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Último campeão
Único ouro olímpico de Cuba em atividade, o pugilista Guillermo Rigondeaux não se apresenta para pesagem
e, assim como o compatriota Erislandi Lara, está sumido
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
""Não sei de [Guillermo] Rigondeaux. Não sei de nada." Foi
assim, seco e rápido, que o legendário Teófilo Stevenson
tentou se desvencilhar da reportagem da Folha, que pedia
sua opinião sobre o sumiço do
último campeão olímpico em
atividade de Cuba. Erislandi
Lara, outro campeão mundial,
também está desaparecido.
Já um tanto grisalho, Stevenson, 55, o tricampeão olímpico
que recusou propostas para se
profissionalizar e permaneceu
na ilha de Fidel Castro, mantém-se um símbolo cubano.
Mas ontem assistiu à programação de boxe do Pan da tribuna de honra, preterindo as arquibancadas, de onde acompanhara a rodada inicial. O entusiasmo cubano não era o mesmo. As demonstrações pró-Cuba vinham de brasileiros. De
vez em quando, até manifestações pró-EUA prevaleceram.
Tudo porque o último campeão olímpico de Cuba em atividade se foi. Guillermo Rigondeaux, 26, bicampeão olímpico
e mundial galo e estrela da delegação cubana, está há pelo
menos três dias desaparecido.
Dois membros da delegação
cubana já desertaram no Pan.
Ao ser questionado sobre Rigondeaux, o principal treinador da esquadra cubana, Pedro
Roque, ficou surpreso, espalmou as mãos, como que tentando afastar alguma ameaça.
""Depois. Depois, teremos
mais informações", afirmou.
""Procuramos pela Vila, não o
encontramos. Não sabemos o
que aconteceu", disse Maximiliano Diaz, chefe de equipe.
Ontem pela manhã, Rigondeaux não compareceu à cerimônia de pesagem para a luta
que faria pela tarde. Erislandi
Lara tampouco apareceu.
Uma encenação de Cuba
marcou a pesagem. A equipe
deu a entender que Rigondeaux e Lara tentavam perder
peso no local, junto com um
terceiro representante da ilha.
Nutriam a esperança de que
apareceriam na última hora.
Quando o relógio marcou
quase 9h, limite para que subissem na balança, um representante cubano pediu à organização os documentos dos dois e
informou que eles não viriam.
Porém ambos não saíram do
local onde estariam ""tirando o
peso". Eles nem estiveram lá.
A reportagem apurou que
pelo menos desde a manhã de
anteontem membros do time
cubano, como o técnico principal da esquadra, Pedro Roque,
e um homem chamado Luís
Mariano, que se identificava
como funcionário do Consulado de Cuba, buscavam a dupla.
Procuravam até fora da Vila
pessoas que haviam tido contato com eles para inquiri-las.
""Para diminuir a mágoa do
povo cubano, se tinha de fugir,
por que não o fizeram só após
ganhar o título [do Pan]? Se ganhassem medalhas, a mágoa
seria diferente, poderia diminuir", disse Paco Garcia, técnico cubano baseado no Brasil.
Durante treino na semana
passada, Rigondeaux falou sobre a deserção de conterrâneos, como os três campeões
mundiais que aproveitaram
um torneio em Caracas disputado em 2006 para fugir.
Ao menos aparentemente,
mostrou fidelidade a Fidel. ""Isso [as deserções] já faz muito
tempo. Esse não é um assunto
meu", disse, incomodado com
o tema ao encerrar abruptamente a conversa sobre a fuga
de Yan Barthelemy, Yuriolki
Gamboa e Odlanier Solis.
Solis e Barthelemy migraram
para a Alemanha, onde estrearam com vitórias no profissionalismo, em abril.
Em sua estréia no Pan do
Rio, Rigondeaux batera o porto-riquenho Miguel Marrero
por pontos, na tarde de sexta.
Foi sua 104ª vitória seguida.
Brasileiros festejaram discretamente o sumiço de Rigondeaux. James Dean, representante do país, que ontem bateu
Jose Pantaleon, poderia ter o
cubano como próximo rival.
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