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Fabricando recordes
Acirrada disputa por medalhas entre empresas de material esportivo leva COI a estudar a implantação de uma Olimpíada de fabricantes
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JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
Não será de se estranhar se daqui a alguns anos a disputa pela liderança do quadro de medalhas
não for entre EUA, Rússia, China
ou Austrália, mas acontecer entre
Nike, Adidas, Reebok, Speedo e
outras empresas fabricantes de
material esportivo.
O lobby para que isso ocorra
tem apoio dentro do Comitê
Olímpico Internacional. Um dos
idealizadores do projeto é o príncipe Albert, de Mônaco, um dos
seus membros mais populares.
Ainda incipiente, como ele mesmo reconhece, a sugestão poderia
ser adotada a partir dos Jogos de
2008. Ela será debatida em reunião organizada pelo comitê, na
Suíça, no início de dezembro.
Na ocasião, o COI vai discutir o
que fazer com a Internet, já que
até agora não vendeu os direitos
de transmissão dos Jogos na rede.
""Aproveitando que se discutirá a
abordagem que o COI dará à nova
mídia, seria bom ver como fica a
questão dos fabricantes de material esportivo", disse o príncipe.
""Já existe, na prática, uma competição entre eles. Os próprios
jornais têm noticiado muito a briga por medalhas entre atletas da
Nike, da Adidas, da Reebok... O
que faríamos seria oficializar algo
que já acontece e, a partir daí, democratizar o acesso aos novos
produtos tecnológicos."
Para ele, um possível quadro de
medalhas entre os fabricantes seria semelhante ao que se faz na F-1. ""No automobilismo existe o
Mundial de pilotos e o de construtores de carros. Na Olimpíada seria algo nesse sentido."
Em Sydney, de uma certa forma
isso já acontece, embora não seja
uma competição oficializada.
A Speedo, por exemplo, ao final
de cada prova de natação, divulga
um ""ranking de medalhas das
marcas de maiô". Anteontem, comemorava o fato de 80% das medalhas de ouro na piscina terem
sido conquistadas por atletas que
usaram o ""fast skin" -maiô inteiriço que ela produz.
A Nike, que concentrou seus investimentos no atletismo, está fazendo o mesmo com o início das
provas no estádio Olímpico.
Com as inovações tecnológicas,
é mais fácil quebrar novos recordes, dizem os fabricantes. E com
eles concordam os atletas.
Na natação, por exemplo, o
maiô inteiriço, feito com material
que desliza melhor e mais rapidamente na água, é capaz de melhorar em até 6% a velocidade dos
nadadores, dizem Speedo, Adidas
e Tyr, famosa por produzi-lo nos
EUA. O Comitê Olímpico Norte-Americano não concorda. Diz
que, no máximo, a melhora do
rendimento chega a 3%.
No atletismo, as novidades são
muitas. Cathy Freeman e Marion
Jones, duas das atletas mais badaladas, prometeram competir deixando só o rosto e as mãos de fora. Terão vantagem sobre as corredoras que não contam com a
nova tecnologia, porque a pele exposta e o cabelo solto não são aerodinâmicos como certos tecidos.
O benefício pode parecer insignificante, mas, como disse Maurice Greene, que competirá com
um novo modelo de tênis em
Sydney, ""0,01s numa prova de 100
m é uma infinidade".
Em esportes como vôlei e basquete, tênis para melhorar a impulsão dos atletas estão em teste.
Alguns Comitês Olímpicos Nacionais têm equipamentos que
geram quase 2.000 pedaços de informação por segundo dos movimentos e da força aplicada em cada um deles por alguns dos principais competidores.
Na ginástica artística, esses dados foram usados para a preparação da equipe romena, que levou
ouro, prata e bronze na prova individual feminina.
Com tantas novidades, há quem
se preocupe com o que o excesso
de tecnologia fará para o esporte.
""A discussão tem de ser muito
serena porque o que está em jogo
numa Olimpíada é o ser humano,
não a máquina", disse Jacques
Rogge, um dos principais membros do COI, que não aprova a tese do príncipe Albert.
Ele acha que o excesso de tecnologia irá beneficiar apenas quem
já tem recursos, aumentando a diferença com os esportistas mais
necessitados.
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