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BASQUETE
Lawrence da Arábia
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Por quatro anos, ele pediu
uma vaga no time da escola.
Por quatro anos, ouviu a gargalhada de desdém do professor de
educação física. Mas, mesmo que
nunca viesse a jogar, a devoção
ao basquete era maior que tudo.
Lawrence Frank, farto da caipirice travestida de Nova Jersey, decidiu então se entregar à caipirice
assumida de Indiana, no interior
agrícola norte-americano, o
grande celeiro da bola laranja.
Pagou a matrícula, fez a mala e
se mandou para Bloomington.
Pouco se lixava para o curso de
pedagogia e para as perspectivas
profissionais que ele podia oferecer. Queria, sim, viver no campus
da equipe universitária mais badalada dos EUA, estar ao lado do
prestigioso técnico Bob Knight.
Dessa vez nem se atreveu a se
inscrever. Se não a conseguira no
colegial da obscura Teaneck, como o garoto mais baixo de toda a
classe poderia pretender uma
chance nos poderosos Hoosiers?
Enfiou a viola no saco e ofereceu-se como roupeiro. Por quatro
anos, entre cuecas fermentadas e
copos de isotônicos, ao menos
participou do dia-a-dia do time
-e anotou os métodos de Knight.
Ao se formar, em 1992, tomou
coragem de dirigir a palavra ao
treinador, tão famoso pelos revolucionários conhecimentos táticos
como pelo gênio temperamental.
Apareceu certa manhã no escritório do técnico e lá ficou sentado
o dia todo até ser avisado que
Knight "andava muito ocupado".
Por 12 dias, repetiu-se a rotina.
O jovem aparecia, sentava e saía
sem ser recebido. No 13º, admirado com a persistência (petulância!), o "ocupado" Knight cedeu.
Nem Bob nem Lawrence imaginavam que a noite marcaria o
início de uma meteórica carreira,
sem precedentes nos EUA.
Impressionado com a erudição
esportiva do rapaz, Knight arranjou-lhe trabalho nas universidades de Tennessee e Marquette, sob
a tutela de Kevin O'Neill (hoje
treinador do Toronto, na NBA).
Mais impressionado ainda,
O'Neill recomendou o jovem à liga profissional. Lawrence cumpriu estágio como olheiro e consultor no Vancouver Grizzlies até
conseguir um emprego como técnico-assistente dos Nets, uma volta triunfal a sua Nova Jersey.
Em 26 de janeiro, os donos da
franquia telefonaram. Queriam-no para substituir Byron Scott,
que treinara a equipe a duas finais consecutivas, mas que perdera terreno na Conferência Leste e
o respeito do astro Jason Kidd.
Explicaram-lhe que o clube estava no vermelho. Como os técnicos boleiros costumam cobrar alto, um teórico teria de dar conta.
"Os jogadores desejam alguém
que seja confiante e honesto. Que
entenda o jogo, aprecie sinceramente o jogo e esteja disposto a
dar duro pelo jogo", declarou o
rato de prancheta ao assumir.
A imprensa reagiu com incredulidade à mensagem "não-sou-um-deles-mas-penso-como-eles".
A equipe amotinada, não.
Ela se reconheceu no estranho,
mas aplicado e afetuoso, líder.
Guiada por um redivivo Kidd,
voltou a praticar um basquete solidário. Invicta há incríveis 13
partidas, deu ao técnico de apenas 33 anos um recorde e ao campeonato uma história de amor.
Oriente-se 1
Nem a contusão do "all-star" Ron Artest, o melhor marcador da
NBA, derruba o Indiana do topo da Conferência Leste. Com o gatilho
Al Harrington na ala, o time perdeu só uma vez em sete rodadas.
Oriente-se 2
A contratação inesperada do indisciplinado ala-pivô Rasheed Wallace embalou a torcida do Detroit em nostalgia. No final da década de
80, outros "bad boys" renderam à cidade seus dois únicos títulos.
Oriente-se 3
New York, Miami e Cleveland. Duas dessas três equipes que ressurgiram das cinzas neste ano devem se esgueirar entre os classificados e
garantir os playoffs do Leste mais divertidos em muito tempo.
E-mail melk@uol.com.br
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