São Paulo, domingo, 24 de julho de 2005

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ADMINISTRAÇÃO

Governo anuncia amanhã leva inicial, que soma um quarto dos beneficiados e quase toda verba reservada

Só 1ª lista consome 94% do Bolsa-Atleta

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
EDUARDO OHATA
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério do Esporte põe em ação amanhã um de seus maiores projetos. Mas só parte dele. E acende sinal de alerta sobre o destino do restante do Bolsa-Atleta.
Quase todo o orçamento previsto em 2004 para a distribuição de benefícios a atletas sem apoio já está comprometida na primeira leva das bolsas, que representam cerca de um quarto do total.
Amanhã, o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, inicia a entrega de "salário" mensal para 300 pessoas de três das quatro categorias previstas pelo programa -internacional, olímpica e estudantil.
Os concorrentes à bolsa de nível nacional, justamente alguns daqueles em situação mais precária, terão de esperar a conclusão da análise dos documentos. Cerca de 10 mil pessoas enviaram papelada e, segundo levantamento da pasta, apenas 20% estava correta.
"Vamos divulgar os que estão prontos. Não fazia sentido ficar segurando o que já estava pronto com tanta gente precisando dessa ajuda agora", justificou Queiroz.
Com as 300 bolsas, já serão usados cerca de R$ 4,7 milhões, pouco menos que os R$ 5 milhões previstos para o programa no orçamento. O valor total da verba do ministério, que deveria ser gasto pela pasta até o fim do ano -R$ 89 milhões-, foi empenhado em ações até o mês de junho.
Apesar de as evidência indicarem que haverá falta de dinheiro, Agnelo mostra-se confiante.
"Não há risco de as outras bolsas não serem entregues. Temos a possibilidade de remanejamento de recursos. E eu vou buscá-los onde for necessário", argumentou o ministro, sem, no entanto, conseguir explicar exatamente como o dinheiro será obtido.
"No ano passado, não tínhamos condições de prever que tanta gente procuraria o programa. Estamos em fase de implementação. Para o ano que vem, o orçamento terá o recurso integral e mais uma porcentagem, porque sabemos que o programa vai crescer."
Quando foi sancionado pelo presidente Lula, o Bolsa-Atleta tinha previsão de distribuir R$ 10 milhões em benefícios. Posteriormente o cenário mudou, e a verba foi diminuída pela metade.
O ministério espera triar ainda mais mil bolsas -os valores mensais variam de R$ 300 (estudantil) a R$ 2.500 (olímpicos).
A categoria nacional, que beneficia os três primeiros colocados dos campeonatos brasileiros ou do ranking, foi a que recebeu o maior número de pedidos, iniciados no mês de janeiro. E com o maior número de equívocos.
Chegaram às mãos dos técnicos do ministério inscrições para crianças de 5 anos, formulários sem o ranqueamento, dentre outros problemas. Cerca de 80% das requisições desencadearam telefonemas e cartas da pasta para os atletas informando sobre as falhas e pedindo documentação correta.
Para alguns, porém, o pedido já é quase uma certeza de aceitação.
É o caso de José Alessandro Baggio, único brasileiro a disputar a marcha atlética nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.
Tanto que ele abriu mão de patrocínio da Caixa Econômica Federal para ganhar as condições necessárias para pleitear a bolsa.
"Com o dinheiro do ministério [R$ 2.500] eu não vou precisar mais deixar minha cidade para competir por clube grande. Vou poder viver do esporte", analisou o marchador de Timbó (SC).
Em dezembro, Baggio, 24, pediu à confederação de atletismo para que suspendesse a ajuda de R$ 600 que recebia do patrocinador. "Meu pai me ajuda. No ano passado, queimei a reserva que eu tinha. Se ganhar a bolsa, vou poder pensar só em treinar."
Outra atleta na mesma situação é Yane Marques, 21. Aposta do pentatlo moderno, ela pediu para deixar de ter R$ 350 de ajuda de custo do governo de Pernambuco e da confederação da modalidade.
Ao lado da Lei Piva, que direciona 2% da verba arrecadada pelas loterias federais ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro, o Bolsa-Atleta é outra fonte de dinheiro aos esportistas de alto rendimento.


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