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TIRO
Prodígio americano dispara certo no alvo errado e põe oponente no pódio
DO ENVIADO A ATENAS
O americano Matthew Emmons acordou ontem coberto de
glórias, sentindo-se um herói. Foi
dormir com o título de maior trapalhão dos Jogos de Atenas, um
dos maiores da história olímpica.
Aos 23 anos, estudante de contabilidade da Universidade do
Alasca, o americano é considerado um prodígio do tiro.
Começou no esporte aos 14
anos, treinado por um agente do
FBI e, quando tinha 19, por muito
pouco não conseguiu se classificar para competir em Sydney, há
quatro anos. Atenas, entretanto,
ele não deixou escapar. E brilhou
nas seletivas dos EUA.
Emmons tornou-se o primeiro
americano em 40 anos a conseguir vagas para a Olimpíada em
três categorias. Já em território
grego, voltou a fazer história.
Na sexta, levou o ouro na categoria carabina deitado 50 m.
Nunca um americano havia
conquistado, na seqüência, um
Mundial e um título olímpico no
mesmo evento. Foi o bastante para que ele fosse festejado como
um herói. No sábado, concedeu
entrevista coletiva no centro de
imprensa dos Jogos, falou à NBC,
virou celebridade instantânea.
Mas o dia acabou. E chegou o
domingo. Ontem foi a vez de disputar a categoria carabina três posições 50 m, em que o atirador
realiza disparos deitado, de joelhos e em pé.
Emmons começou bem. Muito
bem, aliás. Liderou toda a prova e
chegou à rodada final com três
pontos de vantagem sobre o chinês Jia Zhanbo. Era o virtual vencedor. Nada tiraria o seu ouro.
Nada normal. Porque o que
ocorreu então foi surpreendente.
Emmons tinha só mais um tiro.
Ele se preparou, tomou posição,
disparou. Mas seu alvo continuou
intacto. Incólume. Ileso.
Ninguém entendeu nada. "Eu
atirei, vocês viram, eu atirei", disse o americano, preocupado, aos
três oficiais que foram investigar
o que estava se passando.
Foram alguns minutos de confusão. E veio então a constatação
da trapalhada: o americano mirou no alvo de um vizinho de
competição, o austríaco Christian
Planner, então quinto colocado.
Como não acertou seu alvo,
Emmons ficou com zero ponto na
última rodada. Na soma, terminou a prova em oitavo lugar. Foi o
último entre os finalistas.
Como se não bastasse, seu tiro
foi o terceiro melhor das finais. E
foi o melhor no alvo de Planner. O
"presente" alçou o austríaco à terceira colocação. Foi bronze.
"Meu último tiro foi o melhor.
Sou um cara de sorte", disse, ainda em êxtase, o dono do alvo.
Inconsolável, sem falar com
ninguém, o americano Matthew
Emmons saiu do centro de tiro. E
entrou para o folclore dos Jogos
Olímpicos.
(FÁBIO SEIXAS)
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