São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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ADMINISTRAÇÃO

Projeto de 95 vale para todos os locais de jogos e já é criticado

Prefeitura impõe ingresso e numeradas até na várzea

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O modesto campo do Flor da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, não tem espaço para mais de 200 torcedores na sua arquibancada. Alguns conhecidos se reúnem no campo de final de semana para assistir às partidas de várzea e tomar uma cerveja. Mas uma lei municipal publicada no "Diário Oficial" do último dia 17 quer mudar esse cenário.
O decreto 40.334, que regulamenta a lei 11.786/1995 -proposta ainda durante a gestão do ex-prefeito Paulo Maluf-, estabelece que, em 120 dias, todos os estádios de futebol e ginásios de esportes (além de cinemas, teatros e casas de espetáculo) deverão ter toda a sua lotação de lugares numerados e demarcados.
Autor do projeto de lei, o vereador José Mentor (PT-SP), líder de seu partido na Câmara Municipal, vai mais longe.
Além de numerar suas arquibancadas, os organizadores de partidas amadoras ou eventos nesses espaços deverão distribuir ingresso -ainda que a entrada do público seja gratuita.
"Isso é uma questão de segurança. Também na várzea tem que existir uma preocupação com o bem-estar do torcedor. Não pode, por exemplo, haver superlotação. O fato de ser de graça não tira a responsabilidade de quem organiza os eventos", disse o vereador.
Para Mentor, a obrigação financeira de pintar as arquibancadas e providenciar a emissão de ingressos não vai onerar os gastos dos clubes amadores.
"As arquibancadas são pequenas, a pintura vai sair barata. Quanto aos ingressos, eles terão que ser criativos. Uma idéia é entregar ingressos que não sejam descartáveis, assim o custo será bem menor. Podem ser como aqueles cartões de condomínio, que na saída seriam devolvidos."
A divulgação da norma revoltou o representante de 244 times amadores de futebol de campo de São Paulo -a idade mínima é de 16 anos; a máxima não existe.
Flavio Adauto, que organiza a Copa Kaiser -que reúne todas essas equipes em um campeonato que era organizado pela FPF-, disse que a lei vai entrar para a lista das "esquecidas".
"Não faz o menor sentido. Esse vereador nunca deve ter ido a um campo de várzea. Se tivesse ido, veria que os torcedores assistem aos jogos encostados no alambrado. Essa lei foi feita por uma burguesia que não entende nada do assunto", disse Adauto, que ainda provocou a prefeitura paulistana.
"Há quanto tempo eles não fazem nada para promover e desenvolver o esporte amador em todas as suas categorias e modalidades? Agora eles vêm com essa lei ridícula, que obviamente será ridicularizada pela população."
Mas a irritação também chegou para quem é responsável pela confecção dos ingressos para as partidas do futebol profissional em pelo menos sete Estados brasileiros, a BWA.
"O problema não é a lei, mas seu prazo. Os times grandes não têm dinheiro para arcar com as mudanças que terão de ser feitas, mas alguém vai ter que pagar", disse Fernando Silva, diretor da empresa. Silva, entretanto, afastou a possibilidade de o "custo da operação" ser repassado para os ingressos. "Isso não vai acontecer."
O prazo, mencionado na lei, coincide com o recesso de meio de ano do calendário do futebol brasileiro (17 de julho). Como quem organiza o Brasileiro no segundo semestre é a CBF, e a entidade, diferentemente da FPF (que tem tem contrato com a BWA para fornecimento das catracas), não cuida das bilheterias -responsabilidade dos clubes-, os times paulistanos terão ainda mais dificuldade para se adaptar.
Silva aproveitou para também criticar a lei, que vem sendo tratada, segundo ele, como "mágica" contra a violência nos estádios.
"Para garantir segurança não basta numerar ingressos. Segurança também é instalar circuitos de TV, sinalizar os estádios, colocar policiamento, combater os cambistas, etc. Ingresso numerado, por si só, não garante nada, é só uma medida", afirmou Silva.


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