São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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RÉGIS ANDAKU

O ódio dentro de você

Cada treinador tem uma tática para tirar o máximo de seu pupilo; a de Brad Gilbert é estimular a raiva até o limite

QUANDO TENISTA , Brad Gilbert não brilhava pelo talento, carisma ou títulos. Poucos, aliás, achavam que Gilbert tivesse talento ou carisma -e título era algo que o americano suava para ganhar, mesmo sendo, todos os 20, em torneios de segunda linha. Gilbert foi o quarto do ranking, mas tinha o respeito por outra qualidade: fazia de tudo para não perder. Inteligente, competitivo ao limite, traçava as estratégias possíveis e imagináveis para evitar um momento inevitável nos grandes jogos: o do seu encontro com a derrota. Fora das quadras, depois de escrever o livro "Vencendo feio", em que dava dicas de como evitar a derrota e, mais, vencer, mesmo que para isso o tênis tivesse de sair perdendo, Gilbert vinha de bons serviços prestados a Andre Agassi quando assumiu como treinador de Andy Roddick. Àquela época, diziam que faltava alguém com experiência para tirar do caipira Roddick o melhor possível, a força e o talento necessários para as grandes conquistas. Ou seja, para fazer de Roddick o número um, ninguém melhor do que um tenista que, no limite, chegou a quatro. Para fazer Roddick campeão, ninguém melhor do que um técnico acostumado a perder dos campeões. Nas primeiras semanas de trabalho, Gilbert decifrou o que deveria tirar de dentro de Roddick. Não era o talento, a força física ou um golpe a melhorar, mas a raiva que via dentro do jovem tenista. Foi com Gilbert que Roddick aprendeu a gritar, falar palavrão, a atirar a raquete no chão e fazer cara feia. Mas tudo isso na hora certa, do jeito certo, de acordo com as regras definidas por Gilbert. Roddick era obrigado a olhar para o técnico toda vez que estivesse com raiva, vontade de xingar ou de jogar a raquete. Em troca, o treinador fazia um "v" com dois dedos e os apontava contra os próprios olhos. A raiva, lembrava Gilbert ao pupilo, deveria ser canalizada contra o adversário, não contra si próprio. Foi com Gilbert que Roddick ganhou seu primeiro -e único- Grand Slam e chegou ao topo do ranking, o que tornou ainda maior a fama do técnico do "vencendo feio". Agora, Gilbert assumiu um novo caso. E já nos primeiros torneios tutelando Andy Murray, revelação e esperança britânica, fez seu pupilo derrotar Federer, o imbatível, em dois sets, algo que não acontecia com o suíço havia 194 jogos. Dois dias depois, Murray acabou derrotado para Roddick, o ex de Gilbert. A noite quente e úmida de sexta foi uma das mais "sangrentas" do ano. Estivesse por perto, Lleyton Hewitt, famoso por gestos e provocações, pareceria um bebê. E você acha que Gilbert ficou desanimado porque seu pupilo perdeu? Pelo contrário. Naquele jogo, diz Gilbert, ele descobriu que Murray tem ódio por dentro. Agora só falta, segundo ele, direcionar a raiva de Murray para a direção certa -o das vitórias e dos títulos.

ENQUANTO ISSO...
Enquanto Roddick e Juan Carlos Ferrero, líderes do ranking antes de Roger Federer estourar, iam à final do Masters Series de Cincinnati, Marat Safin, eliminado, esborrachava seu carro nas ruas da cidade. Ele está separado de Peter Lundgren, de quem pediu "um tempo".

PELAS BEIRADAS...
Martina Hingis, menos de oito meses após voltar ao circuito, entrou para o grupo das top ten. No ranking desta semana, é a nona.

EM FLORIANÓPOLIS
O gaúcho Franco Ferreiro ficou com o título do primeiro torneio da série future em Santa Catarina. Na final, bateu Eduardo Portal com duplo 6-3. Nesta semana, Florianópolis recebe mais uma etapa, novamente nas quadras de saibro da Federação Catarinense de Tênis.

randaku@uol.com.br


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