São Paulo, quarta, 23 de dezembro de 1998

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'Finalíssima dos sonhos' depende dos técnicos

ALBERTO HELENA JR.

da Equipe de Articulistas
² Leio que o técnico Levir Culpi está propenso a voltar àquela escalação ofensiva que deu fama e classificação ao Cruzeiro nesta temporada. Ou seja: um cabeça-de-área (Marcos Paulo ou Ricardinho ou Valdir), Djair e Valdo; Muller, Marcelo ou Caio e Fábio Jr. Afinal, só a vitória interessa ao Cruzeiro nesta tarde. Logo, a ordem é atacar.
Não sou dos que acham que a simples presença de quatro ou cinco atacantes natos determinam o grau de ofensividade de uma equipe. Estou entre os que vêem na formação de um meio- campo mais versátil, de toque verticalizado, isso sim, a caracterização de um time mais agressivo.
Como bem diz o termo, escalação é o ato de escalar. Isto é, degrau a degrau. E é assim que se deve armar um time de futebol, peça por peça, sempre em direção ao gol adversário. Por isso, começamos a escalação pelo goleiro e terminamos no ponta-esquerda, quando há ponta-esquerda. Não ao contrário. E é exatamente no ponto de intersecção entre a defesa e o ataque que se exige sutileza na escolha dos componentes. Um médio defensivo no lugar de um meia- armador pode fazer a grande diferença entre um time que jogue para frente ou para trás.
Perco-me nessas obviedades para chegar aonde quero: que os deuses da bola soprem essa tentação não só no ouvido direito de Levir Culpi, mas, ao mesmo tempo, no esquerdo de Wanderley Luxemburgo, que está arquitetando o que fazer com a ausência de Gilmar. O primeiro impulso, por certo, será apenas substituir um médio de retração, combativo, até mesmo turbulento, por outro de perfil similar. No caso, Amaral.
Só que há um detalhe: Amaral é mais desgarrado do que Gilmar, uma âncora à frente dos seus beques. E isso pode trazer graves problemas para um time que joga pelo empate diante de um adversário reconhecidamente hábil nas tramas de meio-campo e ataque.
Além do mais, a surpresa, no futebol como na guerra, sempre foi e será um elemento vital. Como ninguém espera que o Corinthians saia tocando a bola pra cima do Cruzeiro, amparado pelo empate que lhe dá o título, bem que Luxemburgo surpreenderia se aproveitasse o ensejo para enfiar Ricardinho ao lado de Vampeta, Rincón e Marcelinho, refazendo aquele quadrado de meio-campo que foi a chave do sucesso desse time na primeira fase do Campeonato Brasileiro e que lhe conferiu a vantagem com que joga hoje.
Aí, sim, teríamos uma finalíssima dos sonhos. E uma vitória do futebol no que ele tem de mais fino e emocionante, qualquer que seja o resultado.
Mais do que uma imprevidência, a marcação desse jogo para as 16h, no Morumbi, foi uma demonstração de arrogante desprezo pelo bem-estar do cidadão comum de São Paulo.
As autoridades do trânsito e da segurança estão prevendo o caos, sobretudo se o Corinthians for campeão e a nação alvinegra for às ruas para celebrar o feito, num dia de trabalho normal, acrescido da fuga, ao seu cabo, para os feriados do Natal.
Pelo jeito, a telinha de TV não mais se satisfaz em tomar o lugar da janela das casas para reproduzir uma realidade virtual que se confunde com a verdadeira nas cabecinhas das pessoas. Quer, virtualmente, entubar a própria realidade.
²


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas


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