São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Último campeão

Único ouro olímpico de Cuba em atividade, o pugilista Guillermo Rigondeaux não se apresenta para pesagem e, assim como o compatriota Erislandi Lara, está sumido

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

""Não sei de [Guillermo] Rigondeaux. Não sei de nada." Foi assim, seco e rápido, que o legendário Teófilo Stevenson tentou se desvencilhar da reportagem da Folha, que pedia sua opinião sobre o sumiço do último campeão olímpico em atividade de Cuba. Erislandi Lara, outro campeão mundial, também está desaparecido.
Já um tanto grisalho, Stevenson, 55, o tricampeão olímpico que recusou propostas para se profissionalizar e permaneceu na ilha de Fidel Castro, mantém-se um símbolo cubano.
Mas ontem assistiu à programação de boxe do Pan da tribuna de honra, preterindo as arquibancadas, de onde acompanhara a rodada inicial. O entusiasmo cubano não era o mesmo. As demonstrações pró-Cuba vinham de brasileiros. De vez em quando, até manifestações pró-EUA prevaleceram.
Tudo porque o último campeão olímpico de Cuba em atividade se foi. Guillermo Rigondeaux, 26, bicampeão olímpico e mundial galo e estrela da delegação cubana, está há pelo menos três dias desaparecido.
Dois membros da delegação cubana já desertaram no Pan.
Ao ser questionado sobre Rigondeaux, o principal treinador da esquadra cubana, Pedro Roque, ficou surpreso, espalmou as mãos, como que tentando afastar alguma ameaça.
""Depois. Depois, teremos mais informações", afirmou.
""Procuramos pela Vila, não o encontramos. Não sabemos o que aconteceu", disse Maximiliano Diaz, chefe de equipe.
Ontem pela manhã, Rigondeaux não compareceu à cerimônia de pesagem para a luta que faria pela tarde. Erislandi Lara tampouco apareceu.
Uma encenação de Cuba marcou a pesagem. A equipe deu a entender que Rigondeaux e Lara tentavam perder peso no local, junto com um terceiro representante da ilha. Nutriam a esperança de que apareceriam na última hora.
Quando o relógio marcou quase 9h, limite para que subissem na balança, um representante cubano pediu à organização os documentos dos dois e informou que eles não viriam.
Porém ambos não saíram do local onde estariam ""tirando o peso". Eles nem estiveram lá.
A reportagem apurou que pelo menos desde a manhã de anteontem membros do time cubano, como o técnico principal da esquadra, Pedro Roque, e um homem chamado Luís Mariano, que se identificava como funcionário do Consulado de Cuba, buscavam a dupla. Procuravam até fora da Vila pessoas que haviam tido contato com eles para inquiri-las.
""Para diminuir a mágoa do povo cubano, se tinha de fugir, por que não o fizeram só após ganhar o título [do Pan]? Se ganhassem medalhas, a mágoa seria diferente, poderia diminuir", disse Paco Garcia, técnico cubano baseado no Brasil.
Durante treino na semana passada, Rigondeaux falou sobre a deserção de conterrâneos, como os três campeões mundiais que aproveitaram um torneio em Caracas disputado em 2006 para fugir.
Ao menos aparentemente, mostrou fidelidade a Fidel. ""Isso [as deserções] já faz muito tempo. Esse não é um assunto meu", disse, incomodado com o tema ao encerrar abruptamente a conversa sobre a fuga de Yan Barthelemy, Yuriolki Gamboa e Odlanier Solis.
Solis e Barthelemy migraram para a Alemanha, onde estrearam com vitórias no profissionalismo, em abril.
Em sua estréia no Pan do Rio, Rigondeaux batera o porto-riquenho Miguel Marrero por pontos, na tarde de sexta. Foi sua 104ª vitória seguida.
Brasileiros festejaram discretamente o sumiço de Rigondeaux. James Dean, representante do país, que ontem bateu Jose Pantaleon, poderia ter o cubano como próximo rival.


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