São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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FUTEBOL

A sorte dos treinadores

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A partir da Copa de 94, quando passei a observar o futebol nos seus detalhes, escrevi várias vezes que os técnicos europeus tinham mais conhecimentos táticos do que os brasileiros. Repetia o que muitos diziam. Hoje, sei que não é bem assim.
Essa fascinação pelo treinador europeu é conseqüência do nosso complexo de inferioridade, de acharmos que os profissionais, em qualquer área, dos países do primeiro mundo, são mais competentes. O Brasil, além de mais craques, possui, pelo menos em alguns grandes clubes e na seleção, melhores profissionais nas comissões técnicas (treinadores e especialistas de apoio aos atletas).
No fim de semana, foi duro ver de novo Gilberto Silva atuar no Arsenal de meia direita, totalmente fora de lugar. Na Itália, quando joga, Recoba é o destaque da Inter, mas quase sempre é reserva de algum jogador medíocre.
Com a ausência do Ronaldo nos últimos jogos, o técnico do Real Madrid, Carlos Queiroz, colocou o Solari na função do Zidane, que foi fazer a função do Raúl e esse a do Ronaldo. Além da falta do Ronaldo, o time perdeu a troca de passes no meio e pioraram as atuações do Zidane e do Raúl. Se o Solari fosse um craque se justificaria tantas mudanças, mas ele é apenas um razoável armador.
Contra a Real Sociedad, o Barcelona dominava a partida e criava muitas chances de gols. Ronaldinho tinha uma atuação espetacular. O gol sairia a qualquer momento. Aí, o técnico tirou o único atacante mais fixo, Saviola (perdeu muitos gols), colocou um ponta direita (técnico holandês é obcecado por pontas) e o Ronaldinho de centroavante, de costas para o gol. As chances desapareceram. Mas, no último minuto, numa falta, o extraordinário Ronaldinho fez o gol da vitória.
A sorte de muitos treinadores é que geralmente existe um craque para salvá-los.

Paulistão
Não foi surpresa a vitória do São Caetano. O São Paulo estava invicto, com um time organizado (nesse jogo só atuou pelo meio), mas não tinha enfrentado uma única equipe do mesmo nível.
O torcedor precisa compreender que o São Paulo não foi eliminado por um time inferior.
O Santos teve dificuldades para vencer a União Barbarense. Mesmo se o Robson fizer gols decisivos nesses jogos finais, está claro após tantas partidas que ele não é o centroavante que o Leão imaginara. Num time como o do Santos, o centroavante fazer gols em algumas partidas, sem ter outras virtudes, não é suficiente.
Até o volante Fabiano marcava gols quando jogava de centroavante. Se colocarem o zagueiro Alex de centroavante (não estou sugerindo esta loucura), ele também vai fazer muitos gols.
Antes do campeonato, existia a dúvida se o Palmeiras estava no mesmo nível dos outros grandes. Hoje, não há mais. O Verdão é também candidato ao título. Mas o clube precisa contratar mais um atacante para o Campeonato Brasileiro.
Queria saber quantos gols o Adriano Chuva fez em equipes da primeira divisão. No Cruzeiro, ele jogou por muito tempo e, com certeza, foram raríssimos. No Palmeiras, continua em branco. O seu forte deve ser o passe.

Cariocão
Além do Fluminense concordar com a transferência do local da partida contra o Americano, foi lamentável a conduta do Ricardo Gomes ao escalar uma equipe mista. Era também uma boa oportunidade para o técnico observar o provável time titular, que ainda não jogou sob seu comando. O Botafogo foi prejudicado. O fato não anula a fragilidade do time dirigido pelo Levir Culpi.
Como fez com Felipe, Abel poderá dar ao Athirson condições para jogar melhor do que antes. Porém não será fácil. Como o Flamengo atua com três no meio-campo, Athirson terá de tomar o lugar do Zinho ou jogar na lateral, onde o Roger está muito bem.
A prioridade do Flamengo não era a de um lateral ou de um armador (posição que o Athirson quer jogar), e sim de um atacante.

Seleção
A maioria das pessoas que discordou de minha seleção, como José Geraldo Couto, não escalaria o Lúcio e ou Edmilson. Tive a mesma dúvida. Edu Dracena, que passa por um péssimo momento, e Alex, do Santos, ainda não me convenceram que já mereçam ser titulares. Por isso, coloquei os dois na reserva. Não há outros excepcionais zagueiros.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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