São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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TOSTÃO

Perder para si mesmo

A euforia tomou conta da torcida e da imprensa no Brasil e no Japão. A maioria tem certeza de que a seleção ganhará o título. Nem os mais pessimistas admitem outro resultado. Essa confiança é mais pela descrença nos rivais do que pela qualidade do time brasileiro.
No trem-bala vindo de Hamamatsu para Saitama, encontrei muitos brasileiros comemorando o título. Os mais prudentes diziam que o Brasil só perderia para si mesmo. É o clichê do momento. Só falam nisso. Devem ter escutado na TV Globo. Parece até que o Brasil vai jogar contra ninguém, ou contra o Bambala.
Vou ser advogado do diabo. A causa ainda não está ganha, nem será fácil. O Brasil é o principal favorito, mas nenhum resultado será surpresa. A defesa melhorou com a entrada do Kleberson, os craques lá na frente continuam inspirados, mas a equipe tem problemas. É difícil entender uma seleção campeã do mundo com Edmilson no meio-campo. Depois, terei de tirar umas férias para assimilar essa nova situação do futebol.
Não se pode esquecer também que os jogos contra Turquia, Bélgica e Inglaterra foram equilibrados. O Brasil correu risco de perder. Foi beneficiado pelo erro do árbitro no segundo gol do jogo contra a Turquia e talvez contra a Bélgica, com o gol anulado.
Se Ronaldo e Rivaldo forem bem marcados como aconteceu contra a Inglaterra e não estiverem bem, complica! Ronaldinho fará falta.
Os próximos adversários são inferiores, mas a diferença de qualidade é pequena. A Turquia tem uma equipe certinha, mas não tem tradição nem excepcionais jogadores. Senegal seria mais difícil.
Se o Brasil for para a final, enfrentará a Alemanha ou a Coréia. Antes do Mundial, a Alemanha tinha um time medíocre. Agora ficou razoável porque ganhou confiança. Foi injusta a vitória sobre os Estados Unidos. Mas os alemães têm tradição e garra. Isso é importante em uma decisão.
A Coréia joga dopada de entusiasmo e testosterona. Além disso, os juízes gostam de ajudar os times que jogam em casa, como ocorreu nas partidas contra a Itália e a Espanha. Mas a final será no Japão. Até nisso o Brasil deu sorte.
Receio que o "já ganhou" contagie os jogadores brasileiros. No último treino para o jogo final da Copa de 98, Zagallo dizia: "O Brasil só perde para si mesmo". Os jogadores davam entrevistas alegres, descontraídos, como se já tivessem ganho o título. Normalmente, os atletas ficam tensos antes de uma decisão.
O Brasil é o principal favorito nesta Copa, mas, como se diz no interior de Minas Gerais, humildade e caldo de galinha não fazem mal à ninguém.

tostao.folha@uol.com.br



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