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Um país que sabe ganhar e que ontem aprendeu a perder
Wolfgang Rattay/Reuters
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Daiane dos Santos pega as sapatilhas depois de completar a seqüência que lhe tirou as chances de medalhar no exercício de solo |
Sem lágrimas, apelos nem lamentos, Daiane surpreende com um 'eu errei' ao se despedir de Atenas sem o pódio que o Brasil julgava certo
ROBERTO DIAS
EDGARD ALVES
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
Não se ouviu reclamação por
falta de estrutura. Não se ouviu reclamação da arbitragem. Não se
ouviu reclamação da sorte.
"Eu errei. É uma coisa que acontece. É esporte, erra-se às vezes",
disse Daiane dos Santos, 21, após
não ter confirmado o favoritismo
no solo da ginástica artística.
Daiane saiu do tablado durante
sua apresentação e acabou em
quinto lugar. Ficou sem medalha
num dia em que o Brasil assegurou pelo menos três pratas, no vôlei de praia e no futebol feminino.
"Não adianta chorar. Não vai
voltar atrás", afirmou a ginasta.
Ela falou que estava nervosa por
se apresentar na Olimpíada. Mas
seu técnico, Oleg Ostapenko,
acredita que nem isso pode ser
considerado. "Não acho que ela
estava nervosa. Aconteceu."
O "não adianta chorar" de Daiane foi quase literal. "Prefiro relaxar sem chorar." Mas Vicélia Florenzano, da Confederação Brasileira de Ginástica, diria depois
que "ela chorou um pouquinho".
Daiane contou que ontem não
enfrentou problema com o joelho
direito, operado em 19 de junho.
"Não foi o joelho. Não estava
doendo. Estava bem segura", disse. A única influência, segundo ela
e o técnico, foi a quebra de ritmo.
Símbolo dos tempos de bonança do esporte olímpico brasileiro
-é beneficiada pelo dinheiro da
Lei Piva e do Solidariedade Olímpica-, Daiane falou em mais
treino, e não em mais patrocínio.
"Não tenho o que dizer a vocês.
Só tenho que treinar mais agora.
Eu queria mais de mim. E já que
eu quero mais de mim mesma,
quero mais de mim mesma no
treino agora. O vencedor é aquele
que, quando perde, luta para um
dia ganhar de novo."
Talvez em busca de clareza, colocou-se no lugar dos jornalistas.
"Você tem que fazer uma reportagem, e chega na hora dá errado.
Vai dizer: "Mas fiz tudo certo". É a
mesma coisa. Treinei, treinei, chegou na hora, por três passinhos,
deu errado."
O quinto lugar é a melhor colocação da história da ginástica brasileira. Daiane comemorou ter
chegado à final.
Também por ter
homologado o
duplo twist esticado. Ao executá-lo nos Jogos, tornou-o parte do
código de notas
da ginástica, no
qual ocupa o valor mais alto e leva o nome de
"Dos Santos", como o carpado.
Feitos obtidos
graças a uma nova realidade do
esporte no país. Que traz medalhas e, prova Daiane, maturidade.
Colaborou Paulo Sampaio,
enviado especial a Atenas
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