São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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TOSTÃO

O show é outro


A arte, a ciência, a técnica e as verdadeiras manifestações humanas do futebol sãocada vez menos valorizadas

CONTINUO O PAPO imaginário entre Parreira e um interlocutor, que pode ser qualquer pessoa que goste, entenda de futebol e que seja totalmente independente.
- Todos os técnicos do mundo escalariam Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo, pela grande importância que tiveram nos últimos dez anos e, principalmente, pela esperança de que eles jogariam bem numa competição curta, como aconteceu com Zidane, Cannavaro, Thuram, Figo e outros atletas mais veteranos. Além disso, os laterais reservas não me convenciam. Adriano foi também o melhor da Copa das Confederações e da Copa América e não deveria ficar de fora.
- Mas, pela seqüência de jogos, Robinho tinha de ser o titular. Zé Roberto, tão elogiado, foi um ótimo burocrata, além de assistir aos adversários jogarem livres no meio-de-campo. Juninho tinha mais recursos técnicos, não para atuar como um terceiro volante como fez contra a França, e sim como jogou diante do Japão.
- A imprensa tumultua por dizer algumas inverdades e/ou por dar importância a coisas sem nenhum valor.
- A imprensa não pode inventar, mas é ela que tem de decidir o que é importante. É preciso acabar ainda com essa troca de favores em que os que elogiam são privilegiados pela CBF, pela comissão técnica e pelos jogadores, e os que criticam são prejudicados, mesmo quando as críticas são justas. Diretor da patrocinadora de materiais da CBF e jornalistas com vínculos a órgãos de imprensa não deveriam também ter acesso privilegiado à intimidade da seleção. Com os técnicos anteriores era a mesma relação.
- Há um exagero nas críticas. Futebol é um jogo, e nem sempre as coisas dão certo, o que não significa que foram feitas erradas. É preciso valorizar o adversário.
- É evidente. Os profissionais têm de ser avaliados pela média de suas atuações durante as suas carreiras. Todos os grandes técnicos e atletas, sem exceção, tiveram maus momentos. Pelé jogou mal nas decisões contra o Cruzeiro pela Taça Brasil de 66 e na Copa do mesmo ano. O fracasso da seleção nesse Mundial foi maior do que no atual.
- Estão se aproveitando da derrota para desvalorizar o trabalho que foi feito na Copa de 94. É muito fácil criticar depois do fato consumado.
- Sei disso. Todos os comentaristas, sem exceção, dão muitas vezes opiniões totalmente equivocadas. Mas isso não anula as críticas. Depois desse Mundial, aumentou a minha impressão de que você é um técnico estudioso, racional, que conhece bem os esquemas táticos e os conceitos, mas que não percebe bem os pequenos detalhes objetivos e subjetivos, o que não está programado, o que não é geral, o que não está nos manuais, o que vai além da informação.
- Há, no Brasil, um exagero na valorização de uma Copa, como se fosse a coisa mais importante da vida das pessoas.
- O futebol, principalmente em um Mundial, cada vez mais se torna um evento espetaculoso, um show de entretenimento, uma exploração emocional e um desfile de vaidades. Tudo manipulado pelos grandes e cada vez mais concentrados interesses econômicos. A arte, a ciência, a técnica e as verdadeiras manifestações humanas do futebol são cada vez menos discutidas e valorizadas.
Está na hora de falar de outras coisas, da Copa do Brasil, do Brasileiro, das ótimas campanhas do São Paulo e do Inter na Libertadores. São duas equipes com um estilo muito mais aguerrido do que o da seleção brasileira. Isso ocorre pelo planejamento técnico e tático dos seus treinadores, e não pelos seus gritos durante as partidas e tampouco porque os jogadores têm mais garra do que os da seleção.
tostao.folha@uol.com.br

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