São Paulo, sábado, 23 de abril de 2005

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FUTEBOL

Luz no fim do túnel

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Agora que tudo parece já ter sido dito e redito a respeito do caso Desábato/Grafite (apesar da confusão que ainda cerca as circunstâncias reais do incidente), é hora de olhar para a frente, em vez de ficar remoendo velhos ressentimentos.
Entre as dezenas de mensagens que recebi sobre o assunto, quase todas sensatas e pertinentes, uma me tocou em particular, por seu espírito aberto e positivo. Foi enviada pelo leitor Carlos "Alemão" Moura, a quem não conheço pessoalmente. Transcrevo-a quase na íntegra:
"Não é fácil reviver velhos tabus, cutucar antigas feridas. Passada quase uma semana, tudo isso ainda me incomoda. Talvez porque Desábato não seja o melhor exemplo do argentino racista, pois é um garoto de origem simples que corre atrás da bola como quem está atrás de um prato de comida, como tantos outros. Ou porque Grafite, como tantos outros, seja um cara do bem e tudo o mais, mas não espelhe a grandeza de um Reinaldo, aquele do Galo, por exemplo.
Mas e daí? Os protagonistas podem não ser perfeitos, mas o fato foi decisivo. (...) Daqui pra frente, algo tem que mudar nessa história. Não podemos mais aceitar ser chamados de "macaquitos" por parte da imprensa argentina. (...)
Que o mercado argentino se abra definitivamente para os negros -aliás, isso só fará bem ao futebol dos "hermanos". Que o brasileiro aprenda que há craques negros em todas as áreas, não só no esporte.
Sugiro ainda que as pessoas de bem, que vivem diretamente o futebol, aproveitem a oportunidade para reforçar esse exemplo: que tal um Argentina x Brasil com os jogadores entrando lado a lado, com uma faixa contra o racismo no futebol, com uniformes criados especialmente para a ocasião (talvez uma manga azul e branca na camisa canarinho e uma amarela na argentina)?"
Não consigo imaginar uma resposta mais fecunda à situação, ao menos a curto prazo. O contrário disso é o acirramento do racismo e da xenofobia. Da barbárie, enfim.
 
O Brasileirão-2005 começa com pelo menos um grande clássico: Fluminense x São Paulo. O confronto entre tricolores vai opor o campeão do Estadual do Rio e o campeão paulista deste ano.
Será, além disso, o jogo em que Rogério Ceni fará sua 597ª partida com a camisa do São Paulo, igualando o recorde pertencente a Waldir Peres, outro goleiro memorável. Tomara que o Maracanã esteja lotado e que as torcidas só façam guerra de pó-de-arroz.
 
A estréia do Corinthians, contra o Juventude, também tem um peso simbólico considerável. Se não perder em Caxias, o alvinegro completará 11 jogos sem derrota, superando a série invicta conquistada pelo clube sob o comando de Parreira, em 2002.
Começar com o pé direito é tudo o que querem os corintianos supersticiosos (ou seja, todos).

Consolo gremista
"Futebol arte, todo mundo sabe, é coisa de veado." Com essa frase bombástica e politicamente incorretíssima o jornalista e escritor Eduardo Bueno, o Peninha, começa o seu livro "Grêmio - Nada Pode Ser Maior", da coleção sobre grandes clubes publicada pela Ediouro. Neste ano em que o tricolor gaúcho paga seus pecados na Série B, o livro de Peninha, recheado de glórias e de casos engraçados, serve de consolo aos torcedores gremistas.

Feiúra compulsória
Bonamigo assume o Palmeiras avisando que o time "vai jogar feio". Tudo bem que a prioridade sejam os resultados, mas parece até que a feiúra virou um valor em si mesmo. Será que ele vai punir o futebol bonito de Pedrinho, Juninho e cia.?

E-mail jgcouto@uol.com.br


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