é brincadeira,
é uma bagunça de dar dó,
tem time na terceira
e campeão por WO".
²
José Roberto Torero escreve às terças-feiras e
aos sábados
²
E-mail: torero@uol.com.br
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