São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Samba no pé

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Carnaval e futebol, duas faces indissociáveis da cultura popular brasileira encontraram-se no Rio neste fim de semana de maneira gloriosa.
Um sábado de Carnaval talvez não fosse, à primeira vista, a data ideal para uma final de Taça Guanabara, mas no caso desse Fla-Flu ninguém tinha a menor dúvida de que o Mário Filho estaria cheio, decorado e fantasiado para o grande baile. E o baile foi rubro-negro, como estava escrito há 6.000 anos, quisessem ou não meus amigos tricolores.
A festa serviu para demonstrar que, apesar dos problemas por que tem passado, o futebol carioca possui os ingredientes que podem retirá-lo da crise. Tem camisas, tem tradição e tem, acima de tudo, um público apaixonado. Não esqueçamos que a maior torcida do país é a do Flamengo.
Se de uma maneira geral os times brasileiros acumulam dívidas e têm problemas para formar e manter bons elencos, no Rio essa situação foi agravada por uma safra especialmente predatória, medíocre e corrupta de dirigentes.
Felizmente, os sinais recentes parecem ser de reação. A entrada em cena de Bebeto de Freitas e Márcio Braga foi um alento. São ambos verdadeiramente identificados com seus clubes e com a cidade. E são pessoas civilizadas, dispostas a criar uma alternativa ao submundo que tem dado as cartas no futebol carioca.
 
Por falar em dar as cartas, o "Waldomirogate" chamou a atenção para algo que, embora sabido, vinha sendo negligenciado por muitos: as relações perigosas entre a jogatina, setores do PT e o mundo do esporte.
É sintomático que o homem do bingo na Câmara dos Deputados seja o sr. Gilmar Machado, um petista que parece acreditar como poucos na sorte. Ele é o mesmo que tentou atrapalhar a aprovação da chamada Lei de Moralização do Futebol e que costura o Estatuto do Desporto, a respeito do qual toda a vigilância será pouca.
 
Voltando ao Fla-Flu, referi-me ao Maracanã como Mário Filho. Era assim que Nelson Rodrigues fazia questão de chamá-lo. Sempre usava o nome oficial, afinal de contas, o nome de seu irmão. Um Fluminense, outro Flamengo até morrer, Nelson e Mário encarnavam um belo Fla-Flu familiar.
Coube a Nelson imortalizar o folclore do clássico, com crônicas inesquecíveis, que aprendi a ler, ainda garoto, pelas mãos de meu pai, de quem ganhei "Viagem em torno de Pelé", de Mário, um dos primeiros livros que devorei.
O Fla-Flu, com tantas histórias e tantos ilustres admiradores, por sua tradição, sua fineza, sua popularidade, por tudo, enfim, que é capaz de reunir, é o clássico símbolo do futebol brasileiro.
 
Fla-Flu, a propósito, foi um dos motes que Caetano Veloso e José Miguel Wisnik inventaram como ponto de partida para a trilha musical que compõem para o grupo de dança mineiro Corpo.

Esquema Parreira
A seleção mais uma vez decepcionou. Ficou no 0 a 0 com a Irlanda. Na verdade o time perdeu chances e poderia ter perfeitamente vencido. Isso não significa que tenha jogado bem. Parreira está certo em insistir na formação de um time. Para isso, embora possa ser irritante, é preciso conter o experimentalismo e manter os jogadores em que se acredita. A meu ver, o problema é que esse esquema se mostra atrasado e tem grandes chances de flopar. Não diria que corremos risco de perder a classificação, mas certamente estamos ameaçados de ter um time previsível e fácil de marcar, o que já é um problema sério. Existem questões relativas ao uso dos laterais e ao posicionamento e função do Zé Roberto que precisarão ser melhor equacionadas.

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