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TOSTÃO
O show é outro
A arte, a ciência, a técnica e as verdadeiras manifestações humanas do futebol sãocada vez menos valorizadas
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CONTINUO O PAPO imaginário
entre Parreira e um interlocutor, que pode ser qualquer
pessoa que goste, entenda de futebol
e que seja totalmente independente.
- Todos os técnicos do mundo escalariam Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo, pela grande importância que
tiveram nos últimos dez anos e,
principalmente, pela esperança de
que eles jogariam bem numa competição curta, como aconteceu com
Zidane, Cannavaro, Thuram, Figo e
outros atletas mais veteranos. Além
disso, os laterais reservas não me
convenciam. Adriano foi também o
melhor da Copa das Confederações
e da Copa América e não deveria ficar de fora.
- Mas, pela seqüência de jogos,
Robinho tinha de ser o titular. Zé
Roberto, tão elogiado, foi um ótimo
burocrata, além de assistir aos adversários jogarem livres no meio-de-campo. Juninho tinha mais recursos técnicos, não para atuar como um terceiro volante como fez
contra a França, e sim como jogou
diante do Japão.
- A imprensa tumultua por dizer
algumas inverdades e/ou por dar
importância a coisas sem nenhum
valor.
- A imprensa não pode inventar,
mas é ela que tem de decidir o que é
importante. É preciso acabar ainda
com essa troca de favores em que os
que elogiam são privilegiados pela
CBF, pela comissão técnica e pelos
jogadores, e os que criticam são prejudicados, mesmo quando as críticas são justas. Diretor da patrocinadora de materiais da CBF e jornalistas com vínculos a órgãos de imprensa não deveriam também ter
acesso privilegiado à intimidade da
seleção. Com os técnicos anteriores
era a mesma relação.
- Há um exagero nas críticas. Futebol é um jogo, e nem sempre as
coisas dão certo, o que não significa
que foram feitas erradas. É preciso
valorizar o adversário.
- É evidente. Os profissionais têm
de ser avaliados pela média de suas
atuações durante as suas carreiras.
Todos os grandes técnicos e atletas,
sem exceção, tiveram maus momentos. Pelé jogou mal nas decisões
contra o Cruzeiro pela Taça Brasil
de 66 e na Copa do mesmo ano. O
fracasso da seleção nesse Mundial
foi maior do que no atual.
- Estão se aproveitando da derrota para desvalorizar o trabalho que
foi feito na Copa de 94. É muito fácil
criticar depois do fato consumado.
- Sei disso. Todos os comentaristas, sem exceção, dão muitas vezes
opiniões totalmente equivocadas.
Mas isso não anula as críticas.
Depois desse Mundial, aumentou a
minha impressão de que você é um
técnico estudioso, racional, que conhece bem os esquemas táticos e os
conceitos, mas que não percebe bem
os pequenos detalhes objetivos e
subjetivos, o que não está programado, o que não é geral, o que não está
nos manuais, o que vai além da informação.
- Há, no Brasil, um exagero na valorização de uma Copa, como se fosse a coisa mais importante da vida
das pessoas.
- O futebol, principalmente em
um Mundial, cada vez mais se torna
um evento espetaculoso, um show
de entretenimento, uma exploração
emocional e um desfile de vaidades.
Tudo manipulado pelos grandes e
cada vez mais concentrados interesses econômicos. A arte, a ciência, a
técnica e as verdadeiras manifestações humanas do futebol são cada
vez menos discutidas e valorizadas.
Está na hora de falar de outras coisas, da Copa do Brasil, do Brasileiro,
das ótimas campanhas do São Paulo
e do Inter na Libertadores. São duas
equipes com um estilo muito mais
aguerrido do que o da seleção brasileira. Isso ocorre pelo planejamento
técnico e tático dos seus treinadores, e não pelos seus gritos durante
as partidas e tampouco porque os
jogadores têm mais garra do que os
da seleção.
tostao.folha@uol.com.br
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