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São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003

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BASQUETE

Segunda chamada

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

"Plante um pé no chão, erga a outra perna o máximo possível e ponha este pé contra a parede. Vou medir o ângulo e descobrir a sua flexibilidade."
"Esta é uma trave, só dez centímetros de largura, igual à da ginástica olímpica. Suba. Assuma a posição de defesa, joelhos flexionados e braços levantados. Fique imóvel até não aguentar. Aí, siga meus movimentos, como um espelho. Preciso ver seu equilíbrio."
"Deite no chão e faça quantas flexões de braço puder. A força da cintura para cima é muito importante no basquete daqui."
"Hora de fazer cestas. Você chutará de vários pontos da quadra, pois desejo saber o alcance de seu arremesso. Mas, antes de cada sessão, você dará tiros de velocidade, correndo meia quadra ou a quadra toda. Cronometrarei os tempos. Valorizamos tanto a rapidez como a resistência."
"Agora, quero ver se você é hábil e criativo. Dois ex-jogadores vão marcá-lo, um grudado e outro na sobra. Drible-os e parta em direção da cesta. No momento da bandeja, um de meus assistentes, postado sob a tabela, tentará acertá-lo com este porrete de espuma. Não é um teste de coragem apenas, mas de concentração."
"Vê aqueles sujeitos ali? Também querem uma chance e jogam na sua posição. Enfrente-os, um contra um. Que vença o melhor."
"Cansado? Vamos repetir os exercícios de arremesso e depois conferir seus lances livres. Você sabe, uma partida pode ser definida nos últimos momentos..."
"Agora, sente e responda ao questionário psicotécnico. São 50 perguntas. Você tem cinco minutos. Depois, vamos conversar. Quero conhecer mais sua vida pessoal, sua história no esporte."
Memphis, Golden State, Boston, Seattle, Milwaukee, New York... Cada equipe possui seus métodos de avaliar -e torturar- talentos. Não obrigatoriamente na ordem descrita acima, marca-registrada dos "sargentos" do Detroit.
Mas, de cidade em cidade, de time em time, ele cumpriu o ritual. E, sem saber inglês, foi aprovado.
Os norte-americanos impressionaram-se com sua altura (1,90 m) e envergadura (2,10 m), singulares para um armador de 20 anos.
Constataram que é ágil e habilidoso com a bola. Que arremessa bem e demonstra fome de cesta.
Gostaram de saber que a bola laranja fez parte de sua infância, que a família o incentivou, que o irmão o obrigou a treinar sério.
Perceberam que a falta de visão do jogo e de fluência no idioma retardarão sua adaptação. Um armador que comete erros e não pode se comunicar? Mas concluíram que isso tudo o tempo poderá resolver. Importa, sim, que o garoto tem corpo, alma e talento para o jogo. Importa, sim, que, como nunca, os negócios estão abertos para o olhar "estrangeiro".
Os entusiasmados já o põem nos "top ten" do vestibular anual do campeonato. Mas a faixa dos 11-20 primeiros selecionados do "draft" parece mais provável.
O certo é que, nesta quinta-feira, Mr. Barbosa, o Leandrinho que brilhava em Bauru (SP), será chamado pelo microfone do todo-poderoso David Stern. Um ano após a proeza de Nenê Hilário, outro brasileiro vai jogar na NBA.

Garimpo 1
Red Auerbach, nove vezes campeão pelo Boston nos anos 50/60, foi o primeiro olheiro da NBA. Até então, as equipes, acomodadas, costumavam se reforçar com atletas de sua região. O legendário técnico, por exemplo, cruzou os EUA para arrancar da Califórnia o gigante que se tornaria o mais vitorioso jogador da liga, o pivô Bill Russell.

Garimpo 2
Até 1990, os times da liga no máximo enviavam olheiros para a Olimpíada. Hoje, os 29 têm representantes na Europa, à cata de talentos.

Garimpo 3
Fala-se em 14 "estrangeiros" neste "draft" (2002 registrou o recorde de 17). O pivô sérvio Darko Milicic, 2,13 m, será o segundo escolhido.

E-mail melk@uol.com.br


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