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BASQUETE
Segunda chamada
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
"Plante um pé no chão, erga a outra perna o máximo possível e ponha este pé contra a parede. Vou medir o ângulo
e descobrir a sua flexibilidade."
"Esta é uma trave, só dez centímetros de largura, igual à da ginástica olímpica. Suba. Assuma a
posição de defesa, joelhos flexionados e braços levantados. Fique
imóvel até não aguentar. Aí, siga
meus movimentos, como um espelho. Preciso ver seu equilíbrio."
"Deite no chão e faça quantas
flexões de braço puder. A força da
cintura para cima é muito importante no basquete daqui."
"Hora de fazer cestas. Você chutará de vários pontos da quadra,
pois desejo saber o alcance de seu
arremesso. Mas, antes de cada
sessão, você dará tiros de velocidade, correndo meia quadra ou a
quadra toda. Cronometrarei os
tempos. Valorizamos tanto a rapidez como a resistência."
"Agora, quero ver se você é hábil e criativo. Dois ex-jogadores
vão marcá-lo, um grudado e outro na sobra. Drible-os e parta em
direção da cesta. No momento da
bandeja, um de meus assistentes,
postado sob a tabela, tentará
acertá-lo com este porrete de espuma. Não é um teste de coragem
apenas, mas de concentração."
"Vê aqueles sujeitos ali? Também querem uma chance e jogam
na sua posição. Enfrente-os, um
contra um. Que vença o melhor."
"Cansado? Vamos repetir os
exercícios de arremesso e depois
conferir seus lances livres. Você
sabe, uma partida pode ser definida nos últimos momentos..."
"Agora, sente e responda ao
questionário psicotécnico. São 50
perguntas. Você tem cinco minutos. Depois, vamos conversar.
Quero conhecer mais sua vida
pessoal, sua história no esporte."
Memphis, Golden State, Boston,
Seattle, Milwaukee, New York...
Cada equipe possui seus métodos
de avaliar -e torturar- talentos. Não obrigatoriamente na ordem descrita acima, marca-registrada dos "sargentos" do Detroit.
Mas, de cidade em cidade, de time em time, ele cumpriu o ritual.
E, sem saber inglês, foi aprovado.
Os norte-americanos impressionaram-se com sua altura (1,90 m)
e envergadura (2,10 m), singulares para um armador de 20 anos.
Constataram que é ágil e habilidoso com a bola. Que arremessa
bem e demonstra fome de cesta.
Gostaram de saber que a bola
laranja fez parte de sua infância,
que a família o incentivou, que o
irmão o obrigou a treinar sério.
Perceberam que a falta de visão
do jogo e de fluência no idioma
retardarão sua adaptação. Um
armador que comete erros e não
pode se comunicar? Mas concluíram que isso tudo o tempo poderá
resolver. Importa, sim, que o garoto tem corpo, alma e talento para o jogo. Importa, sim, que, como
nunca, os negócios estão abertos
para o olhar "estrangeiro".
Os entusiasmados já o põem
nos "top ten" do vestibular anual
do campeonato. Mas a faixa dos
11-20 primeiros selecionados do
"draft" parece mais provável.
O certo é que, nesta quinta-feira, Mr. Barbosa, o Leandrinho
que brilhava em Bauru (SP), será
chamado pelo microfone do todo-poderoso David Stern. Um ano
após a proeza de Nenê Hilário,
outro brasileiro vai jogar na NBA.
Garimpo 1
Red Auerbach, nove vezes campeão pelo Boston nos anos 50/60, foi o
primeiro olheiro da NBA. Até então, as equipes, acomodadas, costumavam se reforçar com atletas de sua região. O legendário técnico,
por exemplo, cruzou os EUA para arrancar da Califórnia o gigante
que se tornaria o mais vitorioso jogador da liga, o pivô Bill Russell.
Garimpo 2
Até 1990, os times da liga no máximo enviavam olheiros para a Olimpíada. Hoje, os 29 têm representantes na Europa, à cata de talentos.
Garimpo 3
Fala-se em 14 "estrangeiros" neste "draft" (2002 registrou o recorde
de 17). O pivô sérvio Darko Milicic, 2,13 m, será o segundo escolhido.
E-mail melk@uol.com.br
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