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FUTEBOL
Prefeitura faz exigências em edital para exploração de publicidade e beneficia empresa ganhadora
Sob suspeita licitação do Pacaembu
MARCELO DAMATO
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Reportagem Local
A licitação que definiu a empresa que vai explorar a publicidade
ao redor do campo do estádio do
Pacaembu tem fortes indícios de
que foi realizada com o objetivo
de beneficiar a agência que ganhou a concorrência, a Target
Sport Marketing, que está no estádio desde março de 1996.
Entre as exigências feitas pela
Prefeitura de São Paulo, estão as
seguintes: as placas devem funcionar em sistema rotativo contínuo, as dimensões dos módulos
devem ser de aproximadamente 3
m x 0,9 m, com sistema de fornecimento de energia próprio.
Esta é exatamente a descrição
dos painéis da Target. Apenas as
empresas que conseguem preencher todos os requisitos exigidos
pelo município podem concorrer
na licitação.
Sob a alegação de que seguiu a
Lei das Licitações (Lei 8666/93) e a
lei municipal sob o assunto (Lei
10.544/88), a Prefeitura do Município de São Paulo estabeleceu
tantas restrições no edital que, das
sete empresas que o retiraram, só
uma, a própria Target, apresentou proposta, de R$ 72.300, levemente maior do que o lance mínimo, de R$ 70 mil.
Em 1996, embora o lance mínimo tivesse sido de R$ 50 mil, a
Target teve que oferecer bem
mais. Ganhou com um lance de
R$ 106.245,50 mensais, apenas R$
245,50 a mais do que a Publisport
(Grupo Paes Andreotti), num resultado que gerou polêmica.
De acordo com os três advogados especialistas em licitação pública, ouvidos pela Folha, o edital
fere os princípios da igualdade e
da competitividade, previstos na
Lei das Licitações.
"Eu não teria dúvida em dizer
que é licitação dirigida. A prefeitura tem que buscar a melhor
proposta, e não criar cláusulas
que comprometam a competição
e a igualdade", afirma o advogado
Adilson Dallari, professor de direito administrativo da PUC-SP e
autor do livro "Aspectos Jurídicos
da Licitação".
A redução do que a Target vai
pagar pelo atual contrato, de 32%,
em relação a 41 meses atrás, contrasta com o crescimento da economia ligada ao futebol no Brasil.
Um conjunto de painéis para
ser usado num campo custa em
torno de US$ 350 mil (R$ 600 mil)
Para efeito de comparação, os
direitos de transmissão de TV do
Campeonato Brasileiro passaram
de R$ 12 milhões para R$ 60 milhões nesse período.
O preço cobrado pelas agências
por anúncios em placas publicitárias para jogos da primeira fase do
Brasileiro também é alto.
Para a partida entre Sport e Corinthians, no próximo sábado, a
Klefer, cobrará do anunciante pelo menos R$ 7.000,00.
O proprietário da Target, Ivan
Borges, acredita que o valor que a
sua empresa ofereceu é justo. "O
Pacaembu é um estádio complicado. Nunca se sabe se os jogos
vão ocorrer lá ou não. O preço
que pagamos na primeira licitação está fora do mercado hoje.
Oferecemos menos do que os R$
106 mil porque achamos que só
assim o investimento valeria a pena", afirma Borges.
A própria empresa, embora negue ter havido má fé, admite que
suas placas foram usadas como
modelo para a licitação -o que
aliás nem a procuradora da Secretaria Municipal de Esportes Selma Moreira Santos Abreu Félix,
nem o engenheiro-chefe da secretaria, Inácio Solowieczyk, negam.
"A prefeitura se baseia no que já
existe e deu certo", diz Borges.
"A descrição do objeto é muito
detalhada. Licitação é sinônimo
de competição. Esses princípios
têm que ser observados. No meu
entender, ela feriu o artigo terceiro da Lei das Licitações (veja quadro)", diz o advogado Toshio
Mukai, doutor em direito do Estado pela USP.
Segundo uma empresa que se
interessou pela licitação, mas pediu para não ser identificada, nenhuma firma do exterior fabrica
os painéis nesse tamanho, apenas
uma brasileira -e a única concorrente que possui os painéis dela é a Target Sport Marketing.
Uma das derrotadas na licitação, a Área Marketing, que disse
possuir painéis de 1,50 m x 0,78
m, ainda tentou impugnar essa
exigência junto à prefeitura, mas
teve o recurso rejeitado.
"A prefeitura está vendendo espaço. Como a empresa vencedora
vai usar o espaço, desde que não
atrapalhe os atletas ou espectadores, é problema dela", afirma o
advogado Paulo Boselli, professor
de licitações da Fatec.
Segundo ele, a impugnação do
edital pelas empresas que tenham
se sentido lesadas é impossível,
pois o prazo já se esgotou. "Quem
se sentir lesado deve recorrer às
autoridades, como o Tribunal de
Contas, o Ministério Público e a
própria secretaria para tentar paralisar o processo", diz.
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