São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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JUCA KFOURI

O clássico engasgado

Palmeiras e São Paulo nunca termina. É pilha, são três pênaltis, é gol de mão ou é gás no vestiário

COMO "1968", o ano que não terminou do jornalista Zuenir Ventura, também o Choque Rei, do jornalista Thomaz Mazzoni, nunca acaba.
E, se antes teve a farsa da pilha do goleiro Bosco, ou os verdadeiros três pênaltis, ou ainda a mão invisível do Imperador, o fato é que agora foi muito mais grave com o episódio do gás. Grave e imperdoável.
O Choque Rei perdeu sua majestade, virou plebeu, coisa de cafajestes mesmo.
E a mesma FPF que pecou por demorar para definir o Palestra Itália como palco do segundo jogo das semifinais voltou a errar ao se apressar na marcação do segundo jogo das finais para um estádio que deveria estar, no mínimo, sob quarentena. Ora, como pode o presidente da FPF reconhecer o óbvio, a responsabilidade objetiva do Palmeiras pelo que aconteceu, e, mesmo assim, manter o estádio como sede da decisão do campeonato?
Diga-se que ninguém, aqui, está dizendo que a culpa do que aconteceu é da direção palmeirense, que falhou sim ao não cercar o vestiário visitante de todos os cuidados, mas que, é óbvio, não tinha nenhum interesse em causar tamanho prejuízo para si mesmo.
Diga-se, ainda, que o São Paulo, por meio de uma carta leviana e irresponsável de seu presidente dias antes da partida, botou lenha na fogueira, contribuiu para o clima bélico e permitiu, ao mandar filmar os bastidores da partida, que se desconfiasse de suas intenções.
No entanto aceitar a versão luxemburguiana (embora, de fato, ele conheça as malandragens do futebol) e adotá-la como fez a direção alviverde são tão deploráveis quanto a constante vitimização tricolor, porque é absurdo supor que tenha sido o próprio São Paulo que agiu contra seus atletas.
Ainda se o time não tivesse voltado para disputar o segundo tempo, a teoria até poderia ganhar alguma veracidade...
A nenhum dos lados interessava acontecer o que aconteceu, e tudo leva a crer que tenha sido mais uma obra de torcedor ensandecido.
O inaceitável, no entanto, é que enlouqueçam todos, cartolas dos dois lados, nesta briga de ódios que vem desde a década de 40, quando o São Paulo era da elite, e o Palmeiras, clube de colônia, coisa que nem um nem outro é mais, tão espalhados que estão pelo país afora.
A ponto de cartolas alviverdes plantarem que um simples aparelho de rádio, passado por Fernando de Barros e Silva, editor de Brasil desta Folha, ao pai Leco, vice-presidente de futebol do São Paulo, possa ser a prova do crime...
O São Paulo precisa, sim, aprender a perder, e o Palmeiras precisa, sim, aprender a voltar a ganhar.

Alívio e desafio
O jogo mais importante deste abril para o São Paulo foi vencido diante do Atlético Nacional, porque seguir na Libertadores é mais valioso que decidir o Campeonato Paulista. Foi um 1 a 0 sofrido, inconvincente, mas salvador. E o Palmeiras, diante do Sport, também tem hoje um jogo mais essencial, ao fim de tudo, que o contra a Ponte Preta. Porque o título da Copa do Brasil também vale muito mais que o do Estadual.


blogdojuca@uol.com.br

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