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FUTEBOL
Samba no pé
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Carnaval e futebol, duas faces indissociáveis da cultura
popular brasileira encontraram-se no Rio neste fim de semana de
maneira gloriosa.
Um sábado de Carnaval talvez
não fosse, à primeira vista, a data
ideal para uma final de Taça
Guanabara, mas no caso desse
Fla-Flu ninguém tinha a menor
dúvida de que o Mário Filho estaria cheio, decorado e fantasiado
para o grande baile. E o baile foi
rubro-negro, como estava escrito
há 6.000 anos, quisessem ou não
meus amigos tricolores.
A festa serviu para demonstrar
que, apesar dos problemas por
que tem passado, o futebol carioca possui os ingredientes que podem retirá-lo da crise. Tem camisas, tem tradição e tem, acima de
tudo, um público apaixonado.
Não esqueçamos que a maior torcida do país é a do Flamengo.
Se de uma maneira geral os times brasileiros acumulam dívidas e têm problemas para formar
e manter bons elencos, no Rio essa
situação foi agravada por uma
safra especialmente predatória,
medíocre e corrupta de dirigentes.
Felizmente, os sinais recentes
parecem ser de reação. A entrada
em cena de Bebeto de Freitas e
Márcio Braga foi um alento. São
ambos verdadeiramente identificados com seus clubes e com a cidade. E são pessoas civilizadas,
dispostas a criar uma alternativa
ao submundo que tem dado as
cartas no futebol carioca.
Por falar em dar as cartas, o
"Waldomirogate" chamou a
atenção para algo que, embora
sabido, vinha sendo negligenciado por muitos: as relações perigosas entre a jogatina, setores do PT
e o mundo do esporte.
É sintomático que o homem do
bingo na Câmara dos Deputados
seja o sr. Gilmar Machado, um
petista que parece acreditar como
poucos na sorte. Ele é o mesmo
que tentou atrapalhar a aprovação da chamada Lei de Moralização do Futebol e que costura o Estatuto do Desporto, a respeito do
qual toda a vigilância será pouca.
Voltando ao Fla-Flu, referi-me
ao Maracanã como Mário Filho.
Era assim que Nelson Rodrigues
fazia questão de chamá-lo. Sempre usava o nome oficial, afinal
de contas, o nome de seu irmão.
Um Fluminense, outro Flamengo
até morrer, Nelson e Mário encarnavam um belo Fla-Flu familiar.
Coube a Nelson imortalizar o
folclore do clássico, com crônicas
inesquecíveis, que aprendi a ler,
ainda garoto, pelas mãos de meu
pai, de quem ganhei "Viagem em
torno de Pelé", de Mário, um dos
primeiros livros que devorei.
O Fla-Flu, com tantas histórias
e tantos ilustres admiradores, por
sua tradição, sua fineza, sua popularidade, por tudo, enfim, que é
capaz de reunir, é o clássico símbolo do futebol brasileiro.
Fla-Flu, a propósito, foi um dos
motes que Caetano Veloso e José
Miguel Wisnik inventaram como
ponto de partida para a trilha
musical que compõem para o
grupo de dança mineiro Corpo.
Esquema Parreira
A seleção mais uma vez decepcionou. Ficou no 0 a 0 com a Irlanda. Na verdade o time perdeu chances e poderia ter perfeitamente vencido. Isso não
significa que tenha jogado bem.
Parreira está certo em insistir
na formação de um time. Para
isso, embora possa ser irritante,
é preciso conter o experimentalismo e manter os jogadores em
que se acredita. A meu ver, o
problema é que esse esquema
se mostra atrasado e tem grandes chances de flopar. Não diria
que corremos risco de perder a
classificação, mas certamente
estamos ameaçados de ter um
time previsível e fácil de marcar, o que já é um problema sério. Existem questões relativas
ao uso dos laterais e ao posicionamento e função do Zé Roberto que precisarão ser melhor
equacionadas.
E-mail mag@folhasp.com.br
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