São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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MOTOR

Consulta ao mago

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos 70, a F-1 era outra. Outra dimensão, outro ambiente, outro comportamento. Era mais aberta, menos comercial. Mais sincera, menos formal. E, se este é um espaço para opinião, A + B e a F-1 era mais divertida, pois.
De lá para cá, pouca coisa sobrou. Entre os escombros, Interlagos, Nurburgring, Spa, Silverstone, Monza. Alteradas, é verdade. Bernie Ecclestone, Max Mosley, Luca di Montezemolo. Também modificados, milionários, há um bom tempo não colocam a mão na graxa. E Pierre Dupasquier.
"Quem?", hão de perguntar. "Dupasquier", responderei. E tentarei justificar, afinal, o que ele faz aqui, nesta coluna, em pleno fim de semana de GP Brasil.
Ser, de certa forma, anfitrião da F-1 por alguns dias, uma vez por ano, tem suas vantagens. Para os jornalistas, é a chance de receber ou arrancar convites para bate-papos com gente influente, gente que pode esclarecer conceitos, explicar o passado, indicar o futuro.
Dupasquier, descobri nesta semana, é um dos melhores para isso. Porque é influente. Porque, ao contrário de Interlagos e Ecclestone, conserva a personalidade, o romantismo, da tal década de 70.
Desde 1962, trabalha na Michelin. Desde 1973, é o diretor de competições. Desde 1977, com um intervalo entre 1984 e 2001, atua na F-1 -e talvez tenha sido esse hiato de 17 anos que o conservou.
Baixinho, cabelos brancos, 67 anos, é chamado de "mago dos pneus". Um mago de discurso direto e métodos simples. Na quinta, para avaliar as condições do asfalto, calçou patins e deu uma volta pelos 4,309 km do circuito...
Mas o que vale a viagem são as opiniões e informações que dispara quando questionado. Têm uma franqueza que até soa ingênua. E repito: servem para entender este fim de ano e ajudam a imaginar o que será do próximo.
"Quem vai ser a principal adversária da Ferrari no ano que vem? A McLaren, que, apesar de não ter mais um Ron Dennis 100% concentrado, tem uma estrutura incrível e ainda tem gente que sabe como e por que fazer. A BAR pode ser só fogo de palha."
"Por que a Williams caiu de produção? Porque os ingleses da equipe não se entendem nem um pouco com os alemães da BMW."
"Se piloto ainda faz a diferença? Faz. Alguns sabem passar aos engenheiros o que acontece com os pneus em cada ponto da pista. Há outros que são uma negação."
"Trabalhei com Ayrton na Toleman e com Piquet na Brabham. O primeiro me impressionou logo de cara. Em Mônaco-84 me chamou no caminhão. Descreveu, metro a metro, o que acontecia com os pneus e tinha uma ansiedade por explicações. Já o Nelson é um grande amigo. Ele vem?"
"Antonio é um bom piloto, faz um ótimo trabalho com a Williams e fez bonito quando teve chance. Nelsinho? Não, ainda não. É muito verde, muito cru, tem que rodar, tem que ganhar experiência para testar um F-1."
"A Ferrari é um sonho. Mas não podemos fazer só o que ela quer e deixar todas as outras na mão."
"Quem ganhará em Interlagos? Kimi Raikkonen. Estou com a impressão de que ele e a McLaren vão andar muito bem aqui."

No braço
De todo o pacotão imposto ontem pela FIA, o que mais encantou o paddock de Interlagos foi essa regra de só um jogo de pneus para o treino oficial e a corrida. Todos terão agora que correr controlando o desgaste de borracha. E isso o computador não faz.

Na memória
Valentino Rossi valeria dez colunas. Dizer que alguém escreveu a história é um baita chavão, mas no caso dele é a pura verdade. O italiano é cada vez mais o sonho de consumo de Ecclestone.

Na lata
De Nelson pai, ontem, em Interlagos, sobre Nelson filho: "Ele ainda é muito verde para a F-1".

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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