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FUTEBOL
Por trás da máscara
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Foi a terceira vez que a
corda estourou do lado de
Romário. A primeira foi em 1998,
quando ele se contundiu e quis
continuar na seleção, mas foi cortado. A segunda em 2002, quando
um "lobby" infernal comandado
pela Globo queria sua convocação e Felipão resistiu. Agora entrou em choque com o técnico
Alexandre Gama e foi demitido.
Nos três casos houve um descompasso entre sua prepotência e
sua real potência, ou, como dizia
uma velha piada de argentino,
entre o que ele vale e o que pensa
que vale.
Não me entendam mal. Tenho
uma ilimitada admiração pelo
futebol que Romário exibiu até
uns dois anos atrás. Foi um dos
maiores craques a pisar numa
grande área. Foi. Não é mais. Só
que sua ficha ainda não caiu.
Pensa que o assento na janelinha
do ônibus é vitaliciamente seu.
Tudo isso me fez pensar na palavra "máscara", que muitos leitores têm usado para se referir ao
glorioso atacante.
O termo foi usado aqui há alguns dias pelo companheiro Marcos Augusto Gonçalves, a propósito da atuação de Ronaldinho no
jogo entre Brasil e Colômbia.
Concordo com o MAG: Ronaldinho tropeçou nas fitinhas da
máscara. Mas os casos de Romário e do jovem gaúcho são opostos. A noção de "máscara" é elástica e ambígua. Senão, vejamos.
Fora de campo, Ronaldinho é
um rapaz adorável, sem qualquer
traço de arrogância. Dentro das
quatro linhas, porém, quer brilhar o tempo todo, o que o leva às
vezes à firula e ao individualismo.
Romário é o contrário. Só abre
a boca para se autopromover, julga-se o melhor do mundo, diz que
Deus declarou, ao vê-lo nascer:
"Esse é o cara". Seria só engraçado se não resvalasse com freqüência para o desrespeito ao outro,
como ocorreu com Zagallo e Zico
(ofendidos por um "afresco" no
banheiro do bar de Romário) e
agora no caso Gama.
Dentro de campo, porém, enquanto teve pernas e fôlego, Romário foi sempre de uma objetividade mortal. Nunca se perdeu em
adornos e volutas inconseqüentes. Mesmo seus dribles e malabarismos eram sempre trajetos inesperados de chegar ao gol.
Em vista disso, quem é mascarado? Romário ou Ronaldinho?
Ou ambos? Ou nenhum dos dois?
O que caracteriza a máscara? Discurso ou prática? A máscara se
manifesta pela boca ou pelos pés?
Tenho lido e ouvido essa palavra sendo usada para rotular
atletas díspares, como Edmundo,
Diego, Marcelinho Carioca, Djalminha, Roberto Carlos... O que
eles têm em comum?
Minha impressão é que, talvez
sem perceber, o torcedor usa a palavra máscara numa acepção
quase literal, para acusar a distância entre o ser e a aparência.
Quer dizer: mascarado é aquele
cujas realizações não correspondem à presunção. O que vemos é a
máscara, não o verdadeiro rosto.
Pelé chegou a se comparar a
Beethoven e a Michelangelo. Ninguém, que eu saiba, chamou-o de
mascarado. Talvez porque, simplesmente, a obra estivesse à altura do discurso.
A força do San-São
Amanhã, no Morumbi, o São
Paulo vai entrar em campo
contra o Santos com uma dupla
motivação: 1) conquistar três
pontos preciosos para manter a
esperança de ser campeão; 2)
salvar a honra ferida pela desclassificação na Copa Sul-Americana diante de um rival desfalcado de suas principais estrelas. O Santos, por sua vez, joga
para tentar recuperar a liderança ou, pelo menos, continuar
encostado no Atlético-PR. É jogo para encher o Morumbi.
Furacão no Parque
Outro jogaço deve ser o de hoje,
no Parque Antarctica, entre o
Palmeiras e o líder Atlético-PR.
Resta saber se o Furacão, que
perdeu Dagoberto por contusão, saberá manter seu ritmo
arrasador sem um de seus principais articuladores.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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