São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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Daiane arrisca seu melhor salto e sai do tablado certa da derrota

Campeã mundial e favorita ao ouro, maior ginasta da história do país diz que série da primeira fase lhe daria medalha e que ansiedade causou erro crucial

DOS ENVIADOS A ATENAS

Três passinhos a mais, uma saída do tablado. O sonho do ouro acabou no início da série de Daiane, e ela não teve dúvida sobre isso. "Sabia que eu não ia ganhar de jeito nenhum. Ginasta tem noção. Vi que a série não foi boa."
Daiane errou após dar o salto duplo twist esticado, que ela introduziu na ginástica. É o salto mais complexo de seu repertório. Não o havia utilizado na eliminatória sob o argumento de que carregava risco desnecessário.
Mas, pelo ouro, resolveu tentá-lo na final. "Minha outra série, com que ganhei o Mundial, era muito mais simples e segura do que essa. Podia ter ganho [a Olimpíada com ela]", disse. A apresentação de ontem foi escolha dela e de Ostapenko, e Daiane diz que não há arrependimento.
O erro e a saída do tablado foram no começo. "Perdi 0,30", disse ela. "Estava tão ansiosa para fazer que acabei passando."
A apresentação de Daiane durou um minuto e 27 segundos. A espera pela nota, um minuto e 33 segundos. Quando a decisão dos jurados veio a público, ficou nítida a derrota: 9,375 (o 0,30 a mais do erro a teria levado à prata). A torcida, que vaiaria as notas de duas ginastas que se apresentaram depois, não vaiou a nota de Daiane. Boa parte da torcida era brasileira. "Acho que a nota foi justa", afirmou a ginasta.
Quando desceu do tablado, ouviu de Ostapenko: "Boa menina, muito bom. Só que você precisa treinar mais agora". Depois, Daiane sentou-se para acompanhar o restante da prova. Ostapenko ficou à esquerda e seguiu conversando com ela e gesticulando. À direita, o médico que a operou, Mario Namba, de quem ganhou um abraço no final.
Daiane entrou no tablado às 21h59 (15h59 de Brasília). Séria, olhava para baixo enquanto as ginastas eram apresentadas ao público. Na arquibancada, o velejador Robert Scheidt, que ganhara um ouro na véspera. Vicélia Florenzano, presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, vestia roupa branca, como Daiane.
A brasileira foi a primeira a se apresentar. "A ordem não influenciou não [no resultado]."
Depois dela subiram ao tablado a espanhola Patricia Moreno, que a superou ao tirar 9,487. A seguir foi a vez da chinesa Fei Cheng, que fez 9,412. Depois, a romena Catalina Ponor marcou 9,750 e acabou com a chance de pódio da brasileira, que a definiu da seguinte forma: "Ela é uma menina exata, não erra". Ponor é bolsista do programa Solidariedade Olímpica, assim como Daiane.
A brasileira não viu as apresentações que vieram logo a seguir da sua por estar irritada. Ao final, nas entrevistas, foi interrompida por Vicélia e pelo presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que a abraçaram. "Muito bem", afirmou Vicélia. "Obrigado, tá? Queremos te agradecer", disse Nuzman. (ROBERTO DIAS, EDGARD ALVES E GUILHERME ROSEGUINI)


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