São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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Líder, Edmundo já vê fim no Palmeiras

Símbolo da reação da equipe diz que ter recebido proposta para jogar no Qatar, mas quer se aposentar em 2007, no clube

Ídolo afirma que faltou um pouco de planejamento no time do Parque Antarctica, que deveria seguir exemplo de organização do São Paulo

PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 34 anos, ele já não tem o mesmo vigor físico da primeira passagem pelo Palmeiras. Mas agora lhe sobra experiência e traquejo para, num piscar de olhos, construir a jogada que resulta no gol da vitória, como fez contra o Corinthians. Este é Edmundo, que chegou no início do ano como grande contratação, mas só agora, após uma parada no Brasileiro, começa a se destacar na reação do time no Nacional, que hoje pode ganhar mais um capítulo, caso triunfe sobre o Goiás. Em entrevista à Folha, o camisa 7 do Palmeiras citou o São Paulo como exemplo de organização a ser seguida. Ele disse ainda que recebeu uma grande proposta do Qatar, pensou em sair, mas que agora gostaria de renovar antecipadamente seu contrato, que vence em dezembro, para encerrar a carreira no Palmeiras no fim de 2007.  

FOLHA - Após a Copa o seu rendimento melhorou. O que mudou?
EDMUNDO
- É nítido que no futebol de hoje é preciso organização tática e fôlego. E a gente teve tempo para treinar e assimilar o que o Tite quer da gente e, principalmente, aprimorar a parte física. Fazia muitos anos que eu aqui no Brasil não tinha condições de fazer uma pré-temporada como essa. E, pra gente, foi primordial, porque vínhamos meio desestruturados fisicamente, taticamente.

FOLHA - Antes, você não estava se sentindo bem para jogar?
EDMUNDO
- A euforia de ter voltado dava uma sensação boa. Mas, depois de um tempo, quando a gente começou a oscilar, é que você começa a ver que faltavam trabalhos específicos.

FOLHA - Na crise, a torcida hostilizou jogadores, mas você não foi um dos alvos. Como você encara isso?
EDMUNDO
- A nossa obrigação é trazer o torcedor para o nosso lado. Fazer o que eles fariam. Na fase de derrotas seguidas, eu vi jogadores pedindo para não jogar, outros jogando abaixo do que podem, e eu me incluo nisso. Isso cria indignação ainda maior. Mas é lógico que no chicote é mais difícil as pessoas irem para a frente.

FOLHA - E, por falar em chicote, quando Emerson Leão saiu, você disse que o ambiente ficou mais leve...
EDMUNDO
- O Leão tem aquela postura, mas no dia-a-dia é supertranqüilo. O Tite é até mais severo com horário do que ele.

FOLHA - Como foi seu relacionamento com ele?
EDMUNDO
- Ótimo. Tenho certeza de que conquistei outra pessoa. Pode ser que ele não me queira, mas será pela parte técnica, não mais pela disciplinar.

FOLHA - Você já pensou em renovar contrato com o Palmeiras?
EDMUNDO
- Há duas semanas, recebi uma proposta do Qatar, muito boa. Era uma coisa descartada, mas o lance financeiro, sempre chama a atenção. Aí tive uma conversa com o sr. Palaia [diretor de futebol], e já foi cogitado renovar meu contrato. Estou aguardando. E acho que mais um ano já dará para mim, com relação a jogar.

FOLHA - Mas, para renovar, você pedirá compensação financeira?
EDMUNDO
- Não. Não faço questão do dinheiro. É questão de estabilidade. Seria bom que isso pudesse ser feito logo para eu ficar tranqüilo. Quando cheguei, havia uma certa preocupação de como seria. Posso não estar jogando nada, mas o comportamento tem sido ótimo.

FOLHA - Você se considera um líder? Como você é na convivência com os demais jogadores?
EDMUNDO
- Eles me chamam de velhinho, me sacaneiam. E eu fico feliz por essa igualdade. Agora, no dia do jogo, a minha obrigação se torna maior. Tenho que passar algumas coisas que já vivi. Eu vejo o moleque no treino com potencial. Chega ao jogo, ele não faz, me dá uma ansiedade, angústia, não sei. Aí infelizmente a gente às vezes explode. Mas não tenho dom para liderar por não saber dosar a hora de gritar, de xingar.

FOLHA - Você acha que o fato de o time com muitos veteranos atrapalhou o rendimento?
EDMUNDO
- Não acho que a idade seja uma coisa que tenha atrapalhado. Tem outros detalhes mais importantes.

FOLHA - Que detalhes?
EDMUNDO
- O esquema que a gente não definiu, a má preparação. E, se não tem um grupo forte para repor, é difícil. Tem que ser pensado antes. A gente tem que ter exemplos bons, como o São Paulo. Tem no banco Alex Dias, Lima, Aloisio, Leandro. Agora tem Ilsinho, Lúcio. Aqui a gente não tem isso. Isso é planejamento, uma coisa que faltou um pouco aqui.

FOLHA - Como foi seu problema com Tite? Chegou-se a dizer que você foi afastado...
EDMUNDO
- Eu nunca briguei com ele, apenas discordei. Ele é muito severo, mas está tudo certo entre eu e ele. Naquele episódio [do afastamento antes da Copa], recebi ligações de vários clubes, mas nunca pensei em deixar o Palmeiras.

FOLHA - Você acha que, nesse caso, a rivalidade deveria ser deixada de lado para seguir esse exemplo?
EDMUNDO
- Claro, sem dúvida. O que é bom é para ser copiado mesmo. Mas depende muito da condição do clube.

FOLHA - Por falar em São Paulo, nos jogos pela Libertadores, o Souza disse que você jogou com a camisa do Barcelona por baixo. É verdade?
EDMUNDO
- Não vou me rebaixar ao Souza. Estava frio. Eu uso uma camisa branca por baixo, e ela tem um laranja. Provavelmente ele deve ter visto isso. Mas o Souza deve ter uns 30 e poucos anos [27, na verdade] e está aparecendo agora, está empolgado. Eu nunca faria isso.


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