São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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Um país que sabe ganhar e que ontem aprendeu a perder

Wolfgang Rattay/Reuters
Daiane dos Santos pega as sapatilhas depois de completar a seqüência que lhe tirou as chances de medalhar no exercício de solo


Sem lágrimas, apelos nem lamentos, Daiane surpreende com um 'eu errei' ao se despedir de Atenas sem o pódio que o Brasil julgava certo

ROBERTO DIAS
EDGARD ALVES
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

Não se ouviu reclamação por falta de estrutura. Não se ouviu reclamação da arbitragem. Não se ouviu reclamação da sorte.
"Eu errei. É uma coisa que acontece. É esporte, erra-se às vezes", disse Daiane dos Santos, 21, após não ter confirmado o favoritismo no solo da ginástica artística.
Daiane saiu do tablado durante sua apresentação e acabou em quinto lugar. Ficou sem medalha num dia em que o Brasil assegurou pelo menos três pratas, no vôlei de praia e no futebol feminino.
"Não adianta chorar. Não vai voltar atrás", afirmou a ginasta. Ela falou que estava nervosa por se apresentar na Olimpíada. Mas seu técnico, Oleg Ostapenko, acredita que nem isso pode ser considerado. "Não acho que ela estava nervosa. Aconteceu."
O "não adianta chorar" de Daiane foi quase literal. "Prefiro relaxar sem chorar." Mas Vicélia Florenzano, da Confederação Brasileira de Ginástica, diria depois que "ela chorou um pouquinho".
Daiane contou que ontem não enfrentou problema com o joelho direito, operado em 19 de junho. "Não foi o joelho. Não estava doendo. Estava bem segura", disse. A única influência, segundo ela e o técnico, foi a quebra de ritmo.
Símbolo dos tempos de bonança do esporte olímpico brasileiro -é beneficiada pelo dinheiro da Lei Piva e do Solidariedade Olímpica-, Daiane falou em mais treino, e não em mais patrocínio.
"Não tenho o que dizer a vocês. Só tenho que treinar mais agora. Eu queria mais de mim. E já que eu quero mais de mim mesma, quero mais de mim mesma no treino agora. O vencedor é aquele que, quando perde, luta para um dia ganhar de novo."
Talvez em busca de clareza, colocou-se no lugar dos jornalistas. "Você tem que fazer uma reportagem, e chega na hora dá errado. Vai dizer: "Mas fiz tudo certo". É a mesma coisa. Treinei, treinei, chegou na hora, por três passinhos, deu errado."
O quinto lugar é a melhor colocação da história da ginástica brasileira. Daiane comemorou ter chegado à final. Também por ter homologado o duplo twist esticado. Ao executá-lo nos Jogos, tornou-o parte do código de notas da ginástica, no qual ocupa o valor mais alto e leva o nome de "Dos Santos", como o carpado.
Feitos obtidos graças a uma nova realidade do esporte no país. Que traz medalhas e, prova Daiane, maturidade.


Colaborou Paulo Sampaio, enviado especial a Atenas


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