São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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FUTEBOL

Os filhos bastardos da Fifa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio às festividades do centenário da Fifa, foi anunciada a 205ª federação nacional filiada à entidade. O mais novo integrante da chamada ""família do futebol" é a Nova Caledônia.
Enquanto esse novo membro era agregado, um torneio rebelde deveria acontecer em Gibraltar envolvendo a seleção local, a Ilha de Man e a Ilha de Wight. A disputa começaria anteontem e acabaria hoje exatamente para chamar a atenção da comunidade do futebol reunida na França.
O território britânico incrustado na Espanha está revoltado porque a Fifa não o aceitou como sócio neste ano. A alegação de que não é ""um país independente reconhecido internacionalmente" não colou para os chefes do futebol local. Andorra, Ilhas Faroë e San Marino são exemplos de federações ligadas à Fifa que não atenderiam às condições da entidade para entrar na ""família".
As Bermudas então, segundo os dirigentes gibraltarinos, deveriam ser impedidas de jogar as eliminatórias da Copa, por exemplo, pois são uma dependência britânica tanto quanto Gibraltar.
A Fifa gosta de divulgar que possui mais filiados do que a ONU e que promove uma união até maior no planeta que a organização que tem sede em Nova York. Os critérios para entrar oficialmente no mundo da bola, porém, não são até hoje bem claros.
Muitos esperavam que Timor Leste seria apontado como o 205º selecionado reconhecido. A antiga colônia portuguesa, pelas minhas contas, é uma das nove localidades que integram a ONU que não fazem parte do quadro da Fifa. Seis dessas pouco contribuiriam na verdade para o embrionário futebol da Oceania, mas o fato é que estão no mapa.
Acredito que nem todos os filhos bastardos da ""família do futebol" querem hoje ser reconhecidos, mas Kiribati, por exemplo, tem um bom número de praticantes de futebol (é uma agulha no Pacífico, mas até aí as Ilhas Cook também figuram nessa categoria).
A Fifa mostra-se politicamente correta, aceitando a Palestina, esquecida pela ONU, e politicamente pressionada, rejeitando Gibraltar por imposição da Espanha. A federação espanhola admite ajudar no desenvolvimento do futebol gibraltarino, mas ameaça deixar a Fifa e a Uefa se o território for aceito oficialmente como sócio. E o caso de Gibraltar é bem diferente do da Catalunha, região espanhola que colocará mais um duelo com o Brasil no currículo.
A França, antes mesmo de o Monaco fazer o sucesso atual, já chegou a sugerir que o time monegasco, finalista da Copa dos Campeões, não ocupe uma das vagas francesas em competições européias. A ONU conta formalmente com Mônaco, mas a geopolítica do futebol não destaca o principado do território francês.
A política de expansão da Fifa, aliás, diminuiu vertiginosamente sua velocidade nos últimos anos porque quase todos os rincões do planeta já foram alcançados. Talvez não exista filhos bastardos na ""família" quando a entidade chegar aos 200 anos, mas a Fifa hoje não é uma mãe tão aberta e pluralista como parece. Algumas crianças ainda dormem na rua.

Para as novas gerações
Gelsenkirchen, palco da final da Copa dos Campeões, veria ontem a primeira Young Champions League, uma disputa com mais de 200 times de garotos (de até 16 anos). Como é apenas a primeira edição, os melhores ganharão ""só" ingressos para a final Monaco x Porto.

Para as velhas gerações
Algumas coisas salvaram o França x Brasil no centenário da Fifa: todas as peças inspiradas no passado. Dica aos colecionadores: corram.

Para todas as gerações
A Sportv promete exibir, ao vivo, os 31 jogos da Eurocopa. Além das partidas, o canal transmitirá uma série de programas especiais até o dia 4 de julho, data da final. Será um longo e delicioso inverno.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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