Diante do mesmo adversário que eliminou nas quartas-de-final da Copa-02, técnico de novo empenha a palavra e de novo aposta em um Ronaldo para saciar portugueses na Eurocopa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se chegarmos entre os quatro, o trabalho terá rótulo de bom. Se não chegarmos, os torcedores devem me cobrar por um trabalho mal realizado." Dias antes do início da Eurocopa, o técnico Luiz Felipe Scolari falou assim à Folha.
O treinador brasileiro, portanto, define hoje a sua auto-avaliação à frente da seleção portuguesa, anfitriã da Eurocopa. A Inglaterra do técnico Sven-Göran Eriksson, rival nas quartas-de-final, remete à mesma "promessa de campanha" de Scolari na Copa de 2002, quando levou o Brasil ao penta.
Antes do Mundial, ele prometera conduzir o Brasil às semifinais. Teve seu "jogo da vida" contra os ingleses nas quartas-de-final e venceu: 2 a 1. Acabou campeão. Dois anos depois, a Inglaterra é de novo o divisor de águas de Felipão em um torneio de grande porte.
Os ingleses caíram em 2002 com um histórico gol de Ronaldinho. E, curiosamente, uma das apostas de Scolari na Euro é um Ronaldo -o atacante de 19 anos do Manchester United que saiu da reserva para encantar o time com dribles.
Mas o treinador acena com novidades mesmo após o 1 a 0 na Espanha que garantiu a vaga nos mata-matas -o jogo de hoje abre a nova fase (um empate leva à prorrogação com "gol de prata").
"Devemos mudar o posicionamento de um ou outro atleta para termos um equilíbrio defensivo e do meio-campo. E pode haver outra mudança. Vamos jogar de acordo com as características da Inglaterra", disse Scolari, que elogiou o conhecido rival. "Eles evoluíram muito e estão mais fortes do que na Copa. O futebol inglês mudou nos últimos cinco anos. Eriksson faz excelente trabalho."
A Inglaterra não vence Portugal em jogos oficiais desde a Copa de 1966, quando conquistou em casa o título. Na Eurocopa passada, Portugal derrotou o seu adversário de hoje por 3 a 2, de virada.
Agora, mesmo jogando como visitantes, os ingleses prometem mandar na partida em Lisboa contra a renovada seleção lusa.
A disputa começa fora de campo. Além de os hooligans preocuparem a organização, os torcedores ingleses abocanharam grande parte dos ingressos e podem ser maioria no estádio da Luz.
Scolari tem convocado a torcida local nas horas que antecedem o jogo. "Queremos ter 70% do estádio. Sei que a vibração nos dará força do hino ao apito final e nos ajudará a conseguir a vitória."
A imprensa inglesa está deslumbrada com Wayne Rooney, que fez quatro gols nos dois últimos jogos. Alguns jornais britânicos o compararam a Pelé. "Nem em mil anos farão outro igual a Pelé. Nem em computador. O Rooney está em alta, mas não joga sozinho", disse Scolari, defendendo o conterrâneo de quem já foi desafeto.
A Inglaterra joga completa e otimista. Beckham fala que seu time é favorito. "Sou suspeito, mas temos que estar confiantes. Aprendemos com as experiências que tivemos em competições anteriores. E perder para o Brasil [de Scolari] foi a maior lição de todas."