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MOTOR
Quando a mãe é melhor que a miss
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os monitores de Imola
apontavam ontem, ao fim
do primeiro treino classificatório
da GP2: N. Piquet Jr. em 8º, N.
Rosberg em 11º, M. Lauda em 20º.
Foi a estréia da nova categoria,
que pretende corrigir as bobagens
da antiga F-3000 e refazer a ponte
das F-3 mundo afora para a F-1.
Enquanto Lauda, Piquet e Rosberg filhos se esgoelavam na pista,
na mureta do pit lá estavam eles,
Lauda, Piquet e Rosberg pais.
Coordenando. Torcendo. Orientando. Mães de misses, enfim.
O paralelo entre pais e filhos é
tentador, automático. Assim como a comparação entre suas eras.
Lauda, Piquet e Rosberg disputaram posições e dividiram freadas na F-1 por seis temporadas,
do final dos 70 a meados dos 80.
Mathias correu a F-3000 no ano
passado. Nelson Ângelo (convertido a Jr. na GP2) competiu na F-3 inglesa. Nico, na F-3 européia.
Só ontem se juntaram na pista.
Dificilmente, porém, os três lutarão na F-1. O problema é o austríaco: pelo que mostrou em 2004,
o filho de Lauda é ruim de doer.
Já Nelsinho e Nico têm crédito
suficiente para, com a ajuda do
sobrenome, atingirem o alvo -o
finlandês, ontem mesmo, deu um
passo à frente e garantiu a vaga
de piloto de testes da Williams.
A partir daí, precisarão andar
com as próprias pernas. Podem
vingar ou fracassar, depende de
onde -e quando- se encaixarem. Mas não haverá mais dinheiro de pai para resolver tudo.
Não se trata de saudosismo besta, os tempos são outros. Hoje, é
impossível imaginar a repetição
de uma trajetória como a de Piquet pai, que, inocentemente, inventou de enfiar um "k" no sobrenome para que a família não descobrisse que era ele o jovem piloto
que ganhava corridas aqui e ali.
Para crescer no automobilismo
atual é necessário ter um (ou vários) mecenas poderoso(s). Claro
reflexo da comercialização que
tomou conta de todos os esportes.
O problema é que, no caso específico do esporte a motor, isso
muitas vezes mascara o potencial
de um piloto. Nelsinho é mesmo
bom? Não sei, sinceramente. Sim,
escrevi pouco antes que tem crédito. Mas "ser bom" é diferente.
Na F-3 sul-americana, o contraste de estrutura entre a equipe
montada por Piquet pai e as outras era abissal. Nelsinho treinava
mais do que todo mundo, e quando o regulamento não permitia
usava carros modificados. Contava com mais mecânicos, equipamento... e conquistou o título.
Em 2003, a Piquet Sports mudou para a Inglaterra. Nelsinho
sofreu no primeiro ano, mas no
segundo de novo a diferença de
estrutura falou alto. Foi campeão.
Agora, por baixo, uma temporada na GP2 custa R$ 4,5 milhões.
Não sai tudo do bolso de Piquet
pai, o menino afinal já tem outros
patrocinadores. Mas uma parte
sai. Assim, mais uma vez, a organização em torno de Piquet filho
no paddock salta aos olhos. E ele
deve lutar pelo título.
É dessa forma que se consegue
crédito hoje, faz parte do jogo.
Com Nico e Mathias, a história
foi mais ou menos a mesma.
Algo me diz que a briga no pit
lane vai ser mais divertida do que
a disputa na pista. E aí, admito, é
saudosismo besta mesmo.
Dinheiro 1
Nenhuma emissora brasileira vai mostrar a GP2. A empresa que organiza o campeonato -e que tem um dedo de Ecclestone- pediu
US$ 500 mil pelos direitos de transmissão.
Dinheiro 2
Christian Horner esteve ontem no caminhão da Ferrari e não foi para
falar de futebol. A Red Bull está prestes a fechar o fornecimento dos
motores italianos para 2006. Por US$ 10 milhões.
Dinheiro 3
A marca de energético, aliás, gastou US$ 2 milhões no seu motorhome, que estréia neste final de semana. São necessárias nove carretas
para carregar o "palácio", que tem três andares e 600 m2.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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