São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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FUTEBOL

O pecado da soberba

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Há quem diga que o grande defeito de Vanderlei Luxemburgo é a vaidade. Mas ontem o que levou seu time ao desastre foi outro pecado capital: a soberba.
Jogando em casa contra o Palmeiras, o treinador resolveu poupar seus principais titulares -Diego, Robinho e Renato- para o jogo do meio da próxima semana contra o Once Caldas, pela Libertadores da América.
Entrevistado à beira do campo no início do clássico de ontem, Luxemburgo deixou claro que esperava decidir a partida no primeiro tempo, para não ter de lançar mão de seus três astros. Em outras palavras, menosprezou a equipe palmeirense. O preço que pagou por isso foi bem alto.
O Santos até que começou bem, mantendo a posse de bola e criando chances de gol. Mas bastou uma falha de marcação, "corrigida" com a falta e a expulsão do zagueiro Pereira, para a balança se voltar contra o Peixe.
O treinador santista demorou a reagir e, quando o fez, errou. Em vez de colocar um zagueiro em campo (Narciso, no caso), recuou Paulo Almeida para a defesa. Com isso, não apenas deixou de recompor a zaga como também enfraqueceu o meio-campo, setor que o Palmeiras passou a dominar, com seus quatro volantes de muita garra e mobilidade.
No fim das contas, Luxemburgo teve de escalar Robinho, Diego e Renato em condições ainda mais desgastantes, ou seja, com um jogador a menos e o placar adverso. Resultado: além de cansados, seus titulares agora vão à Colômbia também abatidos, para não dizer humilhados pela goleada.
Se não conseguir a proeza de vencer o Once Caldas, o Santos cairá fora da Libertadores e só lhe restará o Brasileirão. A idéia de que este, por ser um torneio longo, concede tempo para a recuperação é bastante duvidosa. Com apenas seis pontos e o maior número de derrotas do campeonato (cinco), o Santos terá que penar muito para conseguir um lugar entre os quatro primeiros e garantir vaga na Libertadores do ano que vem.
De quebra, o Santos ajudou o Palmeiras a arrefecer sua crise. Descontadas as falhas crônicas da zaga nas jogadas aéreas, o alviverde jogou muito bem, bloqueando as principais jogadas ofensivas santistas e servindo-se bem da velocidade de Muñoz e de Vágner nos contra-ataques.
Pena que o clube está prestes a perder seu artilheiro para o futebol russo. E, cá entre nós, Vágner Love no CSKA é um tremendo desperdício. Um fato quase tão lamentável quanto ver o cruzeirense Alex partir, como tudo indica, para um ostracismo na Turquia. Já dizia Paulinho da Viola, dinheiro na mão é vendaval.

Poupar titulares pensando na Libertadores também custou caro ao São Paulo, que perdeu no Mineirão a invencibilidade e a liderança diante do Cruzeiro. Alguns clubes parecem ainda não ter entendido que os pontos disputados agora valem tanto quanto os das últimas rodadas.


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