São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2001

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FUTEBOL

Jairo dos Santos, presente em seis Copas, diz que nunca trabalhou tanto

Com Scolari, seleção volta a valorizar uso de seu espião

FÁBIO VICTOR
SÉRGIO RANGEL


ENVIADOS ESPECIAIS A MANIZALES

Sumido desde a última passagem de Zagallo pelo cargo de técnico, um personagem quase anônimo da história da seleção brasileira voltou à tona com a chegada de Luiz Felipe Scolari.
O espião Jairo dos Santos está na Colômbia com a delegação nacional e diz que nunca trabalhou tanto na vida como durante esta Copa América. Exceto a primeira rodada do Grupo A (Equador 1 x 4 Chile e Colômbia 2 x 0 Venezuela), ele acompanhou, no estádio, todas as partidas da fase inicial, 16 confrontos, e ontem assistiria ainda ao jogo Colômbia x Peru.
"O desgaste é um pouco grande porque estou vendo tudo. Nunca viajei tanto em tão pouco tempo", afirma o espião da seleção, entre cansado e satisfeito.
O excesso de atividade de Santos tem origem na ânsia que o novo treinador da equipe vem demonstrando por informações sobre os adversários da equipe.
Scolari pede ao observador que esmiuce esquemas táticos e segredos dos rivais por intermédio de relatórios, fotografias e videoteipes. "Ele é um treinador que tem muito interesse em planejar as partidas nos detalhes, não quer ser surpreendido de forma alguma. Isso motiva", afirma Santos, que já desempenhou a função em seis Copas, de 1978 a 1998 -na última, dividiu o trabalho com o ex-goleiro Gilmar Rinaldi.
Em troca, o técnico tem feito questão de destacar o trabalho do espião durante entrevistas coletivas e em conversas com colegas, a quem mostra também as fotos tiradas por Santos.
O comportamento chama a atenção porque fazia um bom tempo que não se escutava um treinador da seleção falar sobre Jairo dos Santos.
Quando Wanderley Luxemburgo assumiu, em agosto de 98, informou a CBF que não iria precisar do trabalho do espião e teria uma equipe própria para analisar outras seleções. Santos não é funcionário da entidade -presta serviços só quando é solicitado.
Luxemburgo foi demitido, após 26 meses de gestão, e Leão assumiu, mas pouco trabalhou com o espião (encomendou-lhe relatório sobre o Paraguai para o próximo jogo das eliminatórias), pois caiu em apenas sete meses.
Por causa do desprezo de Luxemburgo por seu trabalho, hoje Santos fala com rancor do atual treinador corintiano. "No tempo dele não havia ninguém interessado em observar os adversários. Talvez tenha sido por isso que a seleção foi tão mal."
Com Scolari, Santos virou uma espécie de multimídia. "Vejo os jogos, fotografo, escrevo relatórios e gravo no vídeo as partidas."
De tudo, as fotos é que têm sido mais destacadas por Scolari. O espião entrega cerca de 80 por partida ao técnico, que faz uma seleção e mostra aos jogadores.
"Com outros treinadores, eu mesmo escolhia as melhores fotos, mas ele [Scolari" faz questão de selecionar", conta Santos.
Munido de uma câmera Canon automática, com uma lente zoom de 200 mm, o observador, que tem livre acesso nos estádios da Copa América, se posiciona "normalmente na parte central" das tribunas, "ou um pouco enviesado", e fotografa o posicionamento tático de adversários e do Brasil.
Por enquanto, as cópias são feitas em papel, porém, segundo o espião da seleção, "a idéia é usar depois slides e computador".
As fotos têm agradado também aos jogadores. "Vi algumas do jogo contra o Peru e notei umas falhas minhas. É um trabalho importante, não só para vermos os adversários, mas também para corrigir nossos erros em campo", afirma o volante Emerson.
Santos leva ao pé da letra a condição de espião e, sob a alegação de que tem de ser discreto, não quis ser fotografado pela Folha.



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