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MOTOR
Consulta ao mago
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos 70, a F-1 era outra. Outra
dimensão, outro ambiente,
outro comportamento. Era mais
aberta, menos comercial. Mais
sincera, menos formal. E, se este é
um espaço para opinião, A + B e a
F-1 era mais divertida, pois.
De lá para cá, pouca coisa sobrou. Entre os escombros, Interlagos, Nurburgring, Spa, Silverstone, Monza. Alteradas, é verdade.
Bernie Ecclestone, Max Mosley,
Luca di Montezemolo. Também
modificados, milionários, há um
bom tempo não colocam a mão
na graxa. E Pierre Dupasquier.
"Quem?", hão de perguntar.
"Dupasquier", responderei. E tentarei justificar, afinal, o que ele
faz aqui, nesta coluna, em pleno
fim de semana de GP Brasil.
Ser, de certa forma, anfitrião da
F-1 por alguns dias, uma vez por
ano, tem suas vantagens. Para os
jornalistas, é a chance de receber
ou arrancar convites para bate-papos com gente influente, gente
que pode esclarecer conceitos, explicar o passado, indicar o futuro.
Dupasquier, descobri nesta semana, é um dos melhores para isso. Porque é influente. Porque, ao
contrário de Interlagos e Ecclestone, conserva a personalidade, o
romantismo, da tal década de 70.
Desde 1962, trabalha na Michelin. Desde 1973, é o diretor de
competições. Desde 1977, com um
intervalo entre 1984 e 2001, atua
na F-1 -e talvez tenha sido esse
hiato de 17 anos que o conservou.
Baixinho, cabelos brancos, 67
anos, é chamado de "mago dos
pneus". Um mago de discurso direto e métodos simples. Na quinta, para avaliar as condições do
asfalto, calçou patins e deu uma
volta pelos 4,309 km do circuito...
Mas o que vale a viagem são as
opiniões e informações que dispara quando questionado. Têm
uma franqueza que até soa ingênua. E repito: servem para entender este fim de ano e ajudam a
imaginar o que será do próximo.
"Quem vai ser a principal adversária da Ferrari no ano que
vem? A McLaren, que, apesar de
não ter mais um Ron Dennis
100% concentrado, tem uma estrutura incrível e ainda tem gente
que sabe como e por que fazer. A
BAR pode ser só fogo de palha."
"Por que a Williams caiu de
produção? Porque os ingleses da
equipe não se entendem nem um
pouco com os alemães da BMW."
"Se piloto ainda faz a diferença?
Faz. Alguns sabem passar aos engenheiros o que acontece com os
pneus em cada ponto da pista. Há
outros que são uma negação."
"Trabalhei com Ayrton na Toleman e com Piquet na Brabham.
O primeiro me impressionou logo
de cara. Em Mônaco-84 me chamou no caminhão. Descreveu,
metro a metro, o que acontecia
com os pneus e tinha uma ansiedade por explicações. Já o Nelson
é um grande amigo. Ele vem?"
"Antonio é um bom piloto, faz
um ótimo trabalho com a Williams e fez bonito quando teve
chance. Nelsinho? Não, ainda
não. É muito verde, muito cru,
tem que rodar, tem que ganhar
experiência para testar um F-1."
"A Ferrari é um sonho. Mas não
podemos fazer só o que ela quer e
deixar todas as outras na mão."
"Quem ganhará em Interlagos?
Kimi Raikkonen. Estou com a impressão de que ele e a McLaren
vão andar muito bem aqui."
No braço
De todo o pacotão imposto ontem pela FIA, o que mais encantou o
paddock de Interlagos foi essa regra de só um jogo de pneus para o
treino oficial e a corrida. Todos terão agora que correr controlando o
desgaste de borracha. E isso o computador não faz.
Na memória
Valentino Rossi valeria dez colunas. Dizer que alguém escreveu a história é um baita chavão, mas no caso dele é a pura verdade. O italiano
é cada vez mais o sonho de consumo de Ecclestone.
Na lata
De Nelson pai, ontem, em Interlagos, sobre Nelson filho: "Ele ainda é
muito verde para a F-1".
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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