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ATENAS 2004
Filha de exilados ganha vaga na luta livre
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Patrícia Miranda ratificou ontem seu favoritismo e conquistou
uma vaga nos Jogos de Atenas.
Foi o primeiro passo de um caminho cheio de desconfianças e
preconceitos que a norte-americana teve de superar para chegar à
primeira disputa feminina da luta
livre em Olimpíadas.
Patrícia, hoje com 24 anos, escolheu a modalidade ainda na adolescência. Entrou na contramão
das meninas de sua idade e não
encontrou alternativa a não ser
tentar lutar contra homens.
A opção da filha despertou o interesse de Luis Adura Miranda.
Ele chegou a ameaçar processar o
colégio em que ela estudava, na
Califórnia: não queria ver Patrícia
treinando ao lado dos meninos.
O pai "durão" é um ex-militante
de esquerda que deixou o Brasil
em 1969, durante a ditadura militar. Após alguns anos de exílio no
Canadá, aproveitou a assinatura
da Anistia e se mudou com a família para os EUA em 1979.
Miranda só cedeu aos apelos da
filha quando fez uma imposição:
ela poderia ser lutadora desde que
tivesse sempre boas notas.
Um dos principais resultados
do acordo foi visto ontem. Líder
do ranking dos EUA, Patrícia só
precisou enfrentar a vencedora da
primeira fase da seletiva olímpica.
A definição aconteceu em melhor de três combates. Patrícia
venceu as duas primeiras lutas
contra Clarissa Chun (6 a 3 e 10 a
0) e ficou com a vaga.
Miranda, que costuma evitar assistir à filha, foi a Indianápolis.
"Eu fiquei aflito. Acabo lutando
mais do que ela, só que contra a
cadeira. Mas foi bonito. Estou orgulhoso, e Patrícia está muito feliz", afirmou à Folha ontem.
Miranda espera agora poder ver
o resultado mais expressivo do
acordo feito há mais de dez anos.
Como é da categoria até 48 kg,
que deve abrir a disputa em Atenas, Patrícia pode se tornar a primeira mulher na história a ganhar
o ouro olímpico na luta livre.
Depois, correrá para iniciar as
aulas de Direito em Yale. Sua vaga
ficará guardada até setembro, privilégio raro conquistado graças às
notas altas que a deixaram lutar.
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