|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'Finalíssima dos sonhos' depende dos técnicos
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
²
Leio que o técnico Levir Culpi
está propenso a voltar àquela
escalação ofensiva que deu fama e classificação ao Cruzeiro
nesta temporada. Ou seja: um
cabeça-de-área (Marcos Paulo
ou Ricardinho ou Valdir), Djair
e Valdo; Muller, Marcelo ou
Caio e Fábio Jr. Afinal, só a vitória interessa ao Cruzeiro nesta
tarde. Logo, a ordem é atacar.
Não sou dos que acham que a
simples presença de quatro ou
cinco atacantes natos determinam o grau de ofensividade de
uma equipe. Estou entre os que
vêem na formação de um meio-
campo mais versátil, de toque
verticalizado, isso sim, a caracterização de um time mais
agressivo.
Como bem diz o termo, escalação é o ato de escalar. Isto é, degrau a degrau. E é assim que se
deve armar um time de futebol,
peça por peça, sempre em direção ao gol adversário. Por isso,
começamos a escalação pelo goleiro e terminamos no ponta-esquerda, quando há ponta-esquerda. Não ao contrário. E é
exatamente no ponto de intersecção entre a defesa e o ataque
que se exige sutileza na escolha
dos componentes. Um médio
defensivo no lugar de um meia-
armador pode fazer a grande
diferença entre um time que jogue para frente ou para trás.
Perco-me nessas obviedades
para chegar aonde quero: que
os deuses da bola soprem essa
tentação não só no ouvido direito de Levir Culpi, mas, ao
mesmo tempo, no esquerdo de
Wanderley Luxemburgo, que
está arquitetando o que fazer
com a ausência de Gilmar. O
primeiro impulso, por certo, será apenas substituir um médio
de retração, combativo, até
mesmo turbulento, por outro de
perfil similar. No caso, Amaral.
Só que há um detalhe: Amaral
é mais desgarrado do que Gilmar, uma âncora à frente dos
seus beques. E isso pode trazer
graves problemas para um time
que joga pelo empate diante de
um adversário reconhecidamente hábil nas tramas de
meio-campo e ataque.
Além do mais, a surpresa, no
futebol como na guerra, sempre
foi e será um elemento vital. Como ninguém espera que o Corinthians saia tocando a bola
pra cima do Cruzeiro, amparado pelo empate que lhe dá o título, bem que Luxemburgo surpreenderia se aproveitasse o ensejo para enfiar Ricardinho ao
lado de Vampeta, Rincón e
Marcelinho, refazendo aquele
quadrado de meio-campo que
foi a chave do sucesso desse time
na primeira fase do Campeonato Brasileiro e que lhe conferiu a
vantagem com que joga hoje.
Aí, sim, teríamos uma finalíssima dos sonhos. E uma vitória
do futebol no que ele tem de
mais fino e emocionante, qualquer que seja o resultado.
Mais do que uma imprevidência, a marcação desse jogo
para as 16h, no Morumbi, foi
uma demonstração de arrogante desprezo pelo bem-estar do
cidadão comum de São Paulo.
As autoridades do trânsito e
da segurança estão prevendo o
caos, sobretudo se o Corinthians
for campeão e a nação alvinegra for às ruas para celebrar o
feito, num dia de trabalho normal, acrescido da fuga, ao seu
cabo, para os feriados do Natal.
Pelo jeito, a telinha de TV não
mais se satisfaz em tomar o lugar da janela das casas para reproduzir uma realidade virtual
que se confunde com a verdadeira nas cabecinhas das pessoas. Quer, virtualmente, entubar a própria realidade.
²
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|