São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Clóvis Rossi

A cereja e a Copa

CHEGA de comemoração. É hora de falar também dos defeitos que a seleção brasileira ainda apresentou. Primeiro, a defesa. Falha desde a primeira partida. Não é normal que Dida seja dos melhores do time, quando o Brasil enfrenta seleções da mediocridade de Croácia e Austrália. Os sustos que a zaga Lúcio-Juan, mais Lúcio que Juan, proporciona ao torcedor são em quantidade muito superior ao aceitável. Nem se trata de más atuações individuais, mas de falhas de marcação, de posição. Segundo problema: a falta de jogo coletivo. Nos dois primeiros jogos, a ausência foi quase total. Anteontem, melhorou, mas menos do que se poderia esperar de um grupo de jogadores de alta qualidade. Jogadas trabalhadas até apareceram contra o Japão, mas de forma espasmódica. A regra básica foi a solução individual (nos gols de Juninho Pernambucano e Gilberto, por exemplo). Ou ações que envolveram só dois jogadores (o quarto gol, obra conjunta de Juan e Ronaldo). Pode até se dar o desconto de que os jogadores que atuaram contra o Japão jamais haviam treinado todos juntos. Desnecessário dizer que jogo coletivo é fruto de conhecimento entre os jogadores, repetição (da escalação e das jogadas), portanto treino. O resto vem do talento individual, que não se treina porque ou se tem ou não se tem (e, na atual seleção, há um número de jogadores que o tem acima do normal, mesmo para o rico futebol brasileiro). Mas, além da falta de treinamento, creio que há um problema estrutural: os jogadores mais badalados são "donos" de seus times e, portanto, podem jogar à vontade. Na seleção, não há "dono", e dividir espaço, como é próprio do jogo coletivo, não é trivial nessas circunstâncias. Pode até ser que o talento individual supere a falta, até aqui, de jogo coletivo, mesmo porque só a Argentina (pelo futebol) e a Alemanha (mais por ser local e por ser Alemanha) parecem em condições de jogar de igual para igual com o Brasil. Mas um gol como aquele dos argentinos contra Sérvia e Montenegro (24 passes, envolvendo mais de meio time) seria a cereja do bolo. Ou da Copa. E é atrás da cereja que deveria ter vindo o Brasil, porque Copa já tem até de sobra.

crossi@uol.com.br


Texto Anterior: US$ 100 mil
Próximo Texto:

ESPORTE
Armstrong já admitiu doping, diz jornal francês

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.