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FUTEBOL
Jairo dos Santos, presente em seis Copas, diz que nunca trabalhou tanto
Com Scolari, seleção volta a valorizar uso de seu espião
FÁBIO VICTOR
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A MANIZALES
Sumido desde a última passagem de Zagallo pelo cargo de técnico, um personagem quase anônimo da história da seleção brasileira voltou à tona com a chegada
de Luiz Felipe Scolari.
O espião Jairo dos Santos está
na Colômbia com a delegação nacional e diz que nunca trabalhou
tanto na vida como durante esta
Copa América. Exceto a primeira
rodada do Grupo A (Equador 1 x
4 Chile e Colômbia 2 x 0 Venezuela), ele acompanhou, no estádio,
todas as partidas da fase inicial, 16
confrontos, e ontem assistiria ainda ao jogo Colômbia x Peru.
"O desgaste é um pouco grande
porque estou vendo tudo. Nunca
viajei tanto em tão pouco tempo",
afirma o espião da seleção, entre
cansado e satisfeito.
O excesso de atividade de Santos tem origem na ânsia que o novo treinador da equipe vem demonstrando por informações sobre os adversários da equipe.
Scolari pede ao observador que
esmiuce esquemas táticos e segredos dos rivais por intermédio de
relatórios, fotografias e videoteipes. "Ele é um treinador que tem
muito interesse em planejar as
partidas nos detalhes, não quer
ser surpreendido de forma alguma. Isso motiva", afirma Santos,
que já desempenhou a função em
seis Copas, de 1978 a 1998 -na última, dividiu o trabalho com o ex-goleiro Gilmar Rinaldi.
Em troca, o técnico tem feito
questão de destacar o trabalho do
espião durante entrevistas coletivas e em conversas com colegas, a
quem mostra também as fotos tiradas por Santos.
O comportamento chama a
atenção porque fazia um bom
tempo que não se escutava um
treinador da seleção falar sobre
Jairo dos Santos.
Quando Wanderley Luxemburgo assumiu, em agosto de 98, informou a CBF que não iria precisar do trabalho do espião e teria
uma equipe própria para analisar
outras seleções. Santos não é funcionário da entidade -presta
serviços só quando é solicitado.
Luxemburgo foi demitido, após
26 meses de gestão, e Leão assumiu, mas pouco trabalhou com o
espião (encomendou-lhe relatório sobre o Paraguai para o próximo jogo das eliminatórias), pois
caiu em apenas sete meses.
Por causa do desprezo de Luxemburgo por seu trabalho, hoje
Santos fala com rancor do atual
treinador corintiano. "No tempo
dele não havia ninguém interessado em observar os adversários.
Talvez tenha sido por isso que a
seleção foi tão mal."
Com Scolari, Santos virou uma
espécie de multimídia. "Vejo os
jogos, fotografo, escrevo relatórios e gravo no vídeo as partidas."
De tudo, as fotos é que têm sido
mais destacadas por Scolari. O espião entrega cerca de 80 por partida ao técnico, que faz uma seleção
e mostra aos jogadores.
"Com outros treinadores, eu
mesmo escolhia as melhores fotos, mas ele [Scolari" faz questão
de selecionar", conta Santos.
Munido de uma câmera Canon
automática, com uma lente zoom
de 200 mm, o observador, que
tem livre acesso nos estádios da
Copa América, se posiciona "normalmente na parte central" das
tribunas, "ou um pouco enviesado", e fotografa o posicionamento
tático de adversários e do Brasil.
Por enquanto, as cópias são feitas em papel, porém, segundo o
espião da seleção, "a idéia é usar
depois slides e computador".
As fotos têm agradado também
aos jogadores. "Vi algumas do jogo contra o Peru e notei umas falhas minhas. É um trabalho importante, não só para vermos os
adversários, mas também para
corrigir nossos erros em campo",
afirma o volante Emerson.
Santos leva ao pé da letra a condição de espião e, sob a alegação
de que tem de ser discreto, não
quis ser fotografado pela Folha.
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