São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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FUTEBOL

O presepeiro do Morumbi

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

A imagem vai se tornando rotineira: Rogério Ceni, em vistoso uniforme, e depois de algumas tentativas de acertar um gol de falta, posta-se na intermediária são-paulina assumindo o papel de líbero. A essa altura o jogo já está invariavelmente perdido. Mas vale a encenação.
Apressadinho, pega a bola, olha para lá e para cá, faz que passa para ali, depois faz que passa para acolá, mas acaba mesmo chutando para frente. Beleza. Está "empurrando" o time, pensam os incautos. Na verdade, o efeito muitas vezes acaba sendo o contrário: retarda a articulação da equipe, produz mais nervosismo e mais desconcentração.
No domingo, na derrota do São Paulo para o São Caetano, a cena se repetiu. Com o leite já derramado, o presepeiro guardião da meta do Tricolor estava lá, oferecendo seu show de "garra" e "liderança" para uma torcida que gosta de chamá-lo de o "melhor goleiro do Brasil".
De fato, Rogério Ceni tem qualidades. Sua liderança no Morumbi, no entanto, é superdimensionada. E seus espetáculos de "ousadia" e "vontade de vencer" parecem mais destinados a livrar sua cara das cobranças após uma derrota do que a efetivamente colaborar para uma reação.
Obviamente Ceni não pode ser culpado por todos os males do Tricolor. Cabe à diretoria do clube administrar os egos e sinalizar sobre quem deve ou não servir de referência para o restante do elenco. E Ceni tem sido uma aposta inesgotável. Seu contrato foi recentemente renovado por mais quatro anos (ele está com 31) por cerca de R$ 190 mil por mês.
Enquanto isso, o São Paulo perdeu Ricardinho e Kaká. OK, Ricardinho não foi bem no Morumbi, mas é o tipo de jogador que faz falta à equipe, com claras deficiências na armação. Para não falar na tendência suicida de afunilar as jogadas. É incrível como um time que conta com Luis Fabiano não consegue articular jogadas de fundo para deixá-lo em melhores condições de finalizar.
Quanto a Kaká, até as catracas do Morumbi sabem que sua negociação foi porca. Mas agora não há mais nada a fazer.
Para os pobres dos tricolores paulistas, acompanhar o São Paulo está se transformando num verdadeiro suplício.
Ou pior: num Simplício!
 
O São Paulo mereceu perder para um São Caetano que mostrou qualidades. Isso é indiscutível. O que é totalmente discutível, para não dizer horroroso, é o regulamento desse Paulista.
Se fosse feito um concurso público para escolher a fórmula mais esquisita, dificilmente alguém conseguiria chegar perto da que foi proposta pela Federação. É muita imaginação criativa.
Duvido que alguém, mesmo com o deliberado intuito de avacalhar, teria a brilhante idéia de fazer um torneio com 21 clubes divididos em dois grupos, um com dez e outro com 11. E mata-mata de um jogo só? E sortear a ordem dos jogos na semifinal? Que tal? Parece gozação...

Ronaldinho é tudo
É um prazer que se renova a cada partida do Barcelona ver Ronaldinho jogar. Mesmo mais distante da área, ele vai confirmando ser um legítimo representante da melhor escola brasileira de bola. Sua habilidade é um espetáculo à parte, mas é completada pela eficiência. O gol de falta que fez no domingo, dia de seu aniversário, foi um presente para ele e todos nós.

A hora de Parreira
Veremos o que a seleção brasileira será capaz de apresentar contra o Paraguai. Muitos já desconfiam da correção de algumas opções de Parreira e Zagallo. Ainda é cedo, mas não há dúvida: um mau resultado contra os paraguaios vai reabrir a temporada de caça ao técnico da seleção -um dos esportes prediletos dos brasileiros.

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