São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Sem astros, piscina curta eleva Brasil

Prêmio e recorde viram atrativo da Copa, mas não seduzem EUA e Austrália, que usam provas em 25 m como laboratório

Enquanto Thiago Pereira, que disputa etapa em BH, lidera ranking dos 200 m medley na distância menor, é só o 4º na piscina olímpica


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A profusão de medalhas e o recente recorde mundial de Thiago Pereira lançaram novos holofotes sobre um cenário onde o Brasil brilha, ganha dinheiro e pode ser tachado até de potência mundial na natação.
A piscina de 25 m, com metade do tamanho da utilizada em Olimpíadas e introduzida e campeonatos internacionais a partir de 1989, costuma ser um oásis para brasileiros conquistarem status de vencedores e dirigentes promoverem virtudes de suas administrações .
Só que o sucesso dos atletas do país na Copa do Mundo, que inaugura sua última etapa hoje, em Belo Horizonte (MG), mascara uma realidade de escassez técnica, que ainda está longe do vigor dos eventos prestigiados pela elite da natação mundial.
"As grandes nações não dão qualquer atenção às competições em piscina curta", diz Alexandre Pussieldi, técnico brasileiro radicado nos EUA.
Maior potência da modalidade, por exemplo, os EUA realizam suas tradicionais e acirradas competições universitárias e de ensino médio em piscinas de 25 jardas [cerca de 22,86 m]. Em nível mundial, a prioridade são os eventos em 50 m.
"Não há demérito no resultado de Thiago, ele é o melhor do mundo nos 200 m medley na história da natação, mas nem todos os atletas querem ser o melhor nesta piscina", diz Pussieldi. "Para uma avaliação mais precisa, os recordes de curta são relativos, pois os principais nadadores quase não vão a estas competições."
Até 1989, as provas de natação em piscina de 25 m eram pouco badaladas. A federação internacional, então, decidiu mudar o quadro com a Copa do Mundo. A atração: prêmios em dinheiro. Hoje, o circuito dá US$ 100 mil ao vencedor e US$ 50 mil a serem divididos entre os recordistas, entre outros.
O Mundial da distância foi inaugurado em 1993 e criou um calendário internacional bastante apertado, com uma competição importante a cada ano.
As provas em piscina curta são atraentes para o público e possibilitam mais quebras de recordes. Disputados desde 1973, os Mundiais de longa já viram 111 marcas superadas. Os campeonatos em 25 m, que começaram em 1993, tiveram 60.
Mesmo assim, as provas de piscina curta não atraem os maiores nomes do esporte.
"Os principais torneios são em piscina de 50 m, tanto que é chamada de piscina olímpica. Na Copa, os EUA mandam o "time B", a Austrália dá bagagem a novatos", diz Alberto Silva. "Já para o Brasil, é atrativo. A gente fica isolado aqui, é uma boa chance de intercâmbio, de nadar contra adversários que normalmente não encontramos", afirma o técnico do Pinheiros.
A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos incentivou a participação dos atletas na Copa do Mundo nos últimos anos, uma fábrica de medalhas.
Em 2005, Kaio Márcio virou recordista mundial dos 50 m borboleta. Sem boa parte da elite da natação em ação, o Brasil colhe louros na Copa: 17 pódios, sendo 8 ouros, só neste ano. Cenário bem diferente do visto nos Mundiais em piscina de 50 m. Preferidas pela elite, tais competições revelam um Brasil bem menos glamouroso, que não vai ao pódio desde 94 e que não obtém ouro desde 82.
Mas o recorde de Thiago é visto como alento pelos técnicos do país. Hoje, ele lidera o ranking dos 200 m medley em piscina curta. Na longa, é o 4º.


NA TV - Copa do Mundo
Sportv, ao vivo, às 17h



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